sábado, 26 de dezembro de 2009

' lá fora a chuva brinca ' .. ou mais um conto de natal

Frio, faz frio, a chuva brinca em reflexos de magia, como de costume dizem, por estes dias de cheiros perfumados e passos apressados, cheira a coisas de menino Jesus, dizem, serão estes os teus cheiros depois das palavras em cruz dos romanos, em romaria de dor e amor ? .. sem olhos no chão em tempos aqueles, cheira hoje e agora a filhozes e coscorões, está frio, esta porra de frio que não respeita a desgraça, esta chuva de merda que molha sem graça, Maria Ida porque olhas em frente, olhar parado, também perdido, a memória como teu nome, ida do corpo, que mãos tão feias Maria, nem mãos são, serão acaso coisa de esconder nesta época ? ... que mal cheiras em teu buraco, espaço e respirar, leva teu corpo para junto de tua alma, que gente apressada que corre, tanto corre e apenas isso, que maçada mais à fuga dos olhares culpados, porque te lembrarias de morrer agora, trambolho e escolho? ... não tem remorsos o velho barbudo que nasce em cada des'alma da turba que corre, em meio ao cheiro do amor vendido e espalhado, anunciado, às pressas comprado e negociado, e jesus esquecido em tuas roupas de ninguém, morreu Maria há muito no mundo dos homens, morreu Maria ali encostada, acabada, em tristeza abandonada , e eu .... que faço aqui, este cabrão de cheiro a perfume caro e de puta, este não acabar de jingle béles, um frio de merda e sem dó, que caralho, jesus, se tanto te rezei, ai se rezei, não devia falar-te assim, mas todos falam bem sabes, até o padre a quem tanto rezei, ai se fala... se fala e usa, estou perdida, acabada assim, neste inferno de inverno, estou fodida de tanto frio, olha as minhas mãos jesus, em sangue morto sem a glória dos pregos na cruz.
E caiu Maria, neste momento a imagem desfoca-se numa câmera lenta e o embate da velha no chão molhado é acompanhado de orgásmicas gotas de chuva a brilhar e ressaltar numa orgia de pixéis acusadores...
Acudam, acudam, ai que está morta, o pelotão de zombies açucarados estaca e opina, mas que merda de terra é esta que nem um desfibrilhadorzinho disponibiliza a velhos assim, tsk tsk, desconsideração suprema em terra de magalhães, já não se pode correr e ignorar descansado, acudam que ela está morta, onde está o inem, nunca está quando é preciso, ainda outro dia uma prima da minha comadre precisou deles e nada, quando demos por falta dela, dez dias depois, já a coitada tinha apodrecido, licença, com licença, deixem passar os homens, sossegue pai natal, a gente já vai, é só este extrazinho de vida e glória, a gente já te volta ao colo, e Maria por ali, cuidando que a iriam salvar e afinal nada, oxigénio apenas, vida coisa nenhuma, mãe, mãezinha, que fazes aqui ? .. ai jesus acode-me, não carece minha senhora, já os bombeiros o fizeram, não são bombeiros saloio, é o inéme, porra de saloios que enchem o ar assim, ai mãe mas quem te mandou sair do carro? .. eu disse-te que era um instante .. puta, minha puta, um dia não é um instante, a vida não é um instante, puta não, mãezinha, não me chames isso, puta sim minha filha, não me chames mãe, e desculpa jesus, não devia falar assim, mas faço o quê, tanto que rezei caralho, tanto mesmo, por natais que te celebrassem, não destes que te estralhaçam, perdoa-me este falar meu, que todos sabemos às escondidas mas que é feio, não faz jus a este perfume e a tanto laço dourado, ou será doirado ? ... perdoa-me menino esquecido, isso juro não fazer, esquecer-te na cruz onde choraste os homens, estes homens, ainda que tão limpos, tão lindinhos que dão nojo.
A velha recupera, a filha leva-a, a turba reorganiza o postal e pede neve, neve, pede sinos e louvaminhas para o barbudo mais querido do mundo, que lindo, que encarnado, que igual ao de todos os centros comerciais do mundo, e cheira a chanel, a coscorões, e maria morreu finalmente, cabrona de velha sininho que nós não somos nem peter nem pan!!
O pano desce, faz frio ainda e lá fora a chuva brinca em reflexos de magia. Como de costume. Dizem!

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

para onde olhas agora ...?

Por onde andavas tu, vento
Quando aprendi a voar ?
A que praia chegavas onda
Quando a maré me levava ?

Que cores tinhas tu, céu
Quando chovia sem parar ?
Em que desenhos rias, sol
Quando deixei de sorrir ?

Por onde andavas mão amiga
Quando se me perdia o olhar ?
Por onde vagueavas Jesus
Quando quis saber-te rezar ?

E em que multidão me perco ?
Em que mundo em turbilhão
De que gentes, deus, me cerco ?
Se nos ventos da solidão
Encontro o sol, a onda e o vento
Perdidos em dias meus
Fugidos no teu olhar
E serão meus olhos teus
Se me ensinares a chorar

Para onde olhas agora, menino Jesus?

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

pássaros de sonho sem lugar

O fim da tarde. Chegara o fim da tarde! Não pelo frio nem pelas cores, não pela ausência de horas quentes e por vezes vazias, como vazias seriam as da noite que ali vinha, com força e aviso, o de sempre, chegara e vira partir, sempre e como sempre, alheia a noite, não por nada disto mas por tudo isto talvez, porque não aprendera nunca Pepetito os segredos das poesias esquecidas? .. e sabia ele chegada a hora, de ter saudade de coisa assim, de passagem sem rumor, de dia e infinito fulgor, em asas quase quebradas, mas de voar sem fim, não como os dias que esbarravam nas noites, não como os sonhos que se perdiam, em momentos sem sabor, mas com fulgor, de espanto achava Pepetito, de encanto lhe parecia e fraquito, para onde o levaria o vento, em bater de asas de gente forte, de quem sabe sua sorte, passarinho de frágil alma, de certeza calma, de quem seu ramo sabia deus ... sem teu adeus, caminho vazio de dias sem fim.... viesse a noite e dissesse, olhasse o vento e o levasse, a ele, logo a ele, de Pepetito a surpresa, de quem sabia a certeza, de não haver pássaros assim ! Chegara o fim da tarde. E voaram os pássaros de sonho sem lugar!

domingo, 22 de novembro de 2009

quando a noite tem outra cor

Fugido à pose de astro-rei, atreveu-se o menino sol a nascer como de costume, impondo seu êxtase de coisa matinal abundante em cheiros e cores do mundo, nas tribos que o haviam sabido guardar, por entre as poeiras das savanas, as lianas de recônditas selvas virgens, os asfaltos arruinados em estradas de ninguém, a quietude dos olhares perdidos nas cidades dos deuses sem deus. Nascido assim, vulgar e repetido, brutal e sem igual, quis o sol ser ele apenas, dando nada mais que a sua indizível e infinda magia de tesouro amado, de mistério venerado, de lugar divino sem lugar algum. Nasceu o sol e começou o dia, um dia mais, de coisas boas sem nome próprio, coisas boas, apenas coisas, de tribo apenas, dos humildes aprendizes das histórias dos anciãos, vividas nele sol as sábias palavras do homem só.
E saltou ao caminho vindo do nada, quiçá vindo do céu ou de mais longe, como se houvesse longe em sonho assim, uma lenda feita menina, de palavras com cores e cheiro, de sussurros cumplices em bocados segredados, em murmúrios de desejo, de sonhos de peito aberto, como se com o sol contasse, na noite visse um sol escondido, a lenda contada e escondida por sitios de santos com nome de Pedro, fossem de norte ao sul, d'este ou oeste, guardassem longe os medos, assim as lendas contavam as fadas.
E nascido assim o sol, deixou-se embalar e rumou à noite, e assim vividos os dias, assim acreditados os caminhos, pode ele menino saber, que diferentes são os momentos quando a noite tem outra cor!

sábado, 14 de novembro de 2009

e se parássemos ?

E reza a história como segue

Se a vestissem a ela como lenda
E nas palavras contadas vivesse

Porque em sonho de ser grande
Andando os homens atarefados
Rogando a vida em tal vertigem
Áquela deusa do relógio sem tempo
Sem brilho nos olhos, os sorrisos
Sem nada guardado, assim o vazio mande
E lugares perdidos, ao esquecimento atirados
Mentira fosse o caminho selvagem
O homem parasse e a lenda no vento
Soubesse guardar, em sonhos precisos

Unindo em sonhos, seu tempo de criança
Mandando os deuses gritar nossa esperança

Porque aos deuses rezou a história das gentes
O caminho aprendido em tempo de medos
Uma, duas, mil foram as vezes
Caminhando o homem que queria ser história
O sorriso perdido à procura do tempo

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

trilha

Trilha secreta, de deuses guardados
Rezava sina de um menino perdido
E infinitos os segredos desvendados
Acabados em dias de vazio sentido
E porque escondidos estavam e ávido abraçavam, os deuses vestidos em palavras indecifráveis
Sem secreta chave de corpo e alma
Sem corpo com calma, nem dias sem sangue, e na dor, nos gritos de bocados pois inomináveis
Em tardes apertando mão e palma
Querendo-te apenas, e tão somente
Trilha secreta, de deuses guardada
Escondida
E de deuses guardados
Dos nomes aprendidos em palavras que dizem coisas
Ensinam pouco
Servem de nada
Em segredos infinitos
Em vida ida, chorada e vivida, chorada mal querida
Na trilha fácil do deus ninguém

Sabias menina ninguém, menina de Tryzna, que as velas ardem, até ao fim, como nos disse Sandor?

sábado, 10 de outubro de 2009

pepetito

Da janela, da velha e eterna janela, Pepetito mirava a lonjura do céu e a calma das coisas, nele e por elas aprendera o caminho secreto para o tesouro das coisas escondidas, quietas e sentidas, sem mais que a simplicidade de existir em comunhão. Pepetito nunca o iria esquecer, aquele lugar onde saboreara pela primeira vez a beleza sem fim de uma esquecida erva daninha, o tamanho gigante do olhar num animal sem dono, o calor guardado na terra pisada, as palavras aprendidas feitas coisas no seu coração de rapaz simples, de ignorante das letras que não das iras e recompensas divinas, seus eram os horizontes pintados por Ele, as noites de ninguém para ninguém, de estrelas no céu que o frio apartavam em sonhos de paixões cantadas. Pepetito não sabia disso nada, sentia apenas tudo, como se a liberdade do grito em dia de nascença não se lhe tivesse apagado nunca, seu nome a guerreiro fosse homenagem e aos generais de certezas sábias representasse aviso. Pepetito iria conhecê-los, ai sim, iria sim, generais de vida encontrada, de ciência fraca, esmagada e sabida em terra de gentes vazias e por isso, talvez apenas graças a isso, não esquecera nunca aquela janela, a textura daquela parede quente em que se descobrira, encostando-se, tão somente se encostando, quatro anitos terias Petitozito ?.. isso, .. serias coisa de pequeno tamanho, e um mundo pela frente, tão cheio de perdidos trânsfugas, de amor acobardados, de estupidez completos e repletos, tão longe da mesma janela que era a deles, que era a do mundo envolto na simplicidade das manhãs, no cheiro eterno que não morre em vida tua, acabada ainda que esteja, mas com ela sempre e para sempre, o fácil caminho de entender sem letras a força selvagem de teu grito por deus de todos. Amaste aquele lugar Pepetito ... esse é teu lugar pois então... dizia de si para si em lugar de pouco segredo, e que vivam sem viver os amedrontados das idas certezas, da fraca frente que às vagas de fácil cama fizeram, por eles chorará a turba certa que a todos deus garante, a eles não aqueceu a textura, a eles assustou a enormidade de simplesmente se ser.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

celeste de manuel, maria dos dias de inverno!

