quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

coisas que ficam para sempre ...

'Janas, Ranas, Catrapanas'. Ou uma manhã no Pina Manique. Os gaspachos. A mostarda a chegar ao nariz. Um Ford Taunus 17 m. Uma noite de fonte luminosa em Belém. As idas à gelataria Itália depois do jantar. O cabelo branco desde sempre. ' Alea jacta est '. As idas a Alvalade onde nasci para o encarnado. Um amor na hora certa. Um porto seguro.
Grande Necas.
A malta segue o teu caminho.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

vamos imaginar


Sinuosos são os caminhos do senhor!

Embora conheçamos o Senhor, embora possamos dar de barato a sua existência ainda que nunca tenhamos tido a ocasião de lhe pôr a vista em cima, facto que aliás nos torna diferentes do santo Tomé, embora tudo isso pois então, atentemos se de facto não são por vezes tortuosos para imediatas compreensões.
Estamos no campo e espaço reservados aos Amigos, que o são em número afinal tão curto e precioso e ...
Imaginemos então que um gajo ( gajo ganha nesta narrativa a lógica da criação do termo, pois quando falamos de alguém e imaginamos que esse alguém podemos ser nós, dizemos gajo e cagamos na opção ' indivíduo' ), imaginemos dizia eu, que num belo dum dia um cabrão de um pequeno sinal a que sempre achámos graça no nosso corpo ganha vida própria e desata num destrambelho e descontrole de multiplicação de células. Se à partida essa merda já é irritante, o que não será quando à desenfreada multiplicação o médico põe a etiqueta de cancro.

- Cancro, caralho? ... pensaríamos de imediato!
- Foda-se, logo a mim ? ... acrescentaríamos por certo.

Como certamente todos sabemos, neste ponto nem a missa vai a metade, nem a procissão saiu do adro, nem um gajo ( lá está ) faz ideia do que fazer com merda tão grande, que não nos larga, nem à noite e um gajo ( de novo!!) para adormecer é o caralho, como aprendi a dizer em novo nos Olivais Sul.
Se depois de uma catrefada de exames c'até chateiam, por serem tantos, por serem em sítios onde se espera c'umá merda para os fazer e ... acima de tudo, porque são à volta do cabrãozinho felpudo que se multiplica e estamos ali com ele, por causa dele, e ele nem uma atençãozinha de se esvair e bazar, se depois disto aparece o verão e o calor, os amigos bazam todos para a praia e nós, ou melhor, um gajo, sol nem por um canudo, pois nessa altura maldizemos de novo a vida, mas ainda achamos que a coisa há-de ir lá! E se o doutor que analisa os estragos do carcará sanguinolento, para não usar de novo a palavra cancro, se esse doutor nos diz para nos habituarmos à sombra e à chuva que será bem melhor, então um gajo pensa como é que vai trabalhar de novo se o que fez durante perto de trinta e tal anos foi levar um pesado pela estrada fora, apanhando-o bem de frente e na fronha, o tal de sol, como quem bebia copos de água. E não sendo novo um gajo, nem velho, a verdade é que não é agora que se volta para a escola e começa tudo de novo, e mesmo voltando, e mesmo aprendendo, a pessoa vai para tentar arranjar outro meio de sustento e as negas parecem o cancro, multiplicam-se dez vezes mais que os pães de Jesus.
Tudo junto, e quando o que mais nos fode já nem são as tais células que teimam em assentar arraiais e procriar à maluca, depois de bisturis e mais bisturis, mas não dos de pôr mamas ou tirar gordurinhas, depois do tesão supremo de passar horas a remoer em esperas em centros de saúde, ou de pouca saúde, tudo isto junto nos leva por fim à junta, onde os mesminhos doutores, repetindo Hipócrates, juraram por Apolo, Asclépio, Higia e Panacea a eles conclamando como testemunhas, juraram entre outras coisas algo como isto:
'Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém. A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda. '
E um gajo fia-se nisto e pelo menos fica a pensar que o homem escreverá em declaração honrada que lhe está vedada, a um gajo entenda-se, a possibilidade de bulir onde e como sempre buliu. E tendo por perto dos cinquenta e muitos, e por muito que pareça estranho, a pessoa ganha o supremo direito de se entreter na sua reforma a combater o filhinha da puta do cancro que entretanto nada mais arranjou para fazer que continuar a crescer como as flores.
A merda é, e aqui merda é até coisa suave, que depois duma junta vem outra, e depois outra, e enquanto um gajo não saca de uma saca de células multiplicadas e as oferece com um chá ao doutor, enquanto um gajo não se apresenta ao novo exame dentro de um saco preto com etiqueta e tudo, eles não percebem nem saiem de cima. Com boa vontade até se acredita que por entre as preocupações da troika e uns quantos casos de reforma à papuço e à portuguesa, a coisa imponha alguma atenção e cuidados. Mas se depois de espiolhado por dentro e por fora, sempre com o bicho em grande e de saúde, atenção que aqui o bicho não é um gajo, o bicho é o bicho mesmo, se depois disto tudo chega uma cartinha a dizer que ' ah pois e tal, não dá, se quiser arranje de novo consultas e relatórios, foda lá mais uma pipa de massa que depois logo vemos' , então nessa altura um gajo desiste, vira-se para deus e pede clemência, que mande de lá mais células com o software avariado, que se entretenha em seus sinuosos desígnios, mas que nos poupe a sinuosos atrasos mentais.
E um gajo, porque fica queimado e não quer meter a pata na poça, escreve uma carta a autorizar os amigos que lhe trasladem as ossadas, quando os doutores da mula russa chamarem a nova junta, e nem tenham estado presentes na missa de um ano. De um gajo.

