sexta-feira, 19 de novembro de 2010

homeless


Vagueio só, por entre vós
Penso vago em noites sós
Palavras que sois açoites
Em perdidas e idas noites
Pedaços de infindo fervor
Onde se inventava o amor

Quando em ruas tuas, cidade
Era uma vez uma história
Que nos lembrava de uma vez
Onde pouco importava a idade
Se não me atraiçoa a memória
Se não me engana a pequenez

Dos homens que fácil esquecem, e dos mundos que procuram, onde não cabem as noites nem dias, onde não vivem as letras de histórias ...

Onde não era vez alguma, noite em rua de ti cidade
Que não vagueassem sós, quem sabe por entre nós
Aqueles que de entre vós
Um dia o amor escutaram

Inventado e imaginado, e de pronto acreditado, em histórias uma vez contado, e era uma vez, essa vez, a única vez ...

Por isso cidade, em ti me acolhe
Em fim de dia sem noite avante
E se para me esquecer, não olhe
O homem de fraqueza bastante
Vã cidade, não contes a história
E nem de fracos
Nem mesmo de fortes
Guardes memória

Foto retirada daqui.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

pássaro


Nos entalhes
De teus detalhes
Poiso quedo, perplexo
No vazio
E esquecimento
Que triste, perpetuas

Como ousas
Querer voar ?
Pergunto e escuto
Abismado
Resposta apagada
Em detalhes e entalhes

Vive estátua homem
Imorredoira
Enquanto vôo eu
E mesmo parado
Afaga-me se cansada
De tantos sonhos teus


Fotografia de Teresa Maria Queiroz

domingo, 7 de novembro de 2010

Fernanda Mouro Vaz

Morreu Fernanda. Dito assim, é fácil de entender. Simples de absorver. Fernanda passa, com a sua morte, a ocupar um espaço diferente no mundo. Paradoxalmente, passará a fazer-se sentir mais ainda, dentro dos espaços que conquistou em vida de corpo. Onde passará uns larguíssimos anos mais por entre os vivos. Viva, portanto. Morreu Fernanda e cumpriu-se o ritual da passagem à terra que a guardará agora. Tal como quem teve Fernanda. Dentro de si.
Conheci Fernanda muito atrás no tempo, passámos a familiares por intrincado labirinto de laços de família. Mãe de Francisco. O Francisco que casou com Ana. Ana, minha irmã.
Fernanda era exemplo prático de uma educação com valores por vezes esquecidos nos dias de hoje. Na procura de sua correcta transmissão, de tais valores, tornava-se por vezes uma mulher de traços duros, de palavras poucas, porém atentas. Adorei todos os momentos em que a fiz rir, surpreendendo-se ela mesmo. Com a ousadia das minhas parvoíces. Com seu próprio riso. Busquei sempre o nosso caminho inventado, onde dividíamos o gosto pela família que era afinal dos dois. Perdoava-me as tontarias, abençoava-as rindo com gosto. Em momento algum falhou em sua bondade. Em momento algum tirou em demasia sua máscara de dureza. Em momento algum deixou de rir comigo. Em momento algum deixará de estar viva enquanto eu por cá andar!
Beijinho Dona Fernanda. Morreu, mudou de lugar de vida, passou a fazê-lo no sítio onde os corações se apertam em segredo. No dia 6 de Novembro. O mesmo dia em que nasci. Estamos guardados para ter laços não acha? Imagino-a a rir. E amo recordá-la assim!