Os pássaros de Outubro partiam, o cheiro a maresia voltava em seu charme de pouco sol, Manel voltava a pisar o gasto caminho de seus dias de pesca e solidão, o mar feito sua vida e memória, os gritos da criançada agora perdidos por escolas cinzentas que não lembrava já, apenas os baldios percorridos em quentura de mão de Celeste, velha Celeste da sua familia de Deus que não a dos homens, que bem caberias aqui, estas rochas são teus caminhos de mãe emprestada, aqui voaria teu avental de mulher eterna, sabes Celeste que não morrem os cheiros, sabes mulher que aqui te oiço em prantos de noites caladas, de tuas noites caladas de amor emprestado em cara de gente da cidade? ... e os pássaros Celeste .. os pássaros que voam sem parar porque não esquecem seus caminhos, e os peixes, peixes de uma vida minha, perdi a conta aos que conheci ... e as rochas, tanto mar ali batido, tanto amor ali esquecido ... amo Outubro Celeste, e seus dias de frio sem lugar no coração... aprendi a amar sim .... e apenas seguindo tuas palavras!
Ida, da vida desaparecida e despedida, com missa e rito de terra, há tanto mesmo que ninguém ousava recordar, a velha governanta não perdera nunca os olhos de seu menino, amava-lhe com saudade as mãos desajeitadas para a escrita, por ora velhas e retorcidas por uma inclemente vida de água e sal ... e lá do alto, do alto por onde voavam os pássaros de Outubro, aconchegava-lhe as noites, ajeitava a manta protectora de invernos sós e de ninguém mais ... e recordava como um dia entrara em sua vida o mais improvável amor ... Como os pássaros que ensinara a observar, Celeste não perdera seu rumo nunca, não esquecera pois a hora, em que a vida a fôra buscar...!

terça-feira, 29 de setembro de 2009

no more pax....


.. e um dia chegamos ao aeroporto e... deparamos com a última chegada, o último perdiem, o último night-stop .. o último isto e aquilo. De uma pessoa com quem aprendemos a rir, a sorrir, a crescer.
Johnny ... goza bem e ri-te ... nunca mais te ligam das escalas. E pendura-te quando quiseres ir matar saudades disto e daquilo.
OBRIGADO !!!!

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

scorpio

O dia acabara de começar. No deserto nada de novo, nem a este nem a oeste, aliás como se disse, o dia acabara de começar e isso, até ver, era coisa de costume. No deserto, as pedras tinham por companhia cactos e calor, vazios e paisagens sem fim. Nada de novo portanto. Nem as histórias cantadas na noite trazida nos cachimbos dos beduínos. Noites frias diga-se. Como sói no deserto a desoras. Beduinos e noites frias. E tudo tão igual, assim a modos de ninguém surpreender. Tudo tão igual. Inacreditávelmente igual, quase estúpidamente igual. O escorpião espreitou as recônditas sombras que por ali constituiam coisa de assombro. Não eram dali, não seriam dali. E afinal eram. As sombras de sempre sem nada de novo. Que lhe interessava a ele, digno e pedipalpo, que assim fosse? O dia apenas acabara de começar. E isso, no deserto, era coisa de esperar !!! Como o frio. Da noite ....

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Sem Maria, sem Manuel

Maria seguia veloz, seguia quiçá perdida, seguia e seguia, como se a certeza dos dias não lhe trouxesse mentira ou hesitação, olhando sua meninice como coisa lá longe e sem memória, Maria era mulher e escolhia vestidos para as ocasiões, tantas e outras, povoadas de seres que nunca lhe adormeceram as noites de histórias agora tão longe, no tempo e na vontade, em coração de teima em guerrear.
Eram diferentes as noites de Maria. Repletas de gentes e de vazios, em músicas de psicadélicas fantasias, de liberdades certas, de fugas para lado algum, Maria era Maria e isso era coisa de deus. E Maria entendia os deuses, com eles brincava o jogo das auroras, dos destinos de rumo e mistério, com a certeza, com a beleza, de quem nada teme por nada querer.
Manuel, bem Manuel não existia. Não ali em mundo de Maria, não em lado outro de pés na terra, Manuel era fantasia, a fantasia, dos dias não nascidos em religião nunca rezada. E os dias em seu desfilar traziam e levavam as mãos, de Maria e Manuel, numa dança futurista de deuses de neón, na louca correria dos dias sem começo nem fim. Por isso, talvez por isso ou apenas por tal, Maria e Manuel desceram à terra e dividiram os medos sonhados, o nada perdido em caminhos de lendas e vidas suas. E tomaram um café, presentes e ausentes como só os destinados à verdade das coisas de nada podem fazer.
Adeus, disseram à saída. Foi bom ver-te por aqui.....

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

flor k de sítio algum

Flor K nascera rebelde, com as mãos livres dos guerrilheiros da esperança, com a vontade dos caminhos sem margem, os cabelos soltos que voavam sem fim. Flor K nascera assim e em espaço curto de dias, parco de gentes, louco em suas tardes de infindas horas e calor parado. Era Flor por vontade de assim lhe chamar a velha avó... o ' K ' viera numa rebeldia de Verão em que resolvera tatuar a alma com o fogo das vontades gritadas de quem se apertava em terra pequena. Flor vira-se nascer em Ponte Ida, terra de vagar, festas e tradições, e desde sempre e por tal amaldiçoara os deuses de domingo que em família recebia ajoelhada, o mesmo domingo que em dia de dilúvio e medos de aldeia a viu partir, verdade Flor partiu, chorou a terra e sua avó ... partiu sem palavra de adeus, foi e pronto, chegou menina ' K ' à cidade grande das luzes e sons da noite, das loucuras corridas em dias de não viver, e esmagada se sentiu em caleidoscópio de vontades de braços mil, vontades de vontade sem fim, de sonhos sem tamanho, de pessoas sem cheiro nem cor.
Flor K despediu-se então dos dias que fizera voar, chorou calada saudades da quentura de palavras e cozinhados que sabia perdidos, morrera-lhe a avó em amargura de perda de menina de vida, Flor quis gritar o amor guardado, fazê-lo voar ao céu das coisas guardadas, quis voltar ao lugar dos passos caminhados em dias de sol.... quis mostrar à cidade o tamanho sem fim das coisas pequenas, de vilas poucas, das roupas de cor de um escuro sempre igual e das missas de tanta gente.
Flor K sentou-se e chorou. Parada, que não perdida, sem medos dos dias de ontem e de amanhã. E às pessoas vindas do nada, querendo nada, perguntou o caminho onde se dizem os adeuses.

tem 14 anos e escreve! assim:

http://migaspais.blogspot.com/2009/09/bola-branca.html

domingo, 13 de setembro de 2009

vista da varanda de um quarto


Desajeitados teus troncos
De árvore sem ramos
E de folhas perdidas
Fingidas janelas
Que não voam ao vento

Que em caos de papel
Reza a fábula do deus louco
Que esqueceu um dia
Por um dia
Quem era, que nome tinha

E nasceste tu cidade
Selva de cheiro nenhum
De sol nenhum
De bicho algum
De almas vazia e esquecida

E tu homem, aqui és bicho
E tu bicho aqui és homem
E a vida tua não queres
A loucura preferes
De viver sem nada teres

Por onde andas cheiro da selva
Por onde voam os pássaros
E rugem as feras ?
Aqui mortos no asfalto
Sem a água dos rios
Mascarados de gente
Da morte com pressa

sábado, 5 de setembro de 2009

toc toc toc

De repetido que eras
Teu som, de sempre
Sem toque de gente
De som apenas
Oco
Quase sem toque
Teu toc toc toc
Como se sem parte
Em letras de Sartre
Visse meu norte
Em oco toque
Vindo do nada

terça-feira, 1 de setembro de 2009

hoje apetece-me falar de BENFIQUISMO !!!


"...heróis fomos todos os que, no campo ou fora dele, trabalharam em prol do clube, em situações difíceis tantas vezes, fazendo chegar o nome do Benfica e de Portugal aos quatro cantos do Mundo..."


Eusébio da Silva Ferreira


Podemos ler de entrada, ao som do nosso hino ' Ser Benfiquista ', as palavras do Rei Eusébio que sintetizam tudo aquilo que TODOS podemos e DEVEMOS dar ao nosso Sport Lisboa e Benfica. Estando lá, SEMPRE, com o Benfica na mente e no coração. Dando tudo e sempre ao Clube. Pedindo apenas em troca que ele mantenha a GRANDEZA que o torna inigualável.


Navego na net, em busca de coisas escritas acerca do mundo do Benfiquismo e dou de caras com este site ... http://www.slbcamisolasoriginais.com/


Passeio com vagar por lá e ... arrepio-me!! Com a história ali descrita e VIVIDA, com dados rigorosos e imagens de sonho de toda uma vida minha. E vejo uma colecção de Camisolas Originais, de Mantos Sagrados utilizados em campo, em momentos épicos e de história. E agradeço a quem devotou o seu tempo a guardar um imparável conjunto de Mantos, a quem nos traz com rigor a história que marca as nossas vidas. O site é um espanto, coisa a não perder.

Acredito que tamanha colecção tenha obrigado a uma dedicação de muitos anos.

Espero que perante a sua enormidade, o Clube entenda que vale a pena vê-la como um Museu do ' suor e lágrimas ' que os nossos jogadores deixaram em campo para alimentar a nossa grandeza.
Contribuí um dia para a aumentar. Tinha uma camisola utilizada por um jogador, que me fôra oferecida no final de um jogo. Era a do João Pinto, a quem ainda hoje estou grato pelo muito que deu ao Benfica enquanto o serviu. Guardava religiosamente essa Camisola, religiosamente mesmo acreditem. Perante a possibilidade de lhe dar a vida que merecia, ofereci-a para esta colecção. Nunca me arrependi, a camisola foi para uma casa que a merece e trata bem entre iguais. Com um lugar na história.

Sei que ainda por lá não existe o Manto Sagrado mais Sagrado. A camisola do Rei ... cujas palavras abrem aquele site. Talvez um dia o Rei resolva isso. Saiba ele entender que talvez não haja lugar mais natural para guardar um Manto seu que este genuíno Museu ...
Não percam uma visita ao site. Vale a pena. é BENFIQUISMO !!!

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

dias assim ....

E a vida continuava, assim sem nada e assim com tudo, com a secura de ideias, com caminhos que pareciam sempre iguais. E naqueles dias, sendo os dias afinal tão iguais e distantes de todos os outros onde tudo o que acontecia trazia cheiro e cor de aventura, naqueles dias as pessoas paravam e com as mãos nos bolsos não liam. Porque nada se escrevia. De novo. Naqueles dias !

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Mitó.....

Por vezes o vento sopra em seu jeito de coisa de deus. Deve ser assim, tem de ser assim, pois esse vento não tem o som que aprendemos nos contos nem faz dançar as folhas das árvores, é apenas o vento feito coisa livre e vem somente buscar-nos e levar-nos de volta ao encanto dos dias em que ao sol aprendemos os nomes. Os nomes das coisas e os nomes das gentes que deixamos ser nossas, que queremos guardadas em cantinho nosso.
Quando o vento de repente nos parece chorar, olhamos para dentro de nós e entendemos como podemos voar com ele. Como voam os pássaros e os sonhos sem fim que nos atrevemos em pequenos.. e todos olhamos o Céu. E sabemos que lá voltarão os dias em que fomos, em que soubémos ser uns dos outros, em que ousámos rir e ter medos.

Até um vôo de novo a teu lado, passarinho que me inventaste o nome de Mingos ... agora que de novo me deste o sabor de nossos choros e risos de meninos..

