terça-feira, 16 de agosto de 2011
contacto com a entidade
Hoje foi o dia. Em que apanhei, ou fui apanhado, por um vislumbre do divino. Batiam as dezasseis horas e um compromisso em Lisboa, com limite de apresentação às dezoito, tornava a minha situação definível nos termos ' com pressa ou perto disso ', o que significava em termos práticos que qualquer percalço no caminho poderia fazer aumentar os níveis de pressão e ansiedade que estas coisas comezinhas de ser pontual carregam. Adiante. Havia apenas que dar um salto aos CTT, a fim de resgatar carta com registo e passar na BP para um rápido café. ( att. que a menção e publicidade de siglas ou firmas não colhe censura em textos particulares ). Chegado à instituição de utilidade pública, uma bicha de três pessoas à minha frente não era caso de trazer preocupação, a não ser pelo facto de uma maldição da qual nunca me livrei, qual é a de nestas situações me deparar sempre com casos dignos do fantástico e do além. E é aqui que entra o divino. Deus, num momento de descontracção, resolve defender a sua teima em não me ajudar neste diferendo com esperas e ...zás! Os utentes em acção antes da minha vez, quando eu era já o primeirinho que se seguia no atendimento, sacam de uma panóplia de necessidades no seu atendimento de pedir meças ao mais inventivo argumentista de longas metragens. Creio que ao envio de vales em dinheiro a requerer o preenchimento de documentação de criar calo nos dedos, juntando aquele tipo de pagamentos e transferências burocráticas que alguns funcionários de escritórios efectuam naqueles balcões ( porque será que sendo mulheres são sempre feiitas e de pandeiro descaído, sendo homens ataviam-se garantidamente de óculos e bigode? ), mais os inevitáveis erros no preenchimento dos formulários de mil questões e demoras no sistema, a tudo isto creio que se preparava o bom deus para juntar um eventual rompimento das águas, por parte da grávida, ou um acidente vascular cerebral em câmara lenta por parte do cavalheiro que ocupava o balcão dois, de modo a eternizar a agonia do próprio e de quem se seguia! Não que deus não tivesse mais nada com que se ocupar, aliás se se desse à atenção de dar uma mãozinha a este País que tanto o venera, que toneladas de cera em velas e joelhos em sangue lhe dedica e oferece, bem que a figura celeste teria bastante com que se entreter. O azar, do escriba neste caso, é que terá apanhado o pai da humanidade num simples intervalo para café e cigarros ( se o seu poder é ilimitado, não creio que dispense estes pequenos prazeres, atirando para o campo da sua imunidade as questões de saúde e as monetárias ). Saído então dali com algo como trinta minutos gastos no meu tempo já de si em situação de aperto, como acima confessei, a paragem na BP obrigava a que nada saísse do eixo. Entrado na bicha de cinco pessoas, contando com a rapidez que os caixas daquele posto sempre garantem, opto pelo caixa do balcão dos cafés quando chega a minha vez, sabendo que o cliente que por ali terminava a sua actuação remexia já nos trocados. E, de novo, deus faz soar a sua omnipresença. Um extra de última hora, mais o carregamento dos pontos no cartão de fidelização, a factura com nome e número fiscal da empresa, um pequeno compasso enquanto atende uma chamada, eis que uma catarata de imprevistos torna o momento carregado de nuvens de tom negro. A bica, antes ainda de ser bebida, tornara-se num verdadeiro bico, melhor ainda, num broche por terminar, utilizando uma expressão menos polida mas de melhor força e justiça no que toca ao efeito daquela demora.
Faltava percorrer a avenida Marginal, parte da A5, e chegar à Av. 5 de Outubro, ou seja um verdadeiro manancial de oportunidades para deus me arrumar com a estocada final ( como se ele necessitasse do trânsito e suas vicissitudes, logo ele, capaz de sacar de um engarrafamento no Samouco em fim-de-semana com ponte se para tal fosse desafiado ).
Ciente de que o descalabro acabara de se vestir e aprontar para a festa, fui tratando de interiorizar que o compromisso em Lisboa estava muito comprometido, isto para não assumir desde logo que passara à história com falta de comparência. Fiz-me à estrada, no sentido literal da coisa, e percorri então os cerca de vinte e cinco quilómetros em permanente estado de alerta, a fim de acolher com uma travagem em segurança a inevitável bicha que o bicho ( perdoe-se-me a heresia, mas utilizo a expressão com carinho e modo quase reverencial ) certamente me preparava. E foi neste entretém que o superior poder, de formato que ninguém em boa verdade pode descrever, se revelou em sua garantida imensidão. Espreitando a cada esquina, curva ou lomba na estrada, no formato de previsão de infindável bicha de trânsito de geração espontânea, acabando afinal por saborear a sua dose de cafeína e nicotina em paz, deixando-me só e abandonado a uma dantes nunca vista fluidez no tráfego que me entregou ao meu compromisso com cinco minutos de avanço. Em sua indiferença, satisfeito com a dose de concentrada e evidente presença na espera postal e ao balcão do posto de abastecimento, eis que me obrigou a olhar o céu ( por lá se comenta que passa grande parte do tempo ) e afirmar para mim mesmo:
Pronto, está bem ! Existes !
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2 comentários:
Muito bom! :-)
A capacidade de transcrever uma cena de loucos, transformando-a numa hilariante comédia, acrescida de um hino ao bem escrever…diferente!
ELE, na volta existe mesmo e abençoa-te nas palavras ;-)))
Abraço AMIGO!
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