sábado, 21 de fevereiro de 2009

is that you viktor ?



Como de costume àquela hora, predominava o amarelo dos ' yellow cabs ', a multidão absorvia a sinfonia de ' honk's ' que se habituara a ter como parte do cenário auditivo, que seria de Nova Iorque sem aquele bambúrrio de buzinadelas como companhia do formigueiro de gentes que encaixava por entre um caleidoscópio de néon's e cíclicos ' walk, don't walk ' que o agarravam e empurravam no ritmo automático das vinte e quatro horas dos dias que nunca acabavam e que a cada hora recomeçavam vindos do nada? Era assim. Nunca ninguém perguntara porquê, mas todo o mundo sabia que era assim.
Viktor, um mais, vindo de lado nenhum para aquele lado global, Viktor sabia também que era assim. Parado no semáforo que lhe regulava a condução, deixara-se embalar por uma viagem de regresso, onde revia a pacata terra que o vira crescer, sonhar e partir, longe iam os tempos de saltos aventureiros de curta duração, as manchetes que desenhara em escondidos sonhos, longe estava o desempoeirado pacato lugar seu, de avenidas poucas e mesas de café muitas, que tanta vida haviam visto desfolhar por entre insuportáveis tardes de calor, regadas e banhadas por infinitas rodadas de impossível cerveja. Viktor estava ali. Sonhava parado. Acordado até. Não ouvia já buzina alguma, não distinguia verdes ou vermelhos, tolhido e quase esmagado na imensidão daquela maré em fúria, naquele ribombar apocalíptico de coisas, sons, gentes, caras, cores de outro mundo. Olhava parvo seu táxi, a que nem o amarelo via ou reconhecia, balbuciava gagas instruções, falhava as manetes, atrapalhava-se em pedais, negava a desistência, coçava a cabeça ... ' Viktor, vai !! ' .. dizia-lhe uma voz, duas, três até, e ele que sim, que ia, que iria, que quereria ir. E Viktor foi. Devagar, num torpor agoniado, mas foi. Chocou com coisas, chocou consigo, limpou armas, sacudiu o pó, enxugou a vista quando esta se lhe turvou. Mas foi! E começou a escrever !! Sem saber se Viktor existia ...

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

que seca de post!


Completara-se o terceiro dia seguido sem chuva, Raul Diaz perguntava-se a quem tal fenómeno poderia interessar, três dias a seco, gota de água nem vê-la, o facto era que assim rezava seu dia, um calor tórrido por companhia, o mundo algures girando por certo em torno de si mesmo, si mundo, não si Raul, com dilúvios certos aqui e ali, melhor, ali e algures, e ele Raul cavava, não fazia ideia se por necessidade se por distracção, o facto é que cavava, dezassete metros já lá iam, a olho medidos mas nunca menos que dezassete por certo, tantas vezes o meio metro de seus braços acima abaixo, areia na mão, areia longe, o buraco ganhava proporções bíblicas, quanto mais fundo mais escuro, mais longe, mais fresco, mais nada, mais tudo, Raul cavava e cavava, e o sol dançava em sua inclemência, do astro claro, e os dias passavam seguidos em horas que não se tocavam, três já lá iam como vimos, e por ali, lugar deserto de humanas espécies, habitava bicharada fugida ao esculpir divino, eram mais coisas do diabo por certo, tal era seu à vontade naquela frigideira arenosa, dengosa, para quereres perigosa, deus não quereria ter feito aquilo, nem mesmo aquele em que não acreditava, um deus pequenino e vazio sem respostas para as suas mais que humildes súplicas de ser criado à sua imagem, Raul Diaz sentia-se cansado do vazio vindo de todo o lado, por isso cavava, quem sabe se vinte metros já lá iriam, mas a quem poderia isso interessar senão aos mesmos a quem pudera cativar interesse o terceiro seguido sem chuva, dia claro, ou seja nenhuns certamente, e assim veria seu dia acrescentado de um significado envergonhadamente escondido, como tantas vezes vira e aprendera a fazer na sua ida e despachada gente de perto, a quem guardara os cheiros e vozes algazarreadas, e não existindo este termo aqui cabe na mesma, quem disse que existe Raul, Diaz de família, perdido e cavando em sitio que tão bem sabemos e ao mesmo desconhecemos, mesmo o quê perguntar-me-ão .. tempo talvez, como se ele houvesse sem ser parado assim em escavações imaginadas, como pudesse eu saber, apenas porque em relato testemunhei essa falsidade feita gente acabada em buraco ganho a duras penas, repetidas braçadas, num repetido sono de repetida inconsciência de um inventado sul americano que juro em vida nunca ter visto. Mas o facto, inegável, porque assim se nos apresentava Raul, era que se completara um dia mais, sem pingo ou gota de água e o mundo continuava a girar...