domingo, 21 de agosto de 2011

enquanto espero ...


Enquanto espero pela final do Mundial de Sub 20 .. faço um zapping e tropeço num programa da ESPN.
Juca Kfouri entrevista Gustavo Kuerten, Guga como ficou conhecido no mundo do ténis, na passagem do décimo aniversário da conquista da terceira vitória em Roland Garros
Escuto calado, encantado. Suspendo os cigarros e o zapping. Quase suspendo as horas e o zumbir da respiração
Que encanto, interesse, genuinidade do entrevistador.
Que encanto, classe e paixão do entrevistado.
Que espere o futebol e suas finais.
Momentos assim, vindos num inesperado teclar de um comando de televisão, significam que muitas vezes os bons momentos estão numa esquina à nossa espera.
Obrigado Juca. Obrigado Guga !

terça-feira, 16 de agosto de 2011

contacto com a entidade


Hoje foi o dia. Em que apanhei, ou fui apanhado, por um vislumbre do divino. Batiam as dezasseis horas e um compromisso em Lisboa, com limite de apresentação às dezoito, tornava a minha situação definível nos termos ' com pressa ou perto disso ', o que significava em termos práticos que qualquer percalço no caminho poderia fazer aumentar os níveis de pressão e ansiedade que estas coisas comezinhas de ser pontual carregam. Adiante. Havia apenas que dar um salto aos CTT, a fim de resgatar carta com registo e passar na BP para um rápido café. ( att. que a menção e publicidade de siglas ou firmas não colhe censura em textos particulares ). Chegado à instituição de utilidade pública, uma bicha de três pessoas à minha frente não era caso de trazer preocupação, a não ser pelo facto de uma maldição da qual nunca me livrei, qual é a de nestas situações me deparar sempre com casos dignos do fantástico e do além. E é aqui que entra o divino. Deus, num momento de descontracção, resolve defender a sua teima em não me ajudar neste diferendo com esperas e ...zás! Os utentes em acção antes da minha vez, quando eu era já o primeirinho que se seguia no atendimento, sacam de uma panóplia de necessidades no seu atendimento de pedir meças ao mais inventivo argumentista de longas metragens. Creio que ao envio de vales em dinheiro a requerer o preenchimento de documentação de criar calo nos dedos, juntando aquele tipo de pagamentos e transferências burocráticas que alguns funcionários de escritórios efectuam naqueles balcões ( porque será que sendo mulheres são sempre feiitas e de pandeiro descaído, sendo homens ataviam-se garantidamente de óculos e bigode? ), mais os inevitáveis erros no preenchimento dos formulários de mil questões e demoras no sistema, a tudo isto creio que se preparava o bom deus para juntar um eventual rompimento das águas, por parte da grávida, ou um acidente vascular cerebral em câmara lenta por parte do cavalheiro que ocupava o balcão dois, de modo a eternizar a agonia do próprio e de quem se seguia! Não que deus não tivesse mais nada com que se ocupar, aliás se se desse à atenção de dar uma mãozinha a este País que tanto o venera, que toneladas de cera em velas e joelhos em sangue lhe dedica e oferece, bem que a figura celeste teria bastante com que se entreter. O azar, do escriba neste caso, é que terá apanhado o pai da humanidade num simples intervalo para café e cigarros ( se o seu poder é ilimitado, não creio que dispense estes pequenos prazeres, atirando para o campo da sua imunidade as questões de saúde e as monetárias ). Saído então dali com algo como trinta minutos gastos no meu tempo já de si em situação de aperto, como acima confessei, a paragem na BP obrigava a que nada saísse do eixo. Entrado