sexta-feira, 29 de abril de 2011

filas, bichas, bilhas, fichas, coisas do diabo


Poderão as filas para as caixas de pagamento, ex-bichas, ter vida própria ? Ser omnipresente sua vestimenta do demo? Deveríamos acreditar que o capeta, o chifrudo, o rabudo ( sem alusão à ex-denominação de fila ), pouco mais teria para fazer que emanar-se por esperas em Pingo Doce's, bancos, postos de abastecimento, bilheteiras de cinema, finanças, informações, lojas de cidadão, eu sei lá que mais? És tu, ó proveniente das trevas, que me rebentas em bocados a paciência, sempre que me toca esperar? Porque envias hordas de necessitados de ajuda, de carenciados de atenção, de imbecis, de falhas de energia, de rolos de papel da registadora no fim, de trocas de turno, porque sacas do vácuo desvalidos quando chega a minha vez e tenho de ceder o lugar, porque não me trazes no lugar mesmo antes do meu, um necessitado despachadinho e sem mais problemas que sejam o de pagar e pronto, diz-me, diabo dum cabrão, porque fazes das filas onde tenho de quase pernoitar, os teus momentos de descarga emocional? Queres mesmo o quê, sua figurinha de fraco fervor ? Que leve alhos e crucifixos de cada vez que vou ao pão ou meter gasóleo? Não há alminha mais a quem rebentes minutos preciosos? É todo o coxo, todo o iletrado, toda a velhinha a pagar a água nos CTT antes de me chegar a vez de expedir correio, são todos para o mesmo? Mudaste-te para S. Pedro, segues-me para Lisboa, andas de beicinho por este desgraçado? Vem lá o Verão, queres mais o quê ainda? Tenho de largar a Marginal e ir por mar para não levar com os quatro piscas do da frente quando cai o verde ?
Pois este fim-de-semana faz-te à vida. Nem banco, nem cartas para mandar e como o que tiver no frigorífico. E mais, já realizaste se me desse pró rancor? É que para me atazanar os diazinhos, também já há que chegue para fazer bicha. Perdão, fila. Foda-se diabo, até na escrita me atrapalhas.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

CaRILho !