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

an alien for president ....

... ou como um vulgar putanheirito se deixa enganar nos saldos !!!

Leio numa entrevista, quer dizer, numa surreal conversa entre um jornalista e um ' alien presidente ' a seguinte pérola:

' ... O meu trabalho era tentar arranjar mais dinheiro, mas não consegui. Não cumpri o meu trabalho, por falta de, entre outras coisas, tempo. Mas este caminho, o nosso caminho, também é sustentável.'

F.......-se ! Ainda bem que o caminho, também sustentável, é deles. Cruzes credo, vade retro satanás. O actual senhor, dono e mentor à distância, do clube com esta sustentabilidade evaporada, o papa das habituais ironias deve ter hesitado entre o riso incontido e alarve ( característica da pessoinha ) perante tamanha exibição de amador harakiri do falido sem anéis, e a preocupação por entender que a agremiação que arrebanhou em saldo calha ser ainda mais ridícula e inócua que uma outra que havia já metido ao bolso numa barganha que apenas lhe exige um raminho de flores anual na campa de um ídolo desaparecido.

Repito: F........-se ! E ainda há, depois disto, quem questione a lucidez de se ser Benfiquista ???????????????

ps: abstenho-me de pôr outros nomes aos bois que são bois apenas, tal é o tamanho da cornadura e a facilidade da sua identificação !!!

sexta-feira, 17 de julho de 2009

uma palanca que não era palanca !

Zu era uma palanca. Que não nascera palanca, mas sim pássaro de cidade sem asas. Por isso Zu voava escondida, com o vento quente que aquece as alvoradas, vagueando com trote selvagem em selva sem árvores. E assim Zu respirava os dias que sonhava escondidos em seu olhar, coisa negra vestida de beleza e mistério, deixados em lado nenhum, num tempo de horas esquecidas e trazidas de longe, muito longe, da terra com meninos índios que guardam os anciãos de sua tribo. Zu era então palanca índia, com olhos de deusa inca. E Zu, que sendo palanca sabia sonhar, sonhava assim ...

Por onde me trazes noite quente
Onde ficaste, pássaro de cidade?
E serei palanca eu, sendo gente?
E as noites de esquecida vontade
Porque não se caminha duas vezes
O vôo livre dos pássaros palanca
E ainda que da ida tribo viesses
Eras vento, quente, apenas vento

E ficou Zu, a palanca da tribo dos meninos índios, cuidando da vida em terra sua e de ninguém, trotando, voando e olhando, estranhando o vento que lhe negociava miragens. De cidade !

terça-feira, 30 de junho de 2009

esquina de vida ou gente que nunca morre..



A chuva caía simples naquela esquina com a mesma geometria de outra qualquer em canto do mundo ao acaso, onde a geografia da cidade cruzava a Walker St com a Broadway Ave, se escutavam os ecos de passos apressados por entre os vendedores da magia comercial e oriental de Canal St, os reflexos dos pingos de água escorriam e dançavam em um neón mais, uma cor mais, um bocado mais de vida, gente e chamamentos. A cidade vivia e oferecia o que tinha e o que se sonhava querer, abrigo de gente ninguém deitada e escondida por entre cartões caixa forte que tapavam o frio e escondiam derrotas e desesperos, desistências e esperas de nada, abrigo de sonhos e deslumbres, de correrias e derrocadas das almas em fuga, perdidas de braços abertos em busca de um momento, do seu momento, do seu lugar. Ali. Onde chovia simplesmente e se escondia a vida feita em recato.
Lucia, a impossível e idosa Lucia, surda de sempre e pacóvia de cultura, vinda arrastada por descendente recém glorificado na terra de todos e ninguém, Lucia arriscara a saída do casulo emigrante e aventurara-se aos céus em busca do deus do significado. Naquele lugar, onde chovia como já sabemos, onde corriam sem parar os seus iguais impossíveis, molhada mas não acabada, Lucia entrou e sentou-se. E sentou a sua surdez e o peso dos seus noventa e três anos, deixou que o aroma a café lhe invadisse o corpo e alma numa violência de prazer, viajou ao passado fantasma dos cafés na cozinha de um casebre de pedra que a viu nascer e lhe deu uma avó que a criou. Olhou ao lado onde um copo meio cheio de um café que não esfria aguardava o regresso à vida. Lucia assim fez, pegou-lhe e fez vida sua e começou a olhar o mundo de vidas e corpos e olhares que desprendiam quietudes e despreocupações, arrelias, quereres, desistências ou fantasias. Lucia não viu olhares mortos nem parados. Nem mesmo os que estavam mortos e parados. Viu-se apenas a si em todos os cantos e mesas onde se bebia café. Lucia estava apaixonada.
Os cabelos eram longos, os óculos redondos, o olhar longínquo parecia preso num eterno Woodstock onde se gritara a liberdade, se amara livre e por entre as flores, as mesmas flores que cresciam escondidas em campos de morte e guerra, as flores que ali vestiam a inocência de todas as inconsciências. O telemóvel, utilizado por entre consultas a um computador portátil e uma secção de publicidade do New York Times, parecia deslocado como as flores na guerra. Lucia olhava-o mas não lhe sabia o nome, sabia-lhe sim o cheiro e olhar, parado numa viagem, imaginava-lhe um lugar no mundo, vestia-o de pessoa que não acaba, antes se transveste e transveste até à viagem final.
Mark, o cabeludo e ossudo companheiro de café de Lucia, olhou-a e guardou-a, reconheceu um brilho de anos escondido em olhos de sabedoria anciã. Não quis saber quem era e dedicou-lhe um momento seu, sorvendo um gole de café, bebendo ali Lucia para todo o sempre que o esperava em cada dia.
Na mesa mais afastada, duas mulheres intervalavam acalorada conversa, coisas de cifras e negócios, com olhares cúmplices de quem se deseja, de quem anseia o fim do reboliço do dia para se amar no reboliço na noite. As mãos vaguevam por entre o teclado impessoal e toques pessoais, quentes e ternos, os risos calmos, sorrisos lânguidos, jeitos e trejeitos feitos em roçares tão inocentes quanto nada escondidos, transformavam aquele recanto num mundo àparte dentro daquele mundo àparte. Lucia olhou-as e imaginou-as, despiu-as e levou-as a nadar no rio da sua infância, bailou com elas nos bailes da aldeia até estar exausta e adormecer nos braços e peito da mais alta, sentiu um arrepio que julgava morto há muito, ajeitou os óculos e sorveu um gole de vida e café morno.
Lyssa e Marie, as duas amantes e parceiras de negócio, olharam num repente e em surpresa o perfil da improvável figura lá longe, imaginaram-se assim desfeitas em rugas e em silêncio se perguntaram se ainda se amariam quando os corpos fugissem ao desejo. O olhar vivo de quem nunca soube o que era ouvir, retornou-lhes um misto de prazer e compaixão. Sem confessar, ambas se banharam nos idos rios e tempos daquela desconhecida e lhe imaginaram um pudor e recato que as deixou sem ar e sem palavras. Lyssa e Marie acabaram a reunião, olharam o velho hippie que por ali navegava na internet e quedaram-se no silêncio que enchia os corações. Lucia, bem Lucia sentiu-se mais gente.
Ao lado, perto tão perto que lhes podia sentir a alma e o aroma, Julia satisfazia a extravagância de Pepe, seu quinto ou sexto filho, já nem sabia precisar, e gastava o impossível num frapuccino de caramelo, numa orgia de preço e tamanho. Nos minutos ali inventados, em sitio de mundo onde julgavam não caber, o par recebeu a sombra de Lucia como quem se revê no passado e sonha com futuros de vida, trocaram olhares de quem nasceu onde as janelas não tapam o sol nem o frio das vidas ou dos invernos, beijaram-se num respeito de filhos de deus, esquecidos mas nunca perdidos, sorriram à beleza daquele mundo onde a vida ouvia a vida, Julia não se sentiu triste por sua eterna surdez, Lucia respondeu-lhe com a força de todos os corações de mãe, com os lábios sorridentes de quem vivia na paz do mundo sem palavras. Lucia sentiu-se gente de novo. E apaixonou-se por aquele lugar.
À saída, de volta à esquina que recebia a chuva simples, rabiscou em seus parcos recursos de escrita as letras daquela casa.
Haveria de voltar, Lúcia haveria de voltar a um Starbucks...

quarta-feira, 24 de junho de 2009

esquina de pôr do sol !

O sol caía rápido, fugindo ao mundo confuso da cidade, olhado em sua cor de retirada, suspirado na partida, abençoado em sua viagem que o levava às montanhas da solidão, onde se escondia em mistérios de vida sem gente, onde trocava com a poesia das estrelas a grandeza simples das coisa de deus. O sol partia pois sem dizer adeus, porque se sabia de volta cedo e sempre, como se acreditasse nas mãos e nos olhos do bicho não animal, a quem aquecia e inspirava em pôres e nasceres, a quem mostrava o tamanho pequeno dos gigantes feitos de nada, em mistérios de vida nascida em morte negada, o tamanho gigante de corpos pequenos e almas sem fim.
Na esquina de sempre onde conheciam os começos da noite, abalados por uma jornada mais em explorados corpos e trabalhos, Mamadu voava no sol até à árida terra que era sua e de gente anciã, Javier atravessava os oceanos de saudade e voltava a dançar na berraria das cores quentes de um bairro pobre e de pó, Dimitri abria as janelas de neve e frio carregadas de liberdade em olhos de crianças livres em estepes sem fim e sem liberdades amarradas, Ziang reencontrava o vento dançado em artes milenares de mundos de homem e artes de guerra em gestos esculpida.
Na esquina de todos os dias, de todos os mundos, olhares e palavras aprendidas e repetidas prometiam encontro para o amanhã que o sol traria.
No dia seguinte o sol não nasceu e deixou as vidas viverem-se, foi testemunha em todos os lugares que um dia aquela esquina existiu. E os homens não se esqueceram de o voltar a ser...

sexta-feira, 12 de junho de 2009

akunissemol ....



... prolifera neste canto de bois mansos, chicos espertos, que convivem bem com o cheiro a merda e cachuchos de labrego em dedos gordurosos. E de tanto verem repetir a miséria e a bosta como algo normal, a populaça sem sítio para fugir, que os espanhóis não nos querem por lá, ajeita o nó da gravata e manda a Marinha seguir...

Como diria o poeta:

Que vergonha, que entrudo
Fraco o povo desta conice
Toda ela assim tão mole
Com o forte, podre cheiro
E em que tanto vale tudo
Em que tudo é uma chatice
E a fruta à puta cole
E no café o leite inteiro
De conice agora forte
Que no colo sentar se foi
No do manso
Do manso boi
Onde vale mesmo
Todo o entrudo

ps: CR7 REBEEEEEEEENTA com a transferência para o Real Madrid. De um gigante - MU - para outro - RM !!
Se jogasse por cá, era absorvido por frutinhas e cafés com leite! É disso que o nosso povo gosta.
CU...linárias !!!

terça-feira, 2 de junho de 2009

where are you ....

...gonna sleep tonight ?

And you singing the song thinking this is the life
And you wake up in the morning and your head feels twice the size
where you gonna go, where you gonna go, where you gonna sleep tonight?




... a small tour around Redjan .... who is Red after all ...? do we really can say there is one ...? do we really have the chance to get to know this ' another one among a billion ' ?