na bicha de cinco pessoas, contando com a rapidez que os caixas daquele posto sempre garantem, opto pelo caixa do balcão dos cafés quando chega a minha vez, sabendo que o cliente que por ali terminava a sua actuação remexia já nos trocados. E, de novo, deus faz soar a sua omnipresença. Um extra de última hora, mais o carregamento dos pontos no cartão de fidelização, a factura com nome e número fiscal da empresa, um pequeno compasso enquanto atende uma chamada, eis que uma catarata de imprevistos torna o momento carregado de nuvens de tom negro. A bica, antes ainda de ser bebida, tornara-se num verdadeiro bico, melhor ainda, num broche por terminar, utilizando uma expressão menos polida mas de melhor força e justiça no que toca ao efeito daquela demora.
Faltava percorrer a avenida Marginal, parte da A5, e chegar à Av. 5 de Outubro, ou seja um verdadeiro manancial de oportunidades para deus me arrumar com a estocada final ( como se ele necessitasse do trânsito e suas vicissitudes, logo ele, capaz de sacar de um engarrafamento no Samouco em fim-de-semana com ponte se para tal fosse desafiado ).
Ciente de que o descalabro acabara de se vestir e aprontar para a festa, fui tratando de interiorizar que o compromisso em Lisboa estava muito comprometido, isto para não assumir desde logo que passara à história com falta de comparência. Fiz-me à estrada, no sentido literal da coisa, e percorri então os cerca de vinte e cinco quilómetros em permanente estado de alerta, a fim de acolher com uma travagem em segurança a inevitável bicha que o bicho ( perdoe-se-me a heresia, mas utilizo a expressão com carinho e modo quase reverencial ) certamente me preparava. E foi neste entretém que o superior poder, de formato que ninguém em boa verdade pode descrever, se revelou em sua garantida imensidão. Espreitando a cada esquina, curva ou lomba na estrada, no formato de previsão de infindável bicha de trânsito de geração espontânea, acabando afinal por saborear a sua dose de cafeína e nicotina em paz, deixando-me só e abandonado a uma dantes nunca vista fluidez no tráfego que me entregou ao meu compromisso com cinco minutos de avanço. Em sua indiferença, satisfeito com a dose de concentrada e evidente presença na espera postal e ao balcão do posto de abastecimento, eis que me obrigou a olhar o céu ( por lá se comenta que passa grande parte do tempo ) e afirmar para mim mesmo:
Pronto, está bem ! Existes !

domingo, 24 de julho de 2011

fernando


E um dia percebo que por entre amigos trazidos num labirinto de viagens, num caos de convivências incertas, há um sorriso feito sabedoria que nunca muda, e pergunto-me porque será que nunca muda mesmo, e ele repete-se em infinitas vezes que o cruzei, fica gravado em pequenas palavras, rápidas por vezes, rápidas demais diria hoje, de quem tanto se vive em efémeras passagens cruzadas, e por sorte e por vezes palavras que se transformaram em tão boas conversas, onde me deste o prazer de querer eu estar calado, assim podendo ouvir-te e abertamente aprender, secretamente crescer. Quantas vezes te terei repetido que me lembravas o Dustin Hoffman ? E porque nunca te confessei que adorava o Dustin Hoffman porque me trazia a sensação de alguém com algo para me ensinar ? Mas isso percebeste. Percebeste, não percebeste Fernando? Que falar contigo, sempre foi, e sempre será, assim saiba eu lembrar-me do teu sorriso franco e tolerante, que falar contigo é uma parte boa que em boa hora descobri na minha vida. Onde descobriste um sorriso assim?

quinta-feira, 23 de junho de 2011

embasbaquei ...

