quarta-feira, 29 de abril de 2009

repetindo a magia ...


Há coisas que podemos repetir que não cansam. NY é uma delas! Falar de NY é outra. Este sitio no mundo é mágico. E, como diriam os soldados do bravo general La Palisse, é mágico porque tem magia. Tem a magia dos cheiros e das cores, das gentes, das locais e das do mundo inteiro, como se o mundo ali convergisse, se tocasse, se trocasse, se entendesse. NY é mágica, é o máximo, é um tesão, é tudo e nada ao mesmo tempo, é o tempo voado e pousado nas nossas mãos, nos nossos olhos, no nosso olfacto e no coração que nos faz bater. NY começa de manhã bem cedo e acaba de manhã bem cedo para começar de novo. Não acaba portanto. Não cabe num dia e dá-nos um dia que parece um retrato que guardamos, de um bocado de nós. Começa em qualquer lugar, rua, avenida ou cruzamento, pode pegar-se em NY como se pega num bocado de ar, com uma mão, com as duas ou simplesmente com o olhar, com o olfacto, com a ponta dos dedos.
Hoje, dia que calhou ser 29 de Abril, entrei no encanto desta cidade pela mesma porta que tantas vezes utilizo, chegando ao Ground Zero vindo no Path, correndo ao Essex World Café para o meu pequeno almoço de sempre, uma mão cheia de coisas gordas e boas, pedidas naquele fascinante mundo gritado num inglês de sotaque latino e que me faz sentir no mercado da Bolsa de acções dos componentes alimentares do inicio da manhã. Acompanho com o do costume, um Mocha Java e remato com um café que sai comigo e me acompanha noutro costume, ar livre e cigarro, como sempre .. e hoje uma vez mais. Depois, bem depois foi dia de subir toda a Broadway até Union Square, em busca de um livro encomendado por sms vindo do meu filho, passando e parando aqui e ali, em todos os Starbucks e seus Frapuccinos, em todas as esquinas com sombra que convidavam a descanso e um cigarro mais, no meio da turba de novaiorquinos que se começaram a despir com o calor. E acreditem, calor aqui é calor, e despem-se eles e elas, mais elas que eles, e elas de todo o mundo, e assim NY se vê invadida por peitos que espreitam, mamas do mundo que envergonhadamente se espraiam em pedaços de sol conquistado, não ao léu e à bruta mas a sair e espreitar por entre decotes e camisas de botões sem uso, e saiem elas, as mamas, e saiem eles, os olhares, e deitam-se nos parques todos, as mamas, os olhares, e as pessoas, todas as pessoas do mundo, porque aqui vive o mundo, vivem todos as cores do mundo e todos os seus sons e barulhos, NY é mágica repito, aqui congrega, mesmo sabendo que em tempo de calor congregar pode parecer estranho, mas congrega sim, junta num formigueiro sem fim todas as liberdades sonhadas, sonhos guardados, vidas corridas de todo o lado para todo o lado. Chegado a Union Square, derreado e derretido, amaldiçoados os All-Star que trago e que para estes passeios soltos na vida são um desastre, comprado um romance do imprevisível Koontz e seus enredos, sento-me no parque e em meio a gente que é gente de todo o lado, por entre almoços alheios sacados a talheres de plástico, com um bebida energética ganha em promoção e distribuição gratuita, sento-me e leio, apanho calor e vivo um pouco a pacatez do momento, embrenho-me, torno-me novaiorquino, e vejo mamas e olhares, folheio o livro, tiro a t-shirt e venha de lá sol também, tenho saudades de alguém e adoro este dia mais. Fiz tudo e nada, fui eu um dia inteiro por ali, sem trocar palavras e escutando milhões delas, trocadas por gente do mundo, do tal mundo todo, que se cruza e descruza na magia de ... NY !
Chega o fim do dia e algum cansaço, chega a vontade de começar um novo. NY, que não acaba nunca, nem dorme segundo canta a canção, vai estar por ali amanhã de manhã cedo !

quinta-feira, 23 de abril de 2009

tal não é ....