... e dormimos por vezes de volta ao porto seguro de um colo de criança, por entre as correrias num dia em NY, os braços de um amigo, o sorriso de um dia, os momentos sós em tanta vida dividida, os segredos guardados em noites adormecidas, o coração gigante do tamanho da vida nos olhos de alguém que nos faz chorar e viver feliz só por estar lá ... coisas com nome de Miguel e Francisco, e mais os momentos de estar e rir e dividir com caras do mundo, e sorrindo damos, num abraço recebemos e aterramos de novo em NY, porque ali há um bocado de vida e devia ser obrigatório o mundo ir lá, e lá ver-se a si, e lá ver o mundo ... e regressamos a uma praia, ao ido tempo de canções e segredos de embalar, por onde voavam passarinhos dourados, que legado Bee, que legado, e noutros momentos brincamos num tempo de escola que nunca soubémos amar como a saudade que nos traz um olhar, um grito adolescente, grito de gente que somos.... como se o Red fosse e desse e soubesse, será Red um espaço apenas? ... como uma NY sempre lá, e que encanto tem esta cidade, a vida, o tempo, o cheiro a vida num abraço e sorriso de amigos... quanto tempo dura o sonho... quanto tempo sabemos guardar nos bocados inesquecíveis que os outros nos souberam arrancar e levar para si, mas que pergunta, mas porque se esquece que acordar vale a pena, se esquece que ser e olhar para dentro de tanto sítio e lugar significa algo mais que dias que passam?

Wonder if there is a Red ....

E onde iremos dormir esta noite ?

quarta-feira, 27 de maio de 2009

afã

Triste, perdida em teu afã
Onde te esqueces
Que será sombrio o amanhã
Onde não te aqueces
E esquecida a vontade sã
Como nada quisesses
Perdida cedo pela manhã
Em tuas preces
E em vida vazia e vã
Por mais que desses
E em vida anã
Nada tivesses

E que fossem os medos o caminho, viessem as lágrimas no destino, fossem de frio os ventos da tarde, seguisse a alma livre e esquecida em corpo incerto, mas trouxessem os dias desalinho, diluissem o desatino, que coisa nada e meio cobarde, te abandonou longe e afinal tão perto....

... em teu afã !!

segunda-feira, 25 de maio de 2009

mariquito

Mariquito caminhava de volta a casa, brincada que estava a rua, fingida a escola, estafada a bola em correrias sem igual no mundo. Era hora de ter fome, de sonhar acabá-la, tentar matá-la por entre sopas de fraca postura e muita água. Mariquito sabia-se pobre e por isso sonhador e feliz.

Na esquina vazia de sempre, na loja das velas, oferendas, caixões e outros quejandos, parou-se-lhe o passo num repente que até a ele lhe pareceu estranho, logo a ele, Mariquito, quedado e fadado para desbravar as coisas ao tempo e modo que lhe apareciam, desapareciam ou sequer aconteciam. A imagem sumida para lá dos vidros com a poeira batida ao sol inclemente parecia-lhe coisa familiar, era homem importante, cara conhecida, a merecer respeito, temor e atenções mais, assim virado para a cruz e seu mistério jurou ouvir-se perguntar:

- Mas... quem és tu?

Gostou de saber e conhecer, era rei o homem, rei das pessoas e dos lugares, do amor e dos sofridos, de quem pouco tinha ou tudo possuía, rei da vida e dos animais, das cores, do céu, dos mares e outros lugares, rei com coroa ainda que de espinhos, filho d'Ele e mensageiro do seu verbo...

- E de mim, da minha vida, és rei também?

- Não Mariquito ... rei de tal não sou ... ando por aí e por ti.... quando há um espacinho, em meio às tuas correrias ... mas escuta-me, rei da tua vida, rei mesmo, de quereres caminhos e vontades, rei és tu, assim e para sempre, enquanto te lembrares desta esquina e quem tu és.

Mariquito chegou a casa e o frio e a fome pareceram-lhe pequenos, mais pequenos.
Sentia e sabia agora que era rei também !

sonho !

Num repente o sol foi-se e em seu lugar deixou reinar a noite que o frio trazia consigo, vestida em chuva selvagem, de rajadas e pingos vazios de esperança, as vidraças das janelas em caos geométrico de brilhos e rastos aguados, a vida escurecida agachava-se encolhida num olhar de súplica, como se o sol fugido e apagado tivesse levado consigo todas as manhãs de sorrisos do tamanho do mundo, o cheiro das flores, o correr das águas do rio e as mãos dadas e sujas em vidas vividas, de amigos no coração, como se a memória tivesse também ela partido para lugar incerto, não houvesse papel amarelecido pelo tempo, nem cheiros da casa nem das pessoas e os olhos vendo não vissem, apenas escutassem o grito pelo sol que se ia, olhar parado, fechado, chorado, amarrado em mãos frágeis com medo do frio. Choveu forte toda a noite, e a noite durou dez dias, contam, cem assim garantem, mil até, tal foi só o caminho, feito em lado algum e com o vento por companhia, em vôo de vida e morte, da querida sorte perdida sem norte.
Manhã cedo, Maria escutou o piar sumido dos pássaros da manhã, saboreou no silêncio o respirar dos deuses da vontade, abriu a janela e espantou-se com a secura das lágrimas tristes da chuva fria já esquecida, tocou de leve em sua memória de traços em pó, percorreu a medo o caminho de volta ao espaço de si e amou a chuva como o sol, o frio como o calor, as cores como a penumbra do anoitecer de todos os invernos do mundo. Ido o sonho, sonhou sonhar de novo, como se os dias pudessem ser seus e os caminhos a convidassem a trazer seus passos. E abriram-se todas as janelas e vieram todos os pássaros, a chuva também e ao seu lado se sentaram e perguntaram:
- Como estás ?

terça-feira, 19 de maio de 2009

lisboa

Diz quem te vê, por sobre ti voando
Que não há nem tem fim tua beleza
Chora as palavras, quem te cantando
Vê em teus becos e ruas sua tristeza

Esquecida ela, perdida ela
Assim vencida
A tristeza
Vivida pois ela e assim tida
Nunca assim ida
Tua beleza

Feita em becos e navalhas
Em ruas e noites canalhas
Nas noites sem fim de gente tua
E na loucura de quem te vê nua
Por ti voando
Em ti sonhando

O lugar de querer, amar e pois sonhar
Ser-se de alguém
Como ser teu , nesse lugar
Fizesse gente quem é ninguém
Esquecida a tristeza
Em tua beleza

Assim rezada e em fado cantada
E trazida na liberdade
De quem voou em tua alma
E se quedou teu em teu lugar
De becos, ruas e avenidas
Onde fazes tuas nossas vidas

sexta-feira, 15 de maio de 2009

24 ... 25 se não se despacham !!!

Seguir o 24, que é como quem diz seguir o Jack Bauer, tem tanto de emocionante como pode ter de frustrante, há que ter o cuidado e a noção de que o moço deixa o Indiana a léguas, dá-lhe de avanço e manda-o para a Liga Vitalis num abrir e fechar de olhos. A pessoa anda ali, não tira os olhos do aparelho e mesmo assim não é fácil seguir e apanhar todo o enredo. No momento em que fraquejamos e desviamos o olhar porque nos pareceu tocar o telefone ou terem batido à porta, zás, perdemos o norte e uma dúzia de informações cruciais para entender a trama, bem sei que desde Afonso, o Henriques, o nosso primeiro, desde aí que sabemos lidar com viragens e coisas que não são bem assim nem assado, antes pelo contrário, mas no caso do Jack a coisa pia fino, o bom da fita antes da imaginada campainha do telefone ou porta da rua já passou, no regresso da nossa atenção, a vilão ou a morto com missa de sétimo dia rezada, a conspiração tem mais personagens novos que fiéis da IURD quando se reunem no estádio do Belenenses, o herói que nos fazia suspirar e reter a respiração já se reformou e ganhou os tiques do alemão Alzheimer, enfim, bom mesmo é deixar tocar tudo o que lhe apeteça, despertadores, alarmes do microondas e da Bimby, choros de bébé, toque a banda mas ... tirar os olhinhos da TV é que não, nunca, nunca mesmo, se não queremos perder a meada, já nem é o fio apenas, mas as agulhas e toda a manta de uma vez. Quando a trama se enrola e o Tio Patinhas está à beira de engravidar a Lara Croft, o emplastro da Invicta está a modos de se fazer explodir em Peshawar, é esperado um gangue da Rive Gauche num jantar com o cabeleireiro João Rôlo, quando se prevê que o Mourinho possa assinar pelo Patópolis FC e vá viver com a vóvó Donalda aí... aí já sabemos que o episódio vai acabar e temos de agoniar uma semanita para saber mais, isto se formos meninos bem comportados e não desatarmos a sacar tudo o está por vir em download's na net, assim como quem dá um chuto direitinho à overdose. Outra coisa que ajuda ou desajuda, já nem sei, é que nos intervalos da Fox passa um anúncio apenas, e daqueles que é bom ter-se um QI elevado para apanhar logo a mensagem pois a coisa dura cinco segundos e voilà de novo o logo do ' 24 '. Ali as coisas acontecem, e este ' acontecem ' não é eufemismo, é coisa de concentrado mesmo. Nós, habituadinhos a que qualquer coisa na vida real leve um bom par de anos, um bom trio, quadra, quinteto e por aí fora, nós que para resolver ou ver resolvido qualquer coisinha evidente ao género hardcore, conseguimos enrolar tanto mas tanto que até as prescrições prescrevem, nós que por entre a primeira e segunda parte de uma série ou filme na TV temos tempo de educar um filho e mandá-lo para a Universidade, nós apanhamos o Jack e ficamos em estado de choque. Por isso nas primeiras três temporadas ainda tentávamos respirar no meio da trama, olhávamos para o lado se escutávamos um ruído ou tentávamos um copito de água a correr no intervalo e hoje em dia, bem hoje em dia é respirar caladinho e piscar um olho de cada vez. Mas, por mais que soframos na adaptação, ainda assim é menos cruel para nós a entrada no alucinante mundo de Bauer, do que para ele ser desterrado para este canto. Acordaria por certo convencido que lhe haviam feito uma lobotomia, com a desvantagem da cena seguinte não se desenrolar antes do século seguinte. Assim como assim, mal por mal, arrisquemos nós sonhar que há lugares onde as coisas acontecem.
E agora, se me dão licença, vou ver se o filho do Patinhas e da Croft já foi treinado para espião informático na escola que a Lili Caneças vai abrir para o efeito em sociedade com uma rapariga afegã, um desalojado das cheias no Vale de Santarém e o taxista Noddy ! É que se perco este episódio, nunca irei entender porque é que o raio do taxista que tem o brevet e tudo me há-de aparecer feito monge tibetano no meio da Juve Leo ...