Vi em directo, embasbaquei, assisti ao MOMENTO irrepetível de futebol, à coisa, à MAGIA, à brutalidade que sai da imaginação, dos pés, da garra, da alma, obra perfeita de Deus, com os pés, después de ' la mano de Dios'.
Neste dia Diego, neste bocado de coisa louca, conquistaste a única lágrima de emoção que o futebol me sacou sem ser pelo Benfica da minha vida.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

o intrínseco de Manolo



Debaixo do cipreste, Manolo indagava-se se seria perscrutável a prescritibilidade das coisas da honra. Havia muito que o apodavam de boi e o facto era sim que a dor de adorno assim se revelava em sua débil moral, trazendo exangue sua alma de macho. Maldita terriola que gente de tomates esfola, em sua pequenez, em gula tola de cego cerco a ameia alheia.
A conífera assistia impávida em sua vegetalidade, presença fantasmeada que nada poderia testemunhar em bem à verdade, pois longínquo estava o facto, em tempo e local, creditava-lhe o deus terreno o destoado papel de protector solar do corno. Solar e amigo, pois ainda que de ombros falha, não se coibia Manolo de a envolver em prantos e desencantos por desdita cruel da ávida turba. Impávido ele, o cipreste, acolhia o tolhido e leso adornado, falho de tesões em seu talhão caseiro. Corno fosse, que companhia trouxe a tardes infindas e improfícuas, horas de abandono no monte a monte para gentes idas ou em debandada. Bendito sejas Manolo, tu e teu par, se tal é o preço para não morrer só, pensava o velho Cupressus.


.... Dobrada que estava a quantidade de falatório entre os casados Manolo e Maria, debandou aquele rua afora, e se as ruas eram parcas e poucas em distâncias, em menos de um fósforo adentrava o tasco de Ti Tonho Cruz, repleto de cheiros de pouca recomendação, moscas residentes e imbecis encartados.

- Bom dia Ti Cruz, é meia de branco.


... - Tás bem ? ... ouviu gritar.
- Saio já, saio já ... retrucou embaraçado, atordoado pela queda abrupta dos altos a que se transportara, atarantado pelo tamanho da coisa, fosse ela a preocupação de Maria ou a demora da purga cutânea.

Ensaboado como não tinha memória, enxuto agora, olhou-se ao espelho e retorceu nariz e bigode ao desenho embaciado de si mesmo. Puxou da navalha e de um trago aviou a bigodaça de cidadão, figura que se lembrava de ostentar desde os tempos de fim da tropa, passou nívea à falta de melhor, penteou-se com empenho e desvelo e rumou à cómoda de seus poucos trapos, onde por certo encontraria algo à altura de vestir sua nova alma e gente.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

bailando


Está calor, imenso calor naquela tarde. Naquela sala. Baila-se compassado, ritmado, toca-se o corpo, um corpo gasto que não se deixa acabar. Nem pelo calor, que é tanto naquela tarde, nem pelos dias assim tão iguais em tantas tardes de passos dançados em busca de vida menina.

- Que calor meu Deus, pensa de si para si Maria José, Mizé como é tratada, que calor meu Deus, pensa enquanto baila e não troca um passo, enquanto agarra e conduz Mário, Márinho como lhe chamam.
- Que calor, caralho, que calorão do caralho, logo hoje dia de baile, pensa Mário, ou Márinho, ou Marito, como teimam em adorná-lo, deixa-se ir em trejeitos de bailador, olha de relance o balcão e suspira por uma pausa, necessária, que calor imperial, que necessidade intemporal, o corpo de Maria, ou de outras Marias, a sede traiçoeira, amiga afinal de tanta tarde com os homens, mas ali não conta, estica os dedos em fantasias de tango, e dança, dança vida afora, como quem se busca perdido em terra que já esqueceu.

