terça-feira, 17 de junho de 2008

marco ...conto de verdadeiro nada !

Marco, esse era seu nome, questionara-se desde sempre que nome era aquele, não de gente nem pessoa, achava, de qualquer coisa mas não de gente e no entanto era o dele, quer dizer o que usavam para o chamar, nunca a ele se ligara, Marco estava à porta da floresta, perguntava-se porquê, porquê ele ali e com aquele nome, nem floresta de jeito lhe parecia, apenas um emaranhado de coisas, de tantas e confusas coisas, de uma vida de escondidas coisas, de pessoas talvez, mas de coisas por certo, que coisas não entendia, outra coisa que o complicava, entender como aquilo, tanta coisa fora do sitio, das pessoas e dos lugares, entrara pois no emaranhado de mistérios, passeava na lama que se agarrava aos pés, descalço porquê estaria ele ali ? ... caminhava e pronto, desagradáveis os cheiros, garras de unhas pintadas e mascaradas, beijos lindos de judas de fraca figura, que pior para o ridículo que ao espelho não se visse, coisas de não ser e no entanto com nome, coisas de medo seriam ? .. coisas do escuro que ninguém via , ou via sem nada ver, e como se chamariam todos os outros .... tão familiares lhe pareciam, mas não sabia os nomes deles, quer dizer, os nomes sim, quem eram não, não com aquele cheiro e sorrisos de podridão, caras lindas de porra nenhuma, porque se chamaria ele assim, quem lhe dissera que era aquele o lugar, porque acreditara que era Marco ? ... porque nunca se vira com o tal nome de gente, qual não saberia responder, desde sempre se vira ali parado, tipo bocado inevitável de vida, olhou em busca, de amigo ou nome sabido, puxou para si e afastou, que horror de cheiro desconhecido, como teria sido possível chegar ali, sem nome dele, sem nada a não ser o bocado de dentro dele onde não havia outros nomes, nem de gente nem de coisas, abria e fechava os olhos àquela floresta, maldita floresta encantada que lhe deu cabo da pouca crença, daquela que mantinha à força de sonos e sonhos, porra, Marco o quê, de quê? .. seria por não existir que assim se chamava ? ... por nada conhecer a não ser das velhas , gastas e revendidas histórias de fadas que eram aquela gente do diabo, diabo ... seria esse o verdadeiro nome da coisa? ... gostaria o diabo de ter outro nome,.... Marco quem sabe ?
Saiu da floresta, fraco e enjoado, sentou-se, agarrou no seu nome e fugiu , não levou nada ou ninguém, nem tal pena valeria, quem o iria seguir e entender , logo a ele, Marco .... mas que pôrra de nome de nada ..... mas o dele afinal, não o de tantas coisas com nome e nada mais ....
Estranhou à saída seu nome ouvir chamar, quis acreditar que era para ele, ele que chamavam, olhou e viu a Floresta fugir, ela que se despedia num sorriso de vazio fantástico, num mar cheio de coisas fracas e vãs, como vão era seu nome, que bom, tudo se conjugava por fim, um nome de nada para um ninguém por si desconhecido.

Fechou o livro e adormeceu...

4 comentários:

Cati disse...

Enquanto o fechar do livro for sinónimo de fuga da pestilenta floresta, o mundo é um lugar melhor. Pior será para quem nela vive realmente, fora do livro, dentro da feia realidade...

Muito "Saramaguiano"... mas muito mais interessante pelos enigmas que nos colocas!

Nunca mais me digas que já não tens mão para isto... :P

Big kiss*

Anônimo disse...

Gostei muito Redjan! Mas agora vem comigo festejar o S. João ao cafe-com-nata.blogs.sapo.pt !
Se não te rires eu sou... um sapo!

Anônimo disse...

Interessante conto! Diferente, mas belo.

Abraço, Red!

Anônimo disse...

Muito profundo Red. Sentido, ao ler embrenhamo-nos nestas linhas e quase senti angústia.

Levamos a vida a questionarmo-nos.

Beijos.