24 FOREVER !! Allez Bauer , allez, allez !!

quarta-feira, 13 de maio de 2009

o improvável dr. casa

A tarde de temperatura amena fazia prever um final calmo e feliz no bar dos médicos que assistiam no Princeton-Plainsboro Teaching Hospital. Puro engano, o deleite trazido pela temperatura em nada influenciava o movimento de chegadas às urgências e assim, em menos de nada, a chegada do simples Mr. Smith iria alterar os planos de House, Greg para os intimos.
Com o nariz entupido, a garganta inflamada e espirrando constantemente, após um rastreio onde se apontava uma evidente constipação, o doente Smith confessou ao médico uma série de sintomas mais que completavam o quadro daquela maleita, autorizando mesmo que o interrogatório subsequente lhe fosse feito por Jack Bauer, caso assim o decidissem. Perante o olhar perspicaz e de alguma desconfiança do clínico, sacou ainda de uma declaração das Finanças onde confirmava ter pago o imposto que lhe dava direito à constipação, bem como de um abaixo assinado composto por cerca de quinhentas assinaturas onde declaravam sob palavra os abaixo assinados, terem visto o simplório Smith andar descalço no chão frio da cozinha, depois do duche e com o cabelo ainda molhado. Numa rápida revista à sua mochila, na busca de indicios que pudessem tornar-se esclarecedores quanto ao estado de saúde de Smith, foram encontradas cartas de ex-namoradas, ex-amantes ( grupo no qual se incluía um ex-Marine, pessoa de idoneidade insuspeita!), dos filhos e todos os vizinhos desde os tempos de tenra infãncia, e onde se lia invariávelmente a pergunta ' estás melhor da constipação? '. Perante tanta evidência, o corpo clínico que compõe o ramalhete deste Hospital das Descobertas Milagrosas instava Greg, House para os pacientes, Dr. Casa para a nossa história, a confirmar o diagnóstico e reenviar o homem a casa com a recomendação de sopas e descanso.
Como certamente estarão já a adivinhar, a recusa em tal foi liminar. Não! Não e .. pronto, acompanhados de um olhar teatral, uma voltinha de bengala e uns Vic's ao bucho!
Após enviar amostras da roupa com que o desgraçado chegou àquela casa de saúde, depois de arrancar os braços e perninhas e mandá-los para laboratórios nos cinco continentes, por forma a detectar possíveis infecções ou bactérias ainda não descobertas pela humanidade, depois de tudo receber de volta via DHL e de novo implantado no paciente constipado, numa cirurgia de quatorze horas assistida por três médicos, House decidiu-se por abri-lo de novo, ao jeito de fecho éclair, na esperança de encontrar provas para a sua certeza de estar perante algo esquisito. Rejubilou quando em plena parede interna do estômago viu duas tatuagens, desmoralizando logo de seguida quando as leu: ' atchim ' e ' sou um constipado crónico, registado na Sociedade dos Constipados Assumidos '.
À noite, no remanso do lar e enquanto assistia à final da Super Bowl, Greg saboreava um puré de analgésicos ao mesmo tempo que ia dando umas colheradas num sorvete de Vicodin, quando num repente os seus olhares se cruzaram e estacaram no tempo, o dele e o do sorvete, como se este lhe dissesse algo mais que ' come-me ', como se encerrasse um grande mistério e a descoberta do terceiro segredo de Fátima e do Santo Sudário ao mesmo tempo. Num salto digno de ser repetido, como naqueles que não percebemos se é dentro ou fora da área, agarrou na sua bengala, meteu uma sandes de Vicodin's ao bolso, montou-se na sua CBR Fireblade e ala que se faz tarde e a constipação não espera. Chegado ao quarto do politraumatizado pós cirúrgico que entrara uns dias antes a espirrar, confrontou-o com o invólucro de um Rajá de chocolate de duas décadas atrás, vendo os olhos de Smith, o simplório acabado de desmontar e montar de novo, começarem a marejar. Subido ao quinto piso, pelo menos a parte do corpo que podia ainda deslocar-se, confessou o pobre homem ao psiquiatra de serviço ( aos doentes, não aos médicos!!), que a recusa da mãe em deixá-lo mamar um Rajá na ceia de Natal de 1964 o deixara numa profunda depressão, onde morrer era a ideia mais leve, equacionando mesmo a possibilidade de se naturalizar tuga e tornar-se adepto do Sportém, e que a falta de coragem, ou tomates, não podia precisar, para enfiar um tiro nos cornos, atirar-se de uma ponte ou mesmo ingerir numa noite dez por cento dos Vicodin que o Dr. Casa toma em meio episódio, o tinham feito optar pela mais cobarde e camuflada forma de suicídio: constipar-se tanto e tanta vez, que o nariz lhe caísse e morresse sim, de vergonha, incredulidade, pasmo ou estupidez.
À saída, informado de que a proibição ao sorvete se restringia àquela noite passada e por ter enfardado já quilo e meio de profiteroles que se destinavam à ceia de toda a família, Smith vestiu uma roupa decente, jurou não mais secar o cabelo ao ar frio da noite ou andar descalço por cozinhas ou conventos de frades, parou de espirrar, apertou a mão ao Dr. Casa ( aproveitando para lhe surripiar meia dúzia de pastilhas para a ' trip ' ) e saíu com a bengala do homem devidamente autografada.
Como prémio para mais uma descoberta, que nem Holmes em sua maior pedra de sempre se mostrara audaz e capaz, Greg ganhou uma viagem à Europa, com direito a um jantar no palácio de José Castelo Branco, ali a Sintra, a uma prelecção da D. Bobone sobre o modo correcto de enfardar Vicodin's, a um jantar com Cristiano Ronaldo e mais duas amigas e à presença na antestreia de um filme de Manoel de Oliveira, sendo que este último evento prolongou quase ' ad eternum ' a sua estada no nosso País. Perspicaz como só o homem sabe ser, ao fim de meia dúzia de dias já lhe ia na alma fazer um diagnóstico sobre uma data de ' coisinhas ' que aqui se passavam, ou melhor, que aqui nunca se passavam, coisa evidente num eterno assobio pró ar e na quietude de um rebanho que apenas balia, de pouco valia, para nada servia!

No aeroporto, na hora da partida do agora seu amigo americano, Manuel Smith Jr. the Third da Silva, neto do constipado mor, não resistiu e atirou a House, Greg, dr. Casa neste conto:

- Deixa-te lá de merdas ... só mesmo tu para descobrires alguma coisinha de errado por aqui ... olha que a gente nunca deu por nada. Nadica mesmo! Mesmo !!!
-Fuck ..... devem andar constipados !!!

ps: sei que não é justo adicionar um ps depois de alguns comentários, mas o facto é que acabo de ver o ' dr. casa ' do dia e ... depois de dominar um avião cheiinho de passageiros em histeria, de se preparar para abrir o bucho a um deles, que concluiu ser um ' correio de droga ' e que afinal era apenas um imbecil mergulhador que veio das profundezas para as alturas, o nosso doutor ainda deixou no ar a possibilidade de ir acabar a ' operar ' a assistente na cama!
Eu... a acabar as férias, pergunto-me: e ninguém me avisa que ao fim de vinte e quatro anos nisto... a emoção vai começar no emprego ??

quarta-feira, 6 de maio de 2009

o segredo da pele das zebras



Impávida, carregava em sua geometria a preto e branco os caminhos da humanidade, ora em definidos e precisos brancos, ali em pretos descoloridos, como na amálgama de quereres esquecidos pelo bicho Homem que a nunca lera em tal detalhe. E naquele carrocel, labirinto de segredos e vergonhas onde imperava a pequenez do outrora grande e filho d'Ele, caminhavam lado a lado a gorda e brihante ganância com a mais pequena das coisas pequeninas, reis e escravos, balofos e esqueléticos, suados e anafados rindo dos que à mãos das moscas sucumbem no pecado maior do cego assobiador. E como numa fábula, ali se ouviam cantar e dançar amores desamados, se ouviam os silêncios ensurdecedores dos gritos em olhares de quem não morre nunca, se viam nascer e morrer às catadupas coisas feitas Vida em corpos de gente. E na fábula, na contada ou noutra ainda não inventada, os bichos fugiam assustados por entre os caminhos da pele das zebras, guinchavam, urravam, piavam e esbracejavam, como se os braços tivessem e esbracejar fosse feito de valer a pena, e corriam e corriam, rezando pelo fim dos fins onde não coubesse o bicho mor, e fugindo fugiram e chegaram, ao fim da coisa e começo de coisa nenhuma, e gritava indignado o leão, pobre rei da selva menor, que mentiam os homens e que não iam a Roma, não iam dar a Roma, nem todos nem nenhum dos caminhos, e falou o macaco velho, porque era ancião e sábio e isso diziam as fábulas, que dali, daquele buraco negro viera a Vida para explodir em gente.
Na grandeza confluente de um negro trotado a canhão, chegou porém quem escrevia as coisas e inventava os fins. E na geometria daquele caos decidiu dizendo ... que ao buraco caminhe e termine a agonia da magia que um dia viveu no fantástico mundo da pele das zebras !

foto from ... Valter Dinis ... a big Bro of mine !

quarta-feira, 29 de abril de 2009

repetindo a magia ...


Há coisas que podemos repetir que não cansam. NY é uma delas! Falar de NY é outra. Este sitio no mundo é mágico. E, como diriam os soldados do bravo general La Palisse, é mágico porque tem magia. Tem a magia dos cheiros e das cores, das gentes, das locais e das do mundo inteiro, como se o mundo ali convergisse, se tocasse, se trocasse, se entendesse. NY é mágica, é o máximo, é um tesão, é tudo e nada ao mesmo tempo, é o tempo voado e pousado nas nossas mãos, nos nossos olhos, no nosso olfacto e no coração que nos faz bater. NY começa de manhã bem cedo e acaba de manhã bem cedo para começar de novo. Não acaba portanto. Não cabe num dia e dá-nos um dia que parece um retrato que guardamos, de um bocado de nós. Começa em qualquer lugar, rua, avenida ou cruzamento, pode pegar-se em NY como se pega num bocado de ar, com uma mão, com as duas ou simplesmente com o olhar, com o olfacto, com a ponta dos dedos.
Hoje, dia que calhou ser 29 de Abril, entrei no encanto desta cidade pela mesma porta que tantas vezes utilizo, chegando ao Ground Zero vindo no Path, correndo ao Essex World Café para o meu pequeno almoço de sempre, uma mão cheia de coisas gordas e boas, pedidas naquele fascinante mundo gritado num inglês de sotaque latino e que me faz sentir no mercado da Bolsa de acções dos componentes alimentares do inicio da manhã. Acompanho com o do costume, um Mocha Java e remato com um café que sai comigo e me acompanha noutro costume, ar livre e cigarro, como sempre .. e hoje uma vez mais. Depois, bem depois foi dia de subir toda a Broadway até Union Square, em busca de um livro encomendado por sms vindo do meu filho, passando e parando aqui e ali, em todos os Starbucks e seus Frapuccinos, em todas as esquinas com sombra que convidavam a descanso e um cigarro mais, no meio da turba de novaiorquinos que se começaram a despir com o calor. E acreditem, calor aqui é calor, e despem-se eles e elas, mais elas que eles, e elas de todo o mundo, e assim NY se vê invadida por peitos que espreitam, mamas do mundo que envergonhadamente se espraiam em pedaços de sol conquistado, não ao léu e à bruta mas a sair e espreitar por entre decotes e camisas de botões sem uso, e saiem elas, as mamas, e saiem eles, os olhares, e deitam-se nos parques todos, as mamas, os olhares, e as pessoas, todas as pessoas do mundo, porque aqui vive o mundo, vivem todos as cores do mundo e todos os seus sons e barulhos, NY é mágica repito, aqui congrega, mesmo sabendo que em tempo de calor congregar pode parecer estranho, mas congrega sim, junta num formigueiro sem fim todas as liberdades sonhadas, sonhos guardados, vidas corridas de todo o lado para todo o lado. Chegado a Union Square, derreado e derretido, amaldiçoados os All-Star que trago e que para estes passeios soltos na vida são um desastre, comprado um romance do imprevisível Koontz e seus enredos, sento-me no parque e em meio a gente que é gente de todo o lado, por entre almoços alheios sacados a talheres de plástico, com um bebida energética ganha em promoção e distribuição gratuita, sento-me e leio, apanho calor e vivo um pouco a pacatez do momento, embrenho-me, torno-me novaiorquino, e vejo mamas e olhares, folheio o livro, tiro a t-shirt e venha de lá sol também, tenho saudades de alguém e adoro este dia mais. Fiz tudo e nada, fui eu um dia inteiro por ali, sem trocar palavras e escutando milhões delas, trocadas por gente do mundo, do tal mundo todo, que se cruza e descruza na magia de ... NY !
Chega o fim do dia e algum cansaço, chega a vontade de começar um novo. NY, que não acaba nunca, nem dorme segundo canta a canção, vai estar por ali amanhã de manhã cedo !

quinta-feira, 23 de abril de 2009

tal não é ....