Toca uma música sem lugar, misturam-se os ritmos, cantados, sofridos e dançados, sintetizados, acompanha em voz o rapaz novo encarregado de dar o mote, a dica, a dança.
Poisam quedas mas vivas as garrafas, tanta cor e tanto álcool, doce, forte, amargo, traiçoeiro, fresco a jorrar de sujos barris, indiferente ao calor, que é tanto e tão desejado, tão esquecido do sabor dos corpos que suam, dançam e se entreolham, se querem sem segredo, se pedem oferecendo-se.

Dança Idalina já meio cega, dança surda e sem enganos, abraça-a e fá-la voar Lurdes, eterna amiga de sempre, de zangas e comadrios, de namoros disputados, de gasto de vida, Lurdes é sua, como é seu o seu cheiro, sua pele velha e gasta, como nossas são as flores que cuidámos uma vida e morrendo as cuidámos vivas.

Está calor, como já alguém referiu, um imenso calor. Um calor do caralho, de gente que não se deixa morrer.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

filas, bichas, bilhas, fichas, coisas do diabo


Poderão as filas para as caixas de pagamento, ex-bichas, ter vida própria ? Ser omnipresente sua vestimenta do demo? Deveríamos acreditar que o capeta, o chifrudo, o rabudo ( sem alusão à ex-denominação de fila ), pouco mais teria para fazer que emanar-se por esperas em Pingo Doce's, bancos, postos de abastecimento, bilheteiras de cinema, finanças, informações, lojas de cidadão, eu sei lá que mais? És tu, ó proveniente das trevas, que me rebentas em bocados a paciência, sempre que me toca esperar? Porque envias hordas de necessitados de ajuda, de carenciados de atenção, de imbecis, de falhas de energia, de rolos de papel da registadora no fim, de trocas de turno, porque sacas do vácuo desvalidos quando chega a minha vez e tenho de ceder o lugar, porque não me trazes no lugar mesmo antes do meu, um necessitado despachadinho e sem mais problemas que sejam o de pagar e pronto, diz-me, diabo dum cabrão, porque fazes das filas onde tenho de quase pernoitar, os teus momentos de descarga emocional? Queres mesmo o quê, sua figurinha de fraco fervor ? Que leve alhos e crucifixos de cada vez que vou ao pão ou meter gasóleo? Não há alminha mais a quem rebentes minutos preciosos? É todo o coxo, todo o iletrado, toda a velhinha a pagar a água nos CTT antes de me chegar a vez de expedir correio, são todos para o mesmo? Mudaste-te para S. Pedro, segues-me para Lisboa, andas de beicinho por este desgraçado? Vem lá o Verão, queres mais o quê ainda? Tenho de largar a Marginal e ir por mar para não levar com os quatro piscas do da frente quando cai o verde ?
Pois este fim-de-semana faz-te à vida. Nem banco, nem cartas para mandar e como o que tiver no frigorífico. E mais, já realizaste se me desse pró rancor? É que para me atazanar os diazinhos, também já há que chegue para fazer bicha. Perdão, fila. Foda-se diabo, até na escrita me atrapalhas.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

CaRILho !