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

sorte

Longos e esguios são teus braços
Que nem asas de deuses conseguem
Igualar em majestade
Sequer ficar a metade
De caminho que inventas em traços
E por mais que as estrelas naveguem
Sem lugar é tua cidade
Longa, esguia a saudade
De teus braços ver abraçar
O mundo de deuses e indios homens
E nos dias que inventas, sem lugar
Meu, teu, de viva alma
Em rezas choradas sem calma
Para seres dada em mão de gente
Que não te pisa em dias seus
Não te encontra, como quem sente
Que nas asas dos deuses apenas voas
Nas da gente. esguia te tornas
Sorte
Pobre sorte
De alguns apenas na morte

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

tá morto, acho que tá morto...



A floresta fazia jus ao capricho divino de a desenhar em arabescos do mais puro êxtase, o pôr-do-sol sublimava o absurdo de cores, contrastes e sensações, como num bailado de pinceladas saídas da mão perdida de um génio da tela, de sons por entre o imaginado e o surreal, num povoado de ventos que assobiavam sua liberdade etérea. A coisa era de grandeza e pronto. Ou melhor, ponto, final e parágrafo.
Se de si já não maneirava em grandezas, peneiras e outras que tais, Tota pasmava abismado por tão incomum como eloquente e esmagador cenário, qual bravata de deuses sacados a ficcionadas histórias, em não tão ficcionadas gentes, que nelas faziam viagens de mais difícil relato do que seria de supôr ou imaginar, atendendo ao infinito potencial da humana mente.
A seu lado, numa quietude e silêncio que os da sua espécie haviam aprimorado a níveis de alcance raro, fazendo do aroma a majestade dos traços de seu ser, Bosta contemplava também aquele manjar sensorial que o bosque, conluiado com as diatribes exibicionistas de uma natureza quase perfeita, oferecia a quem nele depositasse e arriscasse seu deleite. Por um daqueles mui terrenos percalços que num estado de semi-hipnose ganha francas possibilidades de se tornar facto consumado, Tota viu sua caminhada presenteada e acrescentada da companhia inesperada de peganhenta substância que, mais que enjoativamente pastosa, trazia um fedor pouco digno de tão indizível cenário, lembremo-nos que até ficções galácticas aqui já se abordaram, trazendo à colação e ao silêncio até aí cumplice um despropositado e sonoro desabafo:
- Foda-se, já pisei merda!
Ainda que sendo verdade, ainda que admitindo a legitimidade de cada um na sua reacção a tão desconcertante como indesejável momento, Tota rebentou naquele momento com toda e qualquer pretensão divina de conjugar em elementos seus um pouco do paraíso que se ocupara a criar, vendo cair por terra qualquer ilusão que um imaginado chilrrear de pássaros pudesse criar naquele apoteótico fim de tarde. Tota, pisando Bosta, não só pisou como fez. Merda claro. Logo ele, badalado elemento de ficções mas das terrenas e diárias, usado e abusado em seu esplendor como poucos, Tota, cognome ganho a duras penas, sacado em briga de sabedorias populares, Tota, o pénis, via cair por terra toda a grandeza e inexpugnabilidade de seu ser.
Na orla da floresta, bandos de anões e fadas saídos de histórias de encantar, mais uma excursão de japoneses de câmera digital em punho, acrescentados de romarias e procissões que ao bosque acorriam em busca da magia de tardes improváveis assim, não desdenhando todo este acaso de improváveis incongruências helicoidais a presença do universal Lelo, alvoroçavam ainda mais o estilhaçado e ex-idílico entardecer, numa troca de ciências certas e dizeres garantidos:
- Está triste..
- Não, está apaixonado... mais me parece apaixonado!
- Que nada, anda em baixo, isso sim... que de baixezas de moral entendo eu.
- Coitado, tão feliz que andava ... e agora, veja-se lá isto, esconde evidências e recalques..
- Aii senhor, atão nã me parece pouco visto pelo doutor, que tem o moço?