E longe, que longe, parece estar soldado
O dia de seguires teu sangue
O dia de abraçar o grito
Gritado em cabeça tua
Feito deus da liberdade
E que longe, que longe soldado
Parece o tempo ter ficado
Nas noites que foram tuas
Nos dias vazios de esperança

... já pensaste soldado, nos que te cruzaram o caminho, nos olhos de quem ficou, nas mãos vazias de quem não voltou, no vento trazido por quem nunca te chegou ..

E em ti
Por ti
À vida se agarrou
Vindo do tempo das flores cantadas
Arrancadas
Onde os sonhos tinham cores
E nome de liberdade
E tantas foram as noites
E os dias
De sangue sofrido na alma
De segredos apenas de dor
E tanta a coragem tua
Soldado
E na alma em que não crês
Na bravura que não vês
Ensinaste soldado

.. o caminho da gente assim, o lugar que fizeste teu, o passado que nunca morreu, sabias tu o caminho, descalço em paixão de vôo livre ...

E viste não sem espanto
Em ironias do céu
A loucura da certeza
Da liberdade assim lutada
E de novo
De novo soldado
A beleza de teu olhar
A certeza do teu amar
Do grito da gente que sente
E na revolta de quem não mente
E do esquecido dia lá longe
Trazido por noite fria
Veio a luz que eras tu
Nasceu teu soldado filho

... e aí soldado, diz-me que não conseguiste esconder, coração grande de mãe coragem, de quem morre pela cria, e aí soldado ... começou teu caminho nunca acabado, de novo foi teu o passado, e não morreu teu olhar..

De soldado
Que não sabia morrer
De loba
Que não pôde nunca ceder
E teu é
E tanto de ti tem
Quem trouxeste e trouxe também
O soldado que partiu
Em busca de vida sem vazio
Se morreres um dia soldado
Sabe que ficaste por cá
Naquelas mãos de criança
Naquele sorriso que é teu

... e não te vás sem guardar ... o quanto entraste e ficaste, em cartas que não escreveste, em sorrisos que não desistem, por todo o lado onde lutaste, por aqui mesmo também, no mais improvável dos sitios, no mais escondido lugar que são as tuas palavras ... que me atrevi a aprender, que não me impedi de escrever.
E não conseguindo evitar, atrever-me-ia a dizer-te assim ...

De ti veio o momento
De longe, lá bem longe
Da planície esquecida
Do frio que te acolheu
E meu fizeste
A mim me deste
De longe trouxeste
O bocado de vida sem fim
Naquelas mãos de menino
Com olhar de perdão e amor
Que ensinaste a olhar
Nos dias calmos em teu caminho
De soldado que não morre
E naquele amor
Naquele amor, soldado
É teu o sangue que corre

quarta-feira, 22 de abril de 2009

bee........

Mil eram as vidas e mil eram as pessoas e gentes, e mil os cheiros e mil as mãos, porque mil era coisa grande, era coisa de gente adulta, de mundo grande que não acaba, se esconde em ruídos e medos, coragens inventadas em sonhos sem amarras, e assim as mãos alcançavam o escondido lugar dos corações bons dos heróis das histórias, e escreviam e desenhavam, as mãos, os sonhos, tanto bocado imaginado, tanta a vida, tantas as coisas, mil pois eram, sem fim, como fim não tem o coração que aprende, agarra e abraça, e sendo assim, de mil gritos e mãos dadas, mil as corridas perdidas em fim nenhum, pois que viessem os dias e seus mistérios em cor e sabor, como um beijo de princesa deveria ser, princesa vida sem o beijo da morte. E disse aquela criança em lado nenhum e para ninguém, fantasma de mil deuses, porque mil eram os deuses e à gente grande pertenciam ....


Vi-te vida, vi-te na chuva
Saboreei-te no mar de inverno
E nos pássaros também
Em asas de bater e ir a voar
E no sol dos dias frios
Em rugas de pó de arroz
Em cheiros velhos de amor
E num sorriso, se ele houvesse
E ficasse
E nunca morresse
Numa linda mulher franzina
Que foi sempre o princípio
E nunca o fim
Das histórias
Daquelas histórias
Onde choro feliz
Te choro feliz
Vida

sábado, 11 de abril de 2009

diz-me tu .....


... e curioso no seu mundo de ecos perdidos perguntou-Lhe:

- Deus.. o que é ribombar ?

E deus lançou um trovão estrondeante e assim dividiu sua grandeza naquele momento, e assim se deu à crença, assim tocou seu filho.

- Deus, se me ouves, o que é ribombar ?

E de novo a Grande Luz fonte da Vida criou um trovão, desta vez mais majestoso em seu ensurdecedor abraço, e a terra o recebeu temerária, os animais se assustaram e os pássaros fugiram voando...

- Deus .... morrerei sem saber o que é ribombar?

Irado, escondidamente irado, abertamente desiludido, de novo em seu poder de Génesis e Apocalipse, lançou o Divino um fulminante trovão, o maior trovão que se houvera ouvido, uma descarga tal que em cima do descrente assentou e de tal modo assim aconteceu que a alma se libertou do corpo do pobre e subiu aos céus, mas tanto era o apego deste àquela que pôde visto o que nunca antes se vira, ainda que ninguém o tenho feito pois de um momento a sós se tratava, e o corpo subiu junto e assim Deus os dois recebeu em seu Céu sem fim, de arrependidos e pecadores.

No meio tempo, naquele bocado infinitesimal em que do terreno se chega ao celestial, quis o Todo Poderoso acreditar que valeria abrir os braços e receber o distante em sua fé e aceitação com a dignidade do momento e assim decidiu em sua inquestionável Lei e Sabedoria, e assim chegou o corpo, a alma também, por entre os acordes de uma cantata de Bach, assim começaria a nova e eterna do recém chegado.

E chegado o momento, o momento d' Ele e dele, foi o caso da indiferença tomá-lo, ao momento, e de novo a Ira de quem não se via escutado, e ao pobre foi indicado seu caminho, que fosse e descansasse, ou que tal tentasse, mas que fosse pelo caminho esculpido por entre nuvens escarpadas, e escuras também, e assim fizeram a alma e o corpo e se deu o inevitável, caíram, dos céus e do outro mundo da Nova Vida, caíram e chegaram à Terra e mortos voltaram ao seu lugar e se viram nascidos e condenados.

- Porque me castigas em tua impiedade ó Piedoso? E o que é ribombar ?

E os olhos de seu desconhecido filho Lhe mostraram, em suas lágrimas caladas e de tanto sal, que o querer da alma tudo superava e que aquilo que o corpo negava o querer atingia, e que a majestade do trovão estava no coração e não morria no silêncio de um menino nascido surdo, e assim deus se lembrou de Si e de ser Deus, deixou as liturgias e as odes de ouro e de promessas, desceu pelos braços do mesmo filho que fizera crucificar e aprendeu o Amor que o queriam fazer esquecer. E trouxe o Silêncio de seu céu, e o atou ao silêncio de seu filho e o beijou em perdão pedido. E ajoelhado perguntou:

- Diz-me tu ... diz-me tu o que é ribombar!




terça-feira, 7 de abril de 2009

velho

Diz-me velho, amigo do tempo
Fala-me de ti e de mais nada
Como se a vida parasse e te olhasse
Como se ela soubesse
Ou ela quisesse
Aprender no sorriso gasto que trazes
O tempo apagado em coisas fugazes
Ou ela
Vida rezada e chorada
Tida sonhada e temida
Vida tida porém perdida
Amarfanhada em ilusões
De não acabar como tu
Velho querido
Antigo amigo
Contigo sigo
Ouvindo-te parado
Assoberbado
Pelo modo como sorris
Fala-me Velho
De ti

terça-feira, 31 de março de 2009

salsifré ou vade retro !

Anda o povaréu do sportém, ou melhor do fcp b, aos gritos com o penalty da Taça da Liga. No culminar da indignação, o zé pereira de torres que faz por ali as vezes de presidente, fez com que o clubezito se demitisse da Liga. Deu jeito, bem se vê, ao clima de nojo e guerra que tanto anima e motiva o seu patrão do norte, homem mais fácil de encontrar na barra do tribunal sentadinho de arguido, mas ainda assim seu grande amigo e mentor. Voltando à questão da indignação, por onde andavam os meninos agora zangados quando em 2001 o menino mau Duarte Gomes deu um festival de roubalheira e atraso mental ao poupar quatro expulsões aos riscadinhos Hugo Viana ( agressão a Andrade ) Beto ( pauzão e 2º amarelo ), João Pinto ( outra entrada a matar por trás e 2º amarelo, até os comentadores idiotazinhos do costume conseguiram perceber !! ) e Jardel ( a simular um penalty tão ou mais idiota que o da Taça da Liga, coisa a roçar o surreal ), num jogo que empataram 2-2 e onde deviam ter apanhado os cinco que se andam a tornar costume naquelas bandas? Por onde andavam ? Pedro Barbosa, o qualquer coisa desportivo do fcp b, estava em campo a jogar e a rir da roubalheira ! O zé pereira da altura nem sei quem era, sei sim que já o clubezito que passou de segundo da capital, para filial do que ganha com frutita e café com leite, já nessa altura tinha a memória curta, esquecia o quantas vezes este mesmo árbitro de polichinelo os beneficiara escandalosamente. E riam e riam. Agora choram, fazem queixinhas ao clube papá, fazem o que ele manda! É triste descer-se tanto e tão descaradamente ... Por isso amiguinhos ...não foi penalty de facto, o mesmo Luciliozinho que já TANTO roubou o SL Benfica com aquela cara de penteadinho arrogante, também não viu uma entrada a matar sobre o Diogo Luis minutos antes, o Polga a jogar que parecia um Rambo, tanto era o ' pau ' a varrer ( deve ter sido para esquecer a figurinha que fez em Munique ) , já para nem falar de um rapaz anafado que joga pouco mas bate muito e de um Derlei que também teria ido para a rua muito antes. Indignados ? F....... -SE , eu também estaria se trocasse uma história que chegou a ser de algum interesse, pelo papelucho de filial de um clube do norte que aprendeu a ganhar com guerrinhas provincianas e a gritar alto injustiças, por entre o tempo que lhe sobrava a armar o circo de frutas e meias de leite que o ajudou a experimentar ser grande. E a verdade, a triste verdade, é que já têm filiais na 2º circular .... às riscas deitadinhas e ... verdes de enjoadas !! VADE RETRO santa hipocrisia !!!

domingo, 29 de março de 2009

concluindo.... !




Marcel cruzava e descruzava as pernas, num passar de tempo despreocupado em mais uma tarde de calor, típica em Ouagadougou. Ainda não entendera porque aceitara aquele prémio ganho numa inofensiva rifa dos escuteiros parisienses, antes o plasma ou o cruzeiro virtual pelo Amazonas, mas quisera a sorte, sorte como quem diz, que a ele saísse uma semana com tudo pago na capital do antigo Alto Volta, hoje Fasso, Burkina Fasso, apresentação à boa maneira bondiana, ou bondensse como queiram. Marcel, decorrida que estava a ensolarada tarde, cruzava e descruzava as pernas numa tímida tentativa de espantar incómoda comichão por partes baixas, mesmo em África não ficava mal ser-se discreto no alívio de incomodidades púbicas e púdicas.