Algum dia teria de sair este desabafo. Por escrito, quero dizer, pois em resmas e paletes de charters, perdão de ' foda-se's ' já ele saiu no local próprio. Quem sai da A5 em direcção à 2ª Circular, naquela saída onde o condutor se delicia com o edificio de quinze andares onde ufana se encontra instalada a ROFF (vê Dr. Febrero que eu faço PUB sempre que posso ?), quem sai por aí entra numa tal de CRIL, ou meia CRIL vai para quase quinhentos anos ( eu disse quase! ) e vai desembocar à saída para a 2ª Circular numa bifurcação com espaço para umas quatro faixas, duas de viaturas normais, uma de autocarros da Carris e outra para peregrinações a Fátima, de joelhos ou a pé. E quantas faixas andámos a mamar durante décadas? Uma. Isso mesmo ... umazinha da silva.
Há uns tempos, e na perspectiva da CRIL sair da senda de Santa Engrácia, passámos a ter duas. Voilà .. resmas ... o dobro meus senhores. A vida de milhares e milhares de cidadãos sorriu. A dos condutores, a da família deles, e dos amigos, e dos amigos dos filhos, a vida de toda a gente melhorou, acabara-se a agonia deprimente de ter de optar pelo ' xico espertismo nacional de ir pela esquerda até ao fim, com o risco de apanhar um mono e ' su BMW e livrinho de multas ' logo ao fim da zebra, ou manter-se o cidadão respeitador naquele pára arranca com tempo de ler ' A Bola ' e levar com o forum TSF inteirinho.
Eis senão quando a tal de CRIL abre mesmo. Em pleno PEC, a CRIL faz-me mulherzinha e crescem-lhe os seios e tudo. Ainda que com sinalização a informar que o túnel está fechado ...
(mas que túnel, a malta sabe lá de que falam, nunca alminha por ali se aventurou antes), a CRIL abre e .... ZÁS! Reverte-se a duplicação espacial anteriormente responsável pela luz na vida de milhões de pessoas (relembremos os amigos dos amigos dos filhos, afins, conhecidos e vizinhos) e... voltamos ao de sempre. TSF, Bola, cigarros ( quem fume !) e ... mais uns ' foda-se ' em barda.
Mas ... e aqui a nuance das siglas ganha novos contornos, em tempo de PEC's numerados e FMI's, a sanha dos PSP's torna-se avassaladora. E, certo e sabido, incauto que entre no
' finzinho ' e roce a zebra, já foi! Os homens, suando em bica, não param, nem cuidam que por entradas e saídas nas ' boxes dos entalados ', arremedadas num espaço que dava para carros, sobrando para jardins com flores e fontes, possa haver caos maior ainda. No trânsito. Que Deus os mandou em missão proteger, guardar e guiar.
Chegados à Tuga Land, os rapazes do FMI, com exigentes instruções de alemães e finlandeses, sacam das calculadoras e, a cento e tal euros a encavadela dos arautos da CRIL e 2ª Circular, garbosos policiais de pedir meças ao Richard Gere em suas oficialidades e cavalheirismos, manhã atrás de manhã, a economia recupera antes que o Dow Jones diga o nome de ponta a outra. Vai-se a ver, se percebem que a coisa vai a eito, em vez de emprestarem ainda pedem mas é algum para ajudar e acudir a Espanha, Itália e Bélgica que estão sentados na cadeirinha do barbeiro à espera de sua tosquia.
A coisa tinha graça se nos aparecesse apenas em tempo de eleições, a malta fingia que não percebia que eram gelados pela testa, sorria, ia à bola e mandava a canalha fazer bébés. O broche, perdão, o sexo oral, é que temos de gramar isto todos os diazinhos, quando ainda por cima estamos atrasados para ir trabalhar, já descontando que estamos com o horário das 10 da manhã.
Mas será que não se arranjava lá pelos lados de Bruxelas uma faixazinha extra para este país periférico ?

segunda-feira, 11 de abril de 2011

pedras no caminho ... violinhos no CCB


Em certos dias cai chuva. Em dias iguais torra uma brasa dormente. E iguais são as gentes. Aos dias. Às chuvas. Aos sóis.
Calho sentado em frente ao palco. Espera-me o concerto. Que me calha pela frente, que irei sentado sentir ?
Um mundo. De banais crianças. De vontades imensas e braços desconcertados, alinhados, pensados, vadios e loucos em sua geometria, num concerto impossível, de acertada vontade.
E voo sentado mundo afora, na beleza imparável da liberdade das crianças, que são tantas e uma só, que nada sabendo dão a lição maior que sempre esquecemos, que na vulgaridade dos dias de chuva ou sol quente, pontapeamos pedras raras que afastamos com desdém.
Porque quando paramos, não sabemos parar. E vendo as pedras, as não entendemos. E ouvindo a música a tememos em sua divina veste.