Tota, raspada que fôra a excrescência causadora do sonoro e quiçá censurável desabafo, contemplou a orla do bosque, deixou lágrima pelo acabado e ímpar colorido daquele fim de tarde, aquiesceu com a turba em suas sabidas sentenças e disse de si para si ...
- Foda-se, pénis, vê lá por andas.....

sábado, 7 de fevereiro de 2009

longos caminhos

Nos longos caminhos de curvas mil
Em relógios de ponteiros sem tempo
Parado estava o olhar vazio
Porque no silêncio dos dias assim
De bocados e bocados sem bocado
Reza a história e as gentes também
Que não há aviso nem mordomias
Em tais longos caminhos mil
De curvas turvas
E parados olhares
Vazios ponteiros
De dias idos
Sofridos
Perdidos
Em nada escondidos, como não tidos
Os caminhos de curvas mil
Onde se te envergonha a soberba
De bobo de rei em marcha pateta
E nos relógios das horas sem sol
Nos dias das sombras dos pobres
Por onde anda a estrada tua
Vinda da morte do momento
Em que se perdeu em curva perdida
O longo caminho que nunca nasceu
E afinal
Que bonito parecias ser

domingo, 1 de fevereiro de 2009

papinhas e vaselinas ...


Vindo do nada, onde tão bem navega, o Papinha resolveu fazer das suas. Num assomo de birra de escola, armado de um puritanismo que lhe assenta tão bem como um par de cornos no Pai Natal, resolveu indignar-se com mais uma das putas de trapalhadas em que o futebolzinho português se transformou, muito por culpa sua e do bando de rapazinhos bacocos que andaram anos a dar chitos, e quem dá o que tem não merece castigo, mas que esperar dos parolos senão coisinhas suecadas e outras cegadas? E o Papinha ligou para a capital a fim de informar o fleumático presidente de uma agremiação que gosta de utilizar como plasticina, de que na data em que estava agendado um jogo entre as equipazinhas de ambos, não fazia a mínima ideia se iria o clube da província comparecer, a não ser que de imediato acatassem a chantagenzinha de polichinelo e resolvessem o imbróglio que impedia o clube que ele tanto odeia, como abertamente inveja, de jogar nesse mesmo dia. A tal não acontecer, que desculpasse o senhor doutor com ar de menino da mãmã, mas que não sabia se o autocarro vindo da terra chegava à capital. Tudo espremido, a utilidade do telefonema foi a mesma de um sabão clarim no deserto, só mesmo para meter no cú ! Inchado com a deferência papal, ainda que para nada mais servisse que não manter a esperança de futuras atenções e mordomias, o presidente carismo-fleumático anunciou à imprensa, aliás garantiu mesmo, que a haver bambúrrio não era desrespeito ao seu clubezinho, de tal havia sido informado pela via vaticana. De acordo, desrespeito não será... apenas falta de vaselina que um dia mais tarde irá sentir e perceber. Se lá estiver claro, o mais certo será nessa altura ser outro a atender telefonemas e fazer genuflexões.


Eu por mim acho que preferia borrar um pézinho todo até ao pescoço, a ver o meu Benfas fazer parte deste entrudo de menores mentais. E como não sou o Katso e não me arrepiam castigos por abrir a boquinha para falar da merda e outras aberrações, quero mesmo é que esta gentinha vá mamar na pila de um equídeo da guarda nacional. Não há rabo que aguente. Ou melhor, haver há e até sem vaselina... mas isso é cenário que não me puxa.