Na mesa ao lado, na mesmíssima e única esplanada onde se podia disfrutar de algum recato e cerveja fresca por aquelas bandas, Gregory, doutor Greg para os amigos, House para os milhões de seguidores em sua saga pel Fox, olhava o franzino francês e diagnosticava-o através do modo como cruzando e descruzando os membros inferiores continuava o repetido movimento de erguer um dos superiores, membro claro, numa ânsia pouco escondida de refrescar a goela. Mais, sendo fumador, conclusão óbvia do médico pela presença de dois maços de Marlboro, e fanático do Manchester United, dica que resultava da t-shirt do Cristiano Ronaldo que envergava, não por uma questão homossexual de idolatria ao macho em si, mas por devoção ao futebol bonito dos ' devils ' personificado no madeirense, sendo franciú e estando no Burkina, era práticamente certo que sofresse o desgraçado de Fibrodisplasia Ossificante Progressiva, nem mais nem menos, viesse de lá quem viesse contrariá-lo, a Cameron, o Chase ou o Foreman, trouxessem a Cuddy ou o Wilson se quisessem, aquele cruza/descruza em fim de tarde Fassense era coisa de FOP e ' mainada '... ouviram?

Na mesa ao lado da mesa ao lado, ou seja, duas mesas ao lado da mesa onde começa esta saga, Holmes, Sherlock de graça própria, ali aparecido não por artes de rifas mas depois de uma espectacular escapadela de um dos romances onde do nada descobre crime e meio e mais um par de botas, salvo seja, Holmes dizia, fazia ombrear o frio de sua expressão com o das imperiais que aterravam em catadupa de modo a fazer esquecer algum mistério mal resolvido ou a falta de uma escapadela por vícios nunca a nu trazidos, apenas entendidos por utensílios por ele meneados e que nada tinham a ver com lupas, cachimbos ou chapéus à ' raistaparta '.. Olhando o francês Marcel e seu consecutivo cruzar de perna, rápido o detective concluíu tratar-se o elemento do principal suspeito de todos os crimes resolvidos e por resolver na última semana de Ouaga ( abreviatura doravante utilizada para o local deste fim de tarde !! ). Ainda que não lhe tendo sido pedida qualquer opinião, em três penadas ficaram resolvidos meia dúzia de mistérios que se não tinham ainda assolado as redondezas se preparavam para o fazer. Assassino e ... siga a marinha, viesse de lá mais um ' fino ' ....

Marcel, o desgraçado Marcel, francesinho de gema mas longe da aura de um Proust ou Duchamp, seus homónimos de graça primeira, continuava absorto em sua dúvida acerca das ironias do destino, que de um nobre gesto solidário para com a ' escuteirada ' dos Champs Élysées o atirara para o bafo de uma tarde africana e uma comichão que o atazanava e lhe impedia um pingo mínimo de felicidade em pôr-do-sol numa esplanada de celebridades. Coçar ou não coçar... era a questão e Marcel haveria de resolvê-la.
Como Greg o fizera fibrodisplasiando o moço, como Holmes fizera apodando de canalha um desgraçado rifeiro originário do banlieue e metido a fino. E se eram moços de confiar, ai se eram, dupla de respeito, da Fox e da Velha Albion e sua Londres mundana.
Marcel, num rasgo de liberdade, levantou-se, acabou com sua tormenta de cruza, faz que não cruza e sim, coçou os testículos, vulgo bolas, vulgo tomates.
Gregory e Sherlock, saíram de fininho, apanharam um avião, aterraram na Cidade Maravilhosa, entraram num táxi e foram directos à Rocinha.

Ouaga... essa nunca mais foi a mesma, em suas tardes faltariam para sempre três mesas a abarrotar de ' cervejame ' , comichões, conclusões e outras coisas coçadas acabadas em ' ões ' !!...


domingo, 22 de março de 2009

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Aceita-se parceiro para se viciar em PADEL !!!

sexta-feira, 20 de março de 2009

coisas da tv ....


A Polícia Judiciária (PJ) do Porto anunciou, esta manhã, a detenção de três homens e duas mulheres, todos estrangeiros, por presumível autoria de crimes de tráfico de pessoas, lenocínio, lenocínio de menor, sequestro e ofensa à integridade física, entre outros, tal como o DN avançara ontem.
in DN

Parece que ouço o bruá de espanto e indignação em todos os lares portugueses que acompanham a notícia nos telejornais. Como é possível ? Que crueldade...! Num exercício fantasioso, questiono-me quantos desses milhares de indignados passaram já uma boa meia hora, por entre ' bóbós ' e ' entradas de quatro ', em finais de tarde ou fins de semana com ' amigalhaços ', por entre fins de noite para desenjoar da rotina prometida a um padre longinquo e de feições já esquecidas... Quantos? Hummmmmmmm, quantos? ... Acho que muitos. E no entanto não deixo de estranhar semelhante número de mera suposição minha. Prostituição? Como assim? De 'gaja' que gosta muito de cama e é uma puta ou .... da outra? Que move alguns milhões largos de euros, num negócio tão escondido, tão escondido, que comprando um qualquer jornaleco, desportivos incluídos, podemos apreciar as ' bombas ', assim ao jeito de carro em segunda mão, onde anunciam ' dotes ', medidas de peitõezões, quantidades de pelos púbicos e de números de circo em que se especializaram ? Negóciozinho clandestinio, que tal como durante a Lei Seca americana fez com que o preço do whisky disparasse na época para valores superiores aos dos tinteiros para impressoras, passe a tradução para preços absurdos nos dias de hoje , faz com que todo este negócio, inexistente desde os tempos em que Salazar assim o declarou, fuja ao controle do estado, nomeadamente através da cobrança de impostos e do controle sanitário. E de.... não menos importante, protecção dada a quem dele faz profissão. Sendo, segundo a crença e sabedoria popular, das mais velhas actividades do mundo, a prostituição ainda não chegou cá ao burgo, ao Portugalzinho de Viriato e D. Sebastião. Deve acompanhar na viagem a corrupção que, pelos vistos, é coisa de pouca monta por cá também.

- E que vergonha o que aquela rede fazia. Que crueldade, já viste marido?
- Já... mulher, como é possível?
E de mão dada trocaram ;-) com ;-) e viveram felizes para todo o sempre. Na riqueza e na pobreza e mais no blá blá que ainda lembravam, claro.


' Crianças guineenses contam com a solidariedade dos portugueses em operação urgente ao coração ... '
in noticiários televisivos de 20 março


Comovente. Sério... comovente!! Não há como os portugueses para se chegarem à frente quando as notícias lhes gritam uma desgraça. Aparecem, atropelam-se, vão aos bolsinhos e toma lá de dar com lágrimazinha ao canto do olho. E Portugal salvou as crianças... Quantas ? Quais? E quantos destes solidários de apelo televisivo diáriamente, semanalmente, mensalmente, se atropelam também na táctica de enganar o proximo e o estado, fugindo a impostos como quem muda de camisa ou de faixa na 2ª circular , atirando para o esquecimento, para a rua, velhos, crianças, doentes e outros mais fracos? Faça-se a notícia rapazes, divulgue-se: por cá, nas nossas ruas e cidades, no nosso País, não se morre apenas de operação urgente por fazer, morre-se de solidão e abandono, lento e cruel também. Desprezado e não olhado ... Ai... que coisa cruel ..como aquela crueldadezinha dos meninos maus da notícia acima.

- E tu marido, já deste, já pagaste os impostos?
- Mas... eles já pediram na TV ?


E trocaram ;-) com ;-) e foram ter bébés saudáveis e felizes. Dos que não precisam de corações operados de urgência , dos que não acabam ' de quatro ' nem em bóbós que não são Aniki ...

quinta-feira, 19 de março de 2009

tempo de ser !

Queria pedir-te perdão
tempo
Talvez até dar-te razão
Mas não te tenho
Sabes tempo ?
Não te guardo, logo a ti
Raro
Vivido e perdido
Dividido
Caro
Quase esquecido
Como poderia eu então ?
... tempo,
Fazer-te dentro de mim
Eternizar-te
Em bocados de amor
E olhares de perdão
Que raro, que caro
Assim tu parado
Lembrado
Que vivo sejas
Enquanto de ti
Me queira lembrar
Perdoa-nos
tempo perdido
No medo da morte
De quem esqueceu
O tempo seu
O tempo de se ser
Sendo tu tempo
E sendo eu

quarta-feira, 18 de março de 2009

a espera no elefante!


Deixo o Kuka na escola, são nove e poucos, tempo de ir tomar um café e muito provávelmente ler a eterna ' A Bola ', mais por vicio e companhia acho, café e cigarro também, ' noblesse oblige ', quando olho para o lado e vejo o elefante, não o do zé mas o azul, o das lavagens de carro, e a verdade é que o meu já não vê água daquela faz muito, zás à direita e pronto. é sexta-feira, é manhã ainda mais ou menos cedo, deve ser coisa rápida.
Entrado no recinto deparo-me com todas as estações ocupadas e... todas menos uma já com um carro em espera. Enquanto estranho o que faz toda aquela gente por ali, a escolha óbvia atira-me para o buraquinho onde me tornava o próximo também, fico atrás de uma dupla que lava um pequeno Polo. E que dupla! Dava para fazer uma tripla, se não uma quádrupla, tal era o volume carnal das lavadoiras que me precediam. Sem o jornal ainda, sem café à ilharga, restou-me sacar e acender um paivante de modo a amenizar a espera, debruçando-me sobre o esmero com que a baleia de serviço à mangueira à minha frente lavava, escovava, rebuscava, enxotava, expulsava qualquer arremedo de sujidade do seu carro. O espectáculo de ver os cetáceos entrar na viatura findo o duche e SPA que ofereciam à mesma trazia-me na expectativa, fazia-me imaginar o quanto não suava o desgraçado Polo na tarefa de as passear e entendia pois aquele duche eterno que lhe ofereciam. A cada final de período de água e sabão respondia uma das da parelha com uma rápida ida à carteira em busca de mais trocos e moedinhas. Posso jurar que o c.....ão do carro já reluzia mais que as estrelas da fé cristã e outras que tais, o que não demovia a Calamity Jane de mangueira na mão em sua compenetrada fúria de o decapar em seu último vislumbre de pó ou sujeirinha. Deus testava-me a paciência, nada que um segundo e terceiro cigarros não ajudassem a superar. O branquinho Volkswagen já se esparramava em seu torpor orgásmico de quem é massajado como nem na Tailândia e eu temia que o fundo de maneio da baleia financiadora do evento não se esgotasse. Todos os outros companheiros do triste momento de lavar o carrinho se haviam já revezado e trocado, já não tinha por ali conhecidos da hora de chegada, o vaivém nas outras ' boxes ' era o normal em pessoas que consideram que lavar a viatura não é o mesmo que sair para beber um copo e perder horas de enfiada. Aceitando a penitência e desafio divino acendi um quarto Marlboro, troquei olhares vazios com as massas disformes que torturavam a porra do carrinho e ganhei esperança quando giraram a opção para o ' enxaguar ' que normalmente precede os últimos minutos da tarefa, lançei um olhar ao céu e exigi o reconhecimento e recompensa pela minha humilde espera onde me mantive sem trejeitos ou palavras entre dentes. E o céu, em sua grandeza e alguma divindade também, respondeu-me e devolveu-me alguma crença: acabou com os trocos à avantajada financeira no exacto momento em que apenas meio carrinho se vira livre do tsunami de espuma com que o haviam afogado na meia hora precedente. Voilà.... não iria a dupla passar ao penteado e unhas, acabou-se-lhes o guito, acabou-se a cegarrega. Entraram no hiper lavado que não enxaguado, lançaram um último olhar à mangueira e arrancaram, certamente em direcção a uma caixa ATM para levantar mais uns vinte euritos p'ró que restava da lavagem!
Três minutos depois, lavado que estava o meu carrito com uma de sabão e meia de jacto, arranquei e reentrei na Marginal. Chegado à rotunda de Carcavelos ia jurar que o Polo branco que circulava em intermináveis e enjoadas voltinhas naquela geometria rodoviária era ocupado pelo binómio de brancura obssessiva que acabara de partilhar comigo quase meia manhã. Ou não encontravam um MB ou .. se a coisa estava ali havia de ser contornada e usada até à exaustão, que era lá aquilo, não eram parolas de não dar uso às coisas, castigo à rotunda ao jeito do paquiderme. Azul claro!!

terça-feira, 17 de março de 2009

história ! ... e um pouquinho mais !!!