- Foda-se, pensei, não era afinal local de falar, menos ainda de praguejar ... foda-se, porque será que nunca aprendemos que as pedras são dias escondidos, são secretos caminhos que a vida nos mostra e nos dá, como momentos de gente criança?

Deixei-me viajar nos arcos que dançavam nas cordas, como os índios em suas fogueiras, os negros em ancestral sabedoria, como os nativos das cidades sem dono e como os monges em clausura, viajei feito pirata, feito tuaregue, feito isto e aquilo, e entendi a magia pintada num golo único de meninos pélés, nas pinceladas celestiais e de cidades mártir, na escultura dos deuses e dos voos das baleias, e ia e ia, cavalgava naqueles arcos que eram setas, que eram gritos, que eram pedras, que eram tudo e nada mesmo, simples pedras raras no mesmo caminho de sempre.

Temi confundir de novo os dias. De chuva. De sol. Com pedras de afastar. Mas guardei a liberdade de voar com os arcos. E neles agarrar a alma. Minha! Assim podendo chamar o Poeta,

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.

e chamando-o, tendo-o, junto e voado até mim, vindo naquele torpor, pude mirá-lo no olho são e perguntar: que alma quero afinal viver ?

terça-feira, 22 de março de 2011

secreta ambição


Bebo um café e dirijo-me à caixa para o pagar. O café soube-me bem, acompanhei-o de um cigarro enquanto usufruí de um sol que parece querer regressar.
Pago com uma nota de cinco euros, a quantia de 0,65 €.
Aposto comigo mesmo que a senhora me irá perguntar se não tenho ' mais pequeno ' ( certamente referindo-se ao dinheiro apresentado para pagamento ).
Aguardo uns segundos e ...

- Não tem mais pequeno ?

Pondero algumas respostas:
- Tenho, mas resolvi testar a capacidade de reacção da caixa !
- Tenho, mas adoro andar com os bolsos cheios de ' cascalho ' e passo a vida a beber cafés e a pagar com notas, por vezes até de 20 ou mesmo 100 €.
- Tenho, mas com 48 anos de idade nunca imaginei que me fosse pedir uma coisa dessas!
- A sério ? Para quê ?

Resolvo pela simplicidade.

- Não, não tenho!

A senhora abre a caixa registadora e reparo que existirão por ali cerca de vinte ou trinta euros de moedas, em trocos!
Pergunto:
- Mas porque queria mais pequeno ? ( o montante com que paguei, claro ).
- Porque posso precisar de trocos !
- Para quê?
- Para dar a um cliente que necessite!

Eu era o tal cliente que necessitava, pensei. Eu era a oportunidade da senhora brilhar, dando o troco sem a eterna questão que a banalizava. Eu era o tal.
O amontoado de ' moedâme ' que habitava a caixa, deixava entender que ... ou alguém havia ido trocar ao banco uma nota das boas préviamente, a fim de capacitar o estabelecimento à ciclópica tarefa de dar um troco ... ou a diligente senhora havia anteriormente martirizado uma série de utilizadores do serviço com a questão da existência, por parte dos mesmos, da posse ou não de maiores pequenezas.

Recebi o troco, a demasia como aprendi em pequeno, fui-me acendendo outro cigarro e pensando. Talvez a senhora fosse apenas ambiciosa, talvez apenas desejasse o momento orgásmico do troco sem pergunta numa situação tipo ' golo fora da área ' ... quereria certamente encarar um cliente a pagar um ' carioca ' ( cinco cêntimos menos que a costumeira ' bica ' ), sacando de um ' travel cheque ' no valor de 10 000 €. Ao que ela, impante, reagiria sem pestanejar ou questões métricas, virando a caixa de pernas para o ar, fazendo ressoar o tilintar mágico de quem possui trocos até que a Lua volte a ter o tamanho da de há uns dias!

Talvez fosse isso apenas. Talvez!

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

benção

Criada seja e eterna
Perene mesmo
Assim mesmo divina
Que não morra e disso cuidem os Homens
E façam-na toda
E de todos
E de tolos

Afiançai e cuidai que
A não reconheçais
Mesmo
Porque a esmo
Viverá em nós e vós
Bendita pois sejas
Mediocridade

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011