terça-feira, 22 de maio de 2012

privilégios e ... outras coisas



Na sequência do episódio que marca estes dias em que corre a minha vida,  ' o intrínseco manolo ',  dei por mim a equacionar os diferentes personagens que giram em torno da aventura que é um livro. Qualquer livro. Todo o livro.

E encontro quatro, pelo menos quatro, a quem cabem alguns privilégios, a quem não se pode deixar de pedir que atentem noutros ' quês ' também: o autor, a editora, o livreiro e o leitor.

Se o autor tem o privilégio de ser o primeiro a desbravar, em sua ciência ou imaginação, aquilo que será o corpo e alma do livro, tem também o papel de entender que é apenas um mais, no fantástico e infinito mundo por onde as letras e as palavras criam os laços e labirintos onde gravitam ideias, teorias e imaginações. Se cria, se transpõe, se conclui, também pode lembrar-se que, sentado noutra cadeira, estará quem absorva a criação, entenda a transposição, aceite ou não a conclusão. Para um privilégio fantástico, questões apenas lúcidas. Assim me parece.
A Editora, esse complexo e apaixonante mundo. Começa por ali a verdadeira caminhada daquilo que era apenas, e até então, algo íntimo. E que sedutor privilégio este de, em primeiro lugar, tomar o pulso do ritmo trazido numa história de palavras, num somatório de ideias e laços, num código de coisas sentidas. E que outras coisas ' de pensar ' mais? O de não abdicar de levar ao destino, o destino por onde se move e que é nem mais nem menos que o mundo do lado de lá, do outro lado da ponte que é a editora ela mesma, a outra margem, onde quem acolhe espera as novas que sabe desejar, adivinhar, pedir, ler e respirar. Para o privilégio de tornar universal palavras e momentos de inspirada solidão, a coragem e vontade da entrega a um papel que, não sendo de ribalta, carrega a responsabilidade de um parto e a fé no destino que espera um livro.
O Livreiro. Esse sortudo e desprotegido. Que melhor local para trabalhar do que cercado por todas as ideias do mundo, todos os gritos e desabafos, épicas contendas, tratados, de todos os povos, culturas e civilizações, de finais dramáticos ou apenas de vida? O local do tesouro mais acessível e democratizado? Talvez que aqui a questão da expectativa se deva transformar em simultâneo num pedido. Que não desista. Não desista nunca de batalhar a sobrevivência, por entre um mundo tão fugidio quanto é o de um povo que tantas vezes esquece esta dádiva de um livro à distância do querer.
Por fim o Leitor. E porque os últimos são os primeiros.
Privilégio? A solidão e quietude de um momento, cheio pela liberdade de viajar nas palavras de alguém que, algures no tempo e longe dali, quis abrir e dividir o âmago de uma história. A liberdade de gostar e não gostar, de abrir ou fechar um livro, de manusear, soltando ou encerrando, o voo ordenado ou desordenado de palavras que aprenderam a voar. E a ele, Leitor, se pede apenas que leia, leia e leia. Porque sem ele não há livros, sem livros não há ideias, sem ideias não há pessoas e sem pessoas não há vida.

Para a liberdade máxima, um esforço mínimo: manter a vida bem viva!