Abadir vagueava por entre as noites de céu estrelado e as idas e vindas em seu barco irmão que o levava e trazia Mármara adentro, companhia calada em baloiços de geometria numa pesca de vida e alimento ao corpo. Abadir olhava a noite numa paixão cúmplice, segredo guardado de seus passeios sonhados por céu de deus apenas seu, com nome de memória nenhuma, com obra de gente aconchegada e fugida à ira implacável de dias de sol em brasa e forno e gentes iradas. Na quietude perdida num horizonte de azuis e negros aqui e ali salpicados, olhou o traço rasgado e divino que lhe entrou em sonho perdido e o acordou ao torpor da noite calada. Os peixes de Abadir continuaram mudos em seu destino traçado e pendurado, mortos e a secar. Abadir olhou-os na esperança que voltassem à vida e lhe dividissem o medo em dois. Ignorava, simplesmente ignorava, que no céu se abria o quinto buraco do mandamento de Dragata, a deusa estelar chegada em sua frota voadora, aos ombros de soldados de Ptom, planeta vingador do acabado mundo na era perdida em palavras dos templos. Dragata nada tinha contra Abadir, nem contra seus peixes antes mortos e agora secos. Dragata e Abadir não se amavam, não se sabiam ou sentiam, temiam-se e desconheciam-se apenas, como se fossem um só ao olhar o fim dos dias que haviam aprendido a esquecer, largados em suspiros de poeiras celestes e profundos azuis do Mármara. Ptom não ficava perto e Abadir não lhe conhecia trejeitos ou orações, promessas rezadas ou ajoelhadas. Na santa ignorância de um olhar perdido, acompanhou o traço de luz com o indicador que lhe puxava a linha e exclamou:

- Que me quereis deus, se um deus és, que quereis a insignificante pescador fugido e escondido dos males da escuridão dos filhos da confusão?

Dragata temeu o pobre homem e ordenou à vida escondida que voltasse ao planeta Mãe. A cor dos olhos de Abadir prenunciava o frio dos caminhos perdidos, a salvação do simples homem recordava-lhe a infância perdida alguns milhares de anos atrás quando era apenas uma criança enganada pelo brilho dos templos. Vestiu-se de nuvem branca e zarpou ao destino, por entre buracos negros inventados e tempos sem fim nem princípio.
Manhã cedo o Mármara chamou o pescador, as suas águas de sempre acolheram o pequeno e assustado ser e o embalaram em ondas gigantes que o fizeram partir. Abadir não mais foi visto e seus peixes permaneceram secos e mortos para todo o sempre das horas.
Dragata, Dragata naturalizou-se humana, casou e teve muitos filhinhos. Lindos e com olhinhos lindos. E o mundo continuou, ao invés do pescador !

... anos mais tarde, sacerdotes de Ptom clamaram pelo regresso de Dragata. Esta amuou, bateu o pé em trejeito de infante contrariado copiado de seu mais novo rebento.
Bihtar, alto-sacerdote, mostrou-lhe as planícies de cinza onde antes se colhia o cereal, os rios de pedra que antes davam de beber, as nuvens de pó que antes entornavam chuva. Ptom, mundo irado, cuspira fogo das entranhas pela partida de Dragata e estava agora prestes a imolar os seus.
Cobrindo a face com as mãos, Dragata sentiu o peso da humanidade por si escolhida na noite da viagem de Abadir, pois sendo mulher como se poderia dividir em duas?
Atormentada sentou-se nas escuras encostas de onde podia espraiar a vista na mágica noite do Mármara e levantou o olhar para o distante veludo negro incrustado de jóias de rainha sobre a sua cabeça.
Um traço, rasgão largo no veludo mimetizava o fulgor do cristal e da filigrana o rendado. Brilhou sobre Dragata e ela sorriu ...

by XR

sexta-feira, 13 de março de 2009

maçã


'Questionado pela Lusa, o gabinete de imprensa dos bloquistas afirmou que o partido não se vai fazer representar no encontro de Eduardo dos Santos com o Presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, e os partidos com assento parlamentar, por estar em desacordo com o Governo angolano “no que diz respeito aos direitos humanos, à liberdade de imprensa e à própria concepção de democracia”. '

in O Público, 9 de Março de 2009

Então pois... os senhores do BE, liderados pelo sumo Louçã, com seu ar e fraseado de padre inflamado saído do seminário, imagem não muito católica, bem sei, não compareceram à cerimónia de recepção ao presidente angolano.
Este grupo sui generis do panorama político português, nascido da fusão entre a UDP e o PSR, duas forças do mais democrático que o demo pode conceber, de inspiração marxista e trotskista, dois baluartes na concepção de soluções políticas e sociais que tiveram exemplos fantásticos em países como a ex-URSS, a Albânia, a China, a ex-RDA e por aí fora, ou seja tudo locais a roçar o paraíso social, com direitos humanos ao nível da Idade Média e a fazer corar a Inquisição, com níveis de vida ao género de Amadora + Rive Gauche elevado ao cubo, este grupo dizia, recusa-se a estar presente em tal cerimónia, nem sequer cuidando de pelo menos tentar interceder pelos homosexuais, fumadores de charros e adolescentes histéricos em busca de porra nenhuma, coisinhas lindas e diferentes só porque sim... que naquele país de África haverão por certo também. Francisco, Fernando e Miguel, o trio de mosqueteiros com a visão La Palissiana do que está errado e com um saco de soluções cheio de ar e coisa nenhuma, não estiveram presentes a receber José Eduardo dos Santos. Eu também não estive.. e quase que aposto que o senhor deu pela ausência dos bloquistas do céu prometido e caos garantido como terá dado pela pela minha...


Bernard Leon Madoff (29 de abril de 1938) foi o presidente de uma sociedade de investimento que tem o seu nome e que fundou em 1960. Esta sociedade foi uma das mais importantes de Wall Street. Madoff também foi uma das principais figuras da filantropia judaica. Em Dezembro de 2008 Madoff foi detido pelo FBI e acusado de fraude. O juiz federal Louis L. Stanton congelou os activos de Madoff. Suspeita-se que a fraude tenha alcançado mais de 50 000 milhões de dólares, o que a torna numa das maiores fraudes financeiras levadas a cabo por uma só pessoa.

in Wikipédia

A acusação pede uma pena de cento e cinquenta anos para Madoff. Este, arrependido, assumiu já toda a culpa e vergonha. Não sei se as suas artes de manipulação conseguirão um aumento de duzentos anos no seu prazo de vida na terra, de modo a gozar ainda algum tempo em liberdade, isto se a condenação atingir aquela verba temporal. O que sei é que o pobre Bernard se enganou, entre outras coisas, no local onde sediou a sua trapaça. Tivesse o ex-génio da NASDAQ desenvolvido o seu esquema branquista/rodista ( para citar duas situações que fizeram escola em Portugal ) cá pelo burgo e ... cento e cinquenta anos tinha garantidos sim, não de pena ou condenação mas de espera por entre recursos, incidentes, testemunhas de baixa médica, juízes de férias e por aí fora. E ainda a procissão estaria no adro e bem no adro, a coisa prescrevia, o rapaz reiniciava actividade com o mesmo logo e outro nome e dava corpo à saga Madoff II, um filme perto de si, num cinema português... Do que não se livraria por certo era da condenação ao género testemunha de Jeová que lhe moveria o nosso querido Louçã, logo que arranjasse um tempinho e uma vez auto-dispensado de cerimónias onde pouca falta faria ...

MAdoff e LouÇÃ .. dois casos a dar que pensar! Um que está sem estar, outro que não está mas podia bem estar!

quarta-feira, 11 de março de 2009

sete + cinco & os velhos trapaceiros !


7-1 !! Por mais que não se queira prestar atenção à coisa, sete são sete, se lhes somarmos cinco, entregues ao domicilio, perfaz doze, uma dúzia, coisa fácil de fixar. Sabem agora os lagartos o que se sente quando se enfarda assim, forte, feio e sem apelo! Eu soube-o em Vigo faz tempo....
Liguei a um ou dois amigos que sabem falar de bola, pena que são verdes, ou melhor assim, falamos, picamo-nos, divertimo-nos, choramos cada um para seu lado. Não há misturas, desde a infância que aprendi que jogo de futebol é Benfica-Sporting e o resto são trocos.
Há uns tempos, muito tempo aliás, o FCP começou a dar nas vistas. Lembro-me bem, com a conversa de Pedroto a acicatar os ânimos provincianos, a bandeira da revolta, começou o despudor de ganhar a qualquer preço. E podem crer que assim foi no começo, assim continuou, construindo um ' império do mal ' onde, com tanta fruta e café com leite, tanto árbitrozinho corrupto e analfabeto ávido de umas pernas bem abertas, uma rede que não deixava nenhum pormenor ao acaso, honra lhe seja feita, chegando aos dias de hoje com o espectáculo deprimente do Apito Dourado e do Caso do Envelope, onde testemunhas saltam de um lado para o outro, juízes debitam barbaridades que em qualquer País dariam azo a cabeças a rolar, com o foco da questão a sair de julgar e punir batoteiros e a entrar num mundo idiota de diz que disse mas não fez.
Nada tenho contra o clube FCP. Nem contra o SCP. Não gosto deles, nadica mesmo... mas passam-me ao lado. Quando ganho ou quando perco, junto dos meus AMIGOS de outras cores, brinco, provoco e encaixo quando é a minha vez. ODEIO a batota. E os batoteiros.
Ontem, na enxurrada parte II da triste aventura verde na Champions, tive pena do que sentiam alguns amigos, gozei a contagem de quem tantas vezes me atazanou com Vigo.
Hoje, hoje estou pelos de Madrid, embora saiba que dificilmente ganharão nas Antas.
Mas estou por eles porque me enjoa o cheiro a batota, as palavras doces de um cronista que acha que a inteligência parou nele e que engana tolos como quem vende livros, porque me irrita a impunidade de quem às claras, às claríssimas aliás, arma a feira, engana o incauto e nem com a bófia se tem de preocupar. Bófia? Qual bófia ??
O cronista, o tal, pergunta se foi sempre tudo à batota. Como diz o povo, quem rouba um tostão rouba um milhão. E foi! Quase sempre mesmo, não significa que tenha de ser em mil jogos, basta naqueles em que estão de aflitos. Beira-Mar, Estrela... ahn ahn, o pai já vem. E a caminho da champions, golo invalidado ao MU, coisa limpa como as coisas limpas. Lembra-se cronista distraído? Eu sei que lembra mas faz que não. Como a justiça aliás. Basta ser no momento certo... no sitio certo, com as pessoinhas certas e o nojo veste-se de freira!

Fuerza Atlético de Madrid... Danke Bayern !!

ps: o menino Veloso surgiu inesperadamente a titular, levou com Schweinsteiger, trocaram-se-lhe os olhos e as voltas, que não o penteado! Não deve ter deixado grande cartel naquela terra, calhando os tais ingleses que se dizem interessados vão pensar melhor... o IKEA também, com aquele arzinho parecia um abat-jour o petiz!

psII: o ps anterior explica muita coisa ... digamos que uma meia dúzia ( para não enjoar ) de coisas!!