E longe, que longe, parece estar soldado
O dia de seguires teu sangue
O dia de abraçar o grito
Gritado em cabeça tua
Feito deus da liberdade
E que longe, que longe soldado
Parece o tempo ter ficado
Nas noites que foram tuas
Nos dias vazios de esperança

... já pensaste soldado, nos que te cruzaram o caminho, nos olhos de quem ficou, nas mãos vazias de quem não voltou, no vento trazido por quem nunca te chegou ..

E em ti
Por ti
À vida se agarrou
Vindo do tempo das flores cantadas
Arrancadas
Onde os sonhos tinham cores
E nome de liberdade
E tantas foram as noites
E os dias
De sangue sofrido na alma
De segredos apenas de dor
E tanta a coragem tua
Soldado
E na alma em que não crês
Na bravura que não vês
Ensinaste soldado

.. o caminho da gente assim, o lugar que fizeste teu, o passado que nunca morreu, sabias tu o caminho, descalço em paixão de vôo livre ...

E viste não sem espanto
Em ironias do céu
A loucura da certeza
Da liberdade assim lutada
E de novo
De novo soldado
A beleza de teu olhar
A certeza do teu amar
Do grito da gente que sente
E na revolta de quem não mente
E do esquecido dia lá longe
Trazido por noite fria
Veio a luz que eras tu
Nasceu teu soldado filho

... e aí soldado, diz-me que não conseguiste esconder, coração grande de mãe coragem, de quem morre pela cria, e aí soldado ... começou teu caminho nunca acabado, de novo foi teu o passado, e não morreu teu olhar..

De soldado
Que não sabia morrer
De loba
Que não pôde nunca ceder
E teu é
E tanto de ti tem
Quem trouxeste e trouxe também
O soldado que partiu
Em busca de vida sem vazio
Se morreres um dia soldado
Sabe que ficaste por cá
Naquelas mãos de criança
Naquele sorriso que é teu

... e não te vás sem guardar ... o quanto entraste e ficaste, em cartas que não escreveste, em sorrisos que não desistem, por todo o lado onde lutaste, por aqui mesmo também, no mais improvável dos sitios, no mais escondido lugar que são as tuas palavras ... que me atrevi a aprender, que não me impedi de escrever.
E não conseguindo evitar, atrever-me-ia a dizer-te assim ...

De ti veio o momento
De longe, lá bem longe
Da planície esquecida
Do frio que te acolheu
E meu fizeste
A mim me deste
De longe trouxeste
O bocado de vida sem fim
Naquelas mãos de menino
Com olhar de perdão e amor
Que ensinaste a olhar
Nos dias calmos em teu caminho
De soldado que não morre
E naquele amor
Naquele amor, soldado
É teu o sangue que corre

quarta-feira, 22 de abril de 2009

bee........

Mil eram as vidas e mil eram as pessoas e gentes, e mil os cheiros e mil as mãos, porque mil era coisa grande, era coisa de gente adulta, de mundo grande que não acaba, se esconde em ruídos e medos, coragens inventadas em sonhos sem amarras, e assim as mãos alcançavam o escondido lugar dos corações bons dos heróis das histórias, e escreviam e desenhavam, as mãos, os sonhos, tanto bocado imaginado, tanta a vida, tantas as coisas, mil pois eram, sem fim, como fim não tem o coração que aprende, agarra e abraça, e sendo assim, de mil gritos e mãos dadas, mil as corridas perdidas em fim nenhum, pois que viessem os dias e seus mistérios em cor e sabor, como um beijo de princesa deveria ser, princesa vida sem o beijo da morte. E disse aquela criança em lado nenhum e para ninguém, fantasma de mil deuses, porque mil eram os deuses e à gente grande pertenciam ....