Algum dia teria de sair este desabafo. Por escrito, quero dizer, pois em resmas e paletes de charters, perdão de ' foda-se's ' já ele saiu no local próprio. Quem sai da A5 em direcção à 2ª Circular, naquela saída onde o condutor se delicia com o edificio de quinze andares onde ufana se encontra instalada a ROFF (vê Dr. Febrero que eu faço PUB sempre que posso ?), quem sai por aí entra numa tal de CRIL, ou meia CRIL vai para quase quinhentos anos ( eu disse quase! ) e vai desembocar à saída para a 2ª Circular numa bifurcação com espaço para umas quatro faixas, duas de viaturas normais, uma de autocarros da Carris e outra para peregrinações a Fátima, de joelhos ou a pé. E quantas faixas andámos a mamar durante décadas? Uma. Isso mesmo ... umazinha da silva.
Há uns tempos, e na perspectiva da CRIL sair da senda de Santa Engrácia, passámos a ter duas. Voilà .. resmas ... o dobro meus senhores. A vida de milhares e milhares de cidadãos sorriu. A dos condutores, a da família deles, e dos amigos, e dos amigos dos filhos, a vida de toda a gente melhorou, acabara-se a agonia deprimente de ter de optar pelo ' xico espertismo nacional de ir pela esquerda até ao fim, com o risco de apanhar um mono e ' su BMW e livrinho de multas ' logo ao fim da zebra, ou manter-se o cidadão respeitador naquele pára arranca com tempo de ler ' A Bola ' e levar com o forum TSF inteirinho.
Eis senão quando a tal de CRIL abre mesmo. Em pleno PEC, a CRIL faz-me mulherzinha e crescem-lhe os seios e tudo. Ainda que com sinalização a informar que o túnel está fechado ...
(mas que túnel, a malta sabe lá de que falam, nunca alminha por ali se aventurou antes), a CRIL abre e .... ZÁS! Reverte-se a duplicação espacial anteriormente responsável pela luz na vida de milhões de pessoas (relembremos os amigos dos amigos dos filhos, afins, conhecidos e vizinhos) e... voltamos ao de sempre. TSF, Bola, cigarros ( quem fume !) e ... mais uns ' foda-se ' em barda.
Mas ... e aqui a nuance das siglas ganha novos contornos, em tempo de PEC's numerados e FMI's, a sanha dos PSP's torna-se avassaladora. E, certo e sabido, incauto que entre no
' finzinho ' e roce a zebra, já foi! Os homens, suando em bica, não param, nem cuidam que por entradas e saídas nas ' boxes dos entalados ', arremedadas num espaço que dava para carros, sobrando para jardins com flores e fontes, possa haver caos maior ainda. No trânsito. Que Deus os mandou em missão proteger, guardar e guiar.
Chegados à Tuga Land, os rapazes do FMI, com exigentes instruções de alemães e finlandeses, sacam das calculadoras e, a cento e tal euros a encavadela dos arautos da CRIL e 2ª Circular, garbosos policiais de pedir meças ao Richard Gere em suas oficialidades e cavalheirismos, manhã atrás de manhã, a economia recupera antes que o Dow Jones diga o nome de ponta a outra. Vai-se a ver, se percebem que a coisa vai a eito, em vez de emprestarem ainda pedem mas é algum para ajudar e acudir a Espanha, Itália e Bélgica que estão sentados na cadeirinha do barbeiro à espera de sua tosquia.
A coisa tinha graça se nos aparecesse apenas em tempo de eleições, a malta fingia que não percebia que eram gelados pela testa, sorria, ia à bola e mandava a canalha fazer bébés. O broche, perdão, o sexo oral, é que temos de gramar isto todos os diazinhos, quando ainda por cima estamos atrasados para ir trabalhar, já descontando que estamos com o horário das 10 da manhã.
Mas será que não se arranjava lá pelos lados de Bruxelas uma faixazinha extra para este país periférico ?

segunda-feira, 11 de abril de 2011

pedras no caminho ... violinhos no CCB


Em certos dias cai chuva. Em dias iguais torra uma brasa dormente. E iguais são as gentes. Aos dias. Às chuvas. Aos sóis.
Calho sentado em frente ao palco. Espera-me o concerto. Que me calha pela frente, que irei sentado sentir ?
Um mundo. De banais crianças. De vontades imensas e braços desconcertados, alinhados, pensados, vadios e loucos em sua geometria, num concerto impossível, de acertada vontade.
E voo sentado mundo afora, na beleza imparável da liberdade das crianças, que são tantas e uma só, que nada sabendo dão a lição maior que sempre esquecemos, que na vulgaridade dos dias de chuva ou sol quente, pontapeamos pedras raras que afastamos com desdém.
Porque quando paramos, não sabemos parar. E vendo as pedras, as não entendemos. E ouvindo a música a tememos em sua divina veste.

- Foda-se, pensei, não era afinal local de falar, menos ainda de praguejar ... foda-se, porque será que nunca aprendemos que as pedras são dias escondidos, são secretos caminhos que a vida nos mostra e nos dá, como momentos de gente criança?

Deixei-me viajar nos arcos que dançavam nas cordas, como os índios em suas fogueiras, os negros em ancestral sabedoria, como os nativos das cidades sem dono e como os monges em clausura, viajei feito pirata, feito tuaregue, feito isto e aquilo, e entendi a magia pintada num golo único de meninos pélés, nas pinceladas celestiais e de cidades mártir, na escultura dos deuses e dos voos das baleias, e ia e ia, cavalgava naqueles arcos que eram setas, que eram gritos, que eram pedras, que eram tudo e nada mesmo, simples pedras raras no mesmo caminho de sempre.

Temi confundir de novo os dias. De chuva. De sol. Com pedras de afastar. Mas guardei a liberdade de voar com os arcos. E neles agarrar a alma. Minha! Assim podendo chamar o Poeta,

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.

e chamando-o, tendo-o, junto e voado até mim, vindo naquele torpor, pude mirá-lo no olho são e perguntar: que alma quero afinal viver ?