Completara-se o terceiro dia seguido sem chuva, Raul Diaz perguntava-se a quem tal fenómeno poderia interessar, três dias a seco, gota de água nem vê-la, o facto era que assim rezava seu dia, um calor tórrido por companhia, o mundo algures girando por certo em torno de si mesmo, si mundo, não si Raul, com dilúvios certos aqui e ali, melhor, ali e algures, e ele Raul cavava, não fazia ideia se por necessidade se por distracção, o facto é que cavava, dezassete metros já lá iam, a olho medidos mas nunca menos que dezassete por certo, tantas vezes o meio metro de seus braços acima abaixo, areia na mão, areia longe, o buraco ganhava proporções bíblicas, quanto mais fundo mais escuro, mais longe, mais fresco, mais nada, mais tudo, Raul cavava e cavava, e o sol dançava em sua inclemência, do astro claro, e os dias passavam seguidos em horas que não se tocavam, três já lá iam como vimos, e por ali, lugar deserto de humanas espécies, habitava bicharada fugida ao esculpir divino, eram mais coisas do diabo por certo, tal era seu à vontade naquela frigideira arenosa, dengosa, para quereres perigosa, deus não quereria ter feito aquilo, nem mesmo aquele em que não acreditava, um deus pequenino e vazio sem respostas para as suas mais que humildes súplicas de ser criado à sua imagem, Raul Diaz sentia-se cansado do vazio vindo de todo o lado, por isso cavava, quem sabe se vinte metros já lá iriam, mas a quem poderia isso interessar senão aos mesmos a quem pudera cativar interesse o terceiro seguido sem chuva, dia claro, ou seja nenhuns certamente, e assim veria seu dia acrescentado de um significado envergonhadamente escondido, como tantas vezes vira e aprendera a fazer na sua ida e despachada gente de perto, a quem guardara os cheiros e vozes algazarreadas, e não existindo este termo aqui cabe na mesma, quem disse que existe Raul, Diaz de família, perdido e cavando em sitio que tão bem sabemos e ao mesmo desconhecemos, mesmo o quê perguntar-me-ão .. tempo talvez, como se ele houvesse sem ser parado assim em escavações imaginadas, como pudesse eu saber, apenas porque em relato testemunhei essa falsidade feita gente acabada em buraco ganho a duras penas, repetidas braçadas, num repetido sono de repetida inconsciência de um inventado sul americano que juro em vida nunca ter visto. Mas o facto, inegável, porque assim se nos apresentava Raul, era que se completara um dia mais, sem pingo ou gota de água e o mundo continuava a girar...
foto retirada do blog .. http://jotedigo.blogs.sapo.pt/arquivo/2005_01.html
3 comentários:
Uma seca de deixar água na boca :)
Apanhaste-lhe o jeito. A lembrar um elefante em viagem. Assim Raul Diaz tivesse essa sorte, na sua busca desesperada de encontrar pingo ou gota de água…é que o post de “seca”nada teve.
Ler-te é como ler um excerto de um livro que nos delicia.
Postar um comentário