quarta-feira, 28 de outubro de 2009

trilha

Trilha secreta, de deuses guardados
Rezava sina de um menino perdido
E infinitos os segredos desvendados
Acabados em dias de vazio sentido
E porque escondidos estavam e ávido abraçavam, os deuses vestidos em palavras indecifráveis
Sem secreta chave de corpo e alma
Sem corpo com calma, nem dias sem sangue, e na dor, nos gritos de bocados pois inomináveis
Em tardes apertando mão e palma
Querendo-te apenas, e tão somente
Trilha secreta, de deuses guardada
Escondida
E de deuses guardados
Dos nomes aprendidos em palavras que dizem coisas
Ensinam pouco
Servem de nada
Em segredos infinitos
Em vida ida, chorada e vivida, chorada mal querida
Na trilha fácil do deus ninguém

Sabias menina ninguém, menina de Tryzna, que as velas ardem, até ao fim, como nos disse Sandor?

sábado, 10 de outubro de 2009

pepetito

Da janela, da velha e eterna janela, Pepetito mirava a lonjura do céu e a calma das coisas, nele e por elas aprendera o caminho secreto para o tesouro das coisas escondidas, quietas e sentidas, sem mais que a simplicidade de existir em comunhão. Pepetito nunca o iria esquecer, aquele lugar onde saboreara pela primeira vez a beleza sem fim de uma esquecida erva daninha, o tamanho gigante do olhar num animal sem dono, o calor guardado na terra pisada, as palavras aprendidas feitas coisas no seu coração de rapaz simples, de ignorante das letras que não das iras e recompensas divinas, seus eram os horizontes pintados por Ele, as noites de ninguém para ninguém, de estrelas no céu que o frio apartavam em sonhos de paixões cantadas. Pepetito não sabia disso nada, sentia apenas tudo, como se a liberdade do grito em dia de nascença não se lhe tivesse apagado nunca, seu nome a guerreiro fosse homenagem e aos generais de certezas sábias representasse aviso. Pepetito iria conhecê-los, ai sim, iria sim, generais de vida encontrada, de ciência fraca, esmagada e sabida em terra de gentes vazias e por isso, talvez apenas graças a isso, não esquecera nunca aquela janela, a textura daquela parede quente em que se descobrira, encostando-se, tão somente se encostando, quatro anitos terias Petitozito ?.. isso, .. serias coisa de pequeno tamanho, e um mundo pela frente, tão cheio de perdidos trânsfugas, de amor acobardados, de estupidez completos e repletos, tão longe da mesma janela que era a deles, que era a do mundo envolto na simplicidade das manhãs, no cheiro eterno que não morre em vida tua, acabada ainda que esteja, mas com ela sempre e para sempre, o fácil caminho de entender sem letras a força selvagem de teu grito por deus de todos. Amaste aquele lugar Pepetito ... esse é teu lugar pois então... dizia de si para si em lugar de pouco segredo, e que vivam sem viver os amedrontados das idas certezas, da fraca frente que às vagas de fácil cama fizeram, por eles chorará a turba certa que a todos deus garante, a eles não aqueceu a textura, a eles assustou a enormidade de simplesmente se ser.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

celeste de manuel, maria dos dias de inverno!

Os pássaros de Outubro partiam, o cheiro a maresia voltava em seu charme de pouco sol, Manel voltava a pisar o gasto caminho de seus dias de pesca e solidão, o mar feito sua vida e memória, os gritos da criançada agora perdidos por escolas cinzentas que não lembrava já, apenas os baldios percorridos em quentura de mão de Celeste, velha Celeste da sua familia de Deus que não a dos homens, que bem caberias aqui, estas rochas são teus caminhos de mãe emprestada, aqui voaria teu avental de mulher eterna, sabes Celeste que não morrem os cheiros, sabes mulher que aqui te oiço em prantos de noites caladas, de tuas noites caladas de amor emprestado em cara de gente da cidade? ... e os pássaros Celeste .. os pássaros que voam sem parar porque não esquecem seus caminhos, e os peixes, peixes de uma vida minha, perdi a conta aos que conheci ... e as rochas, tanto mar ali batido, tanto amor ali esquecido ... amo Outubro Celeste, e seus dias de frio sem lugar no coração... aprendi a amar sim .... e apenas seguindo tuas palavras!
Ida, da vida desaparecida e despedida, com missa e rito de terra, há tanto mesmo que ninguém ousava recordar, a velha governanta não perdera nunca os olhos de seu menino, amava-lhe com saudade as mãos desajeitadas para a escrita, por ora velhas e retorcidas por uma inclemente vida de água e sal ... e lá do alto, do alto por onde voavam os pássaros de Outubro, aconchegava-lhe as noites, ajeitava a manta protectora de invernos sós e de ninguém mais ... e recordava como um dia entrara em sua vida o mais improvável amor ... Como os pássaros que ensinara a observar, Celeste não perdera seu rumo nunca, não esquecera pois a hora, em que a vida a fôra buscar...!