Vi-te vida, vi-te na chuva
Saboreei-te no mar de inverno
E nos pássaros também
Em asas de bater e ir a voar
E no sol dos dias frios
Em rugas de pó de arroz
Em cheiros velhos de amor
E num sorriso, se ele houvesse
E ficasse
E nunca morresse
Numa linda mulher franzina
Que foi sempre o princípio
E nunca o fim
Das histórias
Daquelas histórias
Onde choro feliz
Te choro feliz
Vida

sábado, 11 de abril de 2009

diz-me tu .....


... e curioso no seu mundo de ecos perdidos perguntou-Lhe:

- Deus.. o que é ribombar ?

E deus lançou um trovão estrondeante e assim dividiu sua grandeza naquele momento, e assim se deu à crença, assim tocou seu filho.

- Deus, se me ouves, o que é ribombar ?

E de novo a Grande Luz fonte da Vida criou um trovão, desta vez mais majestoso em seu ensurdecedor abraço, e a terra o recebeu temerária, os animais se assustaram e os pássaros fugiram voando...

- Deus .... morrerei sem saber o que é ribombar?

Irado, escondidamente irado, abertamente desiludido, de novo em seu poder de Génesis e Apocalipse, lançou o Divino um fulminante trovão, o maior trovão que se houvera ouvido, uma descarga tal que em cima do descrente assentou e de tal modo assim aconteceu que a alma se libertou do corpo do pobre e subiu aos céus, mas tanto era o apego deste àquela que pôde visto o que nunca antes se vira, ainda que ninguém o tenho feito pois de um momento a sós se tratava, e o corpo subiu junto e assim Deus os dois recebeu em seu Céu sem fim, de arrependidos e pecadores.

No meio tempo, naquele bocado infinitesimal em que do terreno se chega ao celestial, quis o Todo Poderoso acreditar que valeria abrir os braços e receber o distante em sua fé e aceitação com a dignidade do momento e assim decidiu em sua inquestionável Lei e Sabedoria, e assim chegou o corpo, a alma também, por entre os acordes de uma cantata de Bach, assim começaria a nova e eterna do recém chegado.

E chegado o momento, o momento d' Ele e dele, foi o caso da indiferença tomá-lo, ao momento, e de novo a Ira de quem não se via escutado, e ao pobre foi indicado seu caminho, que fosse e descansasse, ou que tal tentasse, mas que fosse pelo caminho esculpido por entre nuvens escarpadas, e escuras também, e assim fizeram a alma e o corpo e se deu o inevitável, caíram, dos céus e do outro mundo da Nova Vida, caíram e chegaram à Terra e mortos voltaram ao seu lugar e se viram nascidos e condenados.

- Porque me castigas em tua impiedade ó Piedoso? E o que é ribombar ?

E os olhos de seu desconhecido filho Lhe mostraram, em suas lágrimas caladas e de tanto sal, que o querer da alma tudo superava e que aquilo que o corpo negava o querer atingia, e que a majestade do trovão estava no coração e não morria no silêncio de um menino nascido surdo, e assim deus se lembrou de Si e de ser Deus, deixou as liturgias e as odes de ouro e de promessas, desceu pelos braços do mesmo filho que fizera crucificar e aprendeu o Amor que o queriam fazer esquecer. E trouxe o Silêncio de seu céu, e o atou ao silêncio de seu filho e o beijou em perdão pedido. E ajoelhado perguntou:

- Diz-me tu ... diz-me tu o que é ribombar!




terça-feira, 7 de abril de 2009

velho

Diz-me velho, amigo do tempo
Fala-me de ti e de mais nada
Como se a vida parasse e te olhasse
Como se ela soubesse
Ou ela quisesse
Aprender no sorriso gasto que trazes
O tempo apagado em coisas fugazes
Ou ela
Vida rezada e chorada
Tida sonhada e temida
Vida tida porém perdida
Amarfanhada em ilusões
De não acabar como tu
Velho querido
Antigo amigo
Contigo sigo
Ouvindo-te parado
Assoberbado
Pelo modo como sorris
Fala-me Velho
De ti