sábado, 11 de abril de 2009

diz-me tu .....


... e curioso no seu mundo de ecos perdidos perguntou-Lhe:

- Deus.. o que é ribombar ?

E deus lançou um trovão estrondeante e assim dividiu sua grandeza naquele momento, e assim se deu à crença, assim tocou seu filho.

- Deus, se me ouves, o que é ribombar ?

E de novo a Grande Luz fonte da Vida criou um trovão, desta vez mais majestoso em seu ensurdecedor abraço, e a terra o recebeu temerária, os animais se assustaram e os pássaros fugiram voando...

- Deus .... morrerei sem saber o que é ribombar?

Irado, escondidamente irado, abertamente desiludido, de novo em seu poder de Génesis e Apocalipse, lançou o Divino um fulminante trovão, o maior trovão que se houvera ouvido, uma descarga tal que em cima do descrente assentou e de tal modo assim aconteceu que a alma se libertou do corpo do pobre e subiu aos céus, mas tanto era o apego deste àquela que pôde visto o que nunca antes se vira, ainda que ninguém o tenho feito pois de um momento a sós se tratava, e o corpo subiu junto e assim Deus os dois recebeu em seu Céu sem fim, de arrependidos e pecadores.

No meio tempo, naquele bocado infinitesimal em que do terreno se chega ao celestial, quis o Todo Poderoso acreditar que valeria abrir os braços e receber o distante em sua fé e aceitação com a dignidade do momento e assim decidiu em sua inquestionável Lei e Sabedoria, e assim chegou o corpo, a alma também, por entre os acordes de uma cantata de Bach, assim começaria a nova e eterna do recém chegado.

E chegado o momento, o momento d' Ele e dele, foi o caso da indiferença tomá-lo, ao momento, e de novo a Ira de quem não se via escutado, e ao pobre foi indicado seu caminho, que fosse e descansasse, ou que tal tentasse, mas que fosse pelo caminho esculpido por entre nuvens escarpadas, e escuras também, e assim fizeram a alma e o corpo e se deu o inevitável, caíram, dos céus e do outro mundo da Nova Vida, caíram e chegaram à Terra e mortos voltaram ao seu lugar e se viram nascidos e condenados.

- Porque me castigas em tua impiedade ó Piedoso? E o que é ribombar ?

E os olhos de seu desconhecido filho Lhe mostraram, em suas lágrimas caladas e de tanto sal, que o querer da alma tudo superava e que aquilo que o corpo negava o querer atingia, e que a majestade do trovão estava no coração e não morria no silêncio de um menino nascido surdo, e assim deus se lembrou de Si e de ser Deus, deixou as liturgias e as odes de ouro e de promessas, desceu pelos braços do mesmo filho que fizera crucificar e aprendeu o Amor que o queriam fazer esquecer. E trouxe o Silêncio de seu céu, e o atou ao silêncio de seu filho e o beijou em perdão pedido. E ajoelhado perguntou:

- Diz-me tu ... diz-me tu o que é ribombar!




7 comentários:

Anônimo disse...

…e boa pascoa, seja lá o que isso for!

Beijinho

Ana Paula

Ana Margarida disse...

Todos os caminhos vão dar a Roma, mas os que tu escolhes para lá chegares são particularmente interessantes…

Bj*

Vitor disse...

Vai escrevendo amigo,vai escrevendo...

Ana GG disse...

Uma vez que sou a top nº1 dos "links for this piece", posso abusar do espaço.
;)

Posts à parte...bora ver os Xutos a Odemira???????

Mag disse...

Red... desafio para ti no meu blog :)

Anônimo disse...

Li e reli esta "história", quando chegava ao último parágrafo,ficava deliciada com a densidade do seu conteúdo, a sua mensagem, á sua surpresa, com a sua fluidez, com a sua grandeza...
Em criança e adolescente, ouvi falar tanto de Deus e do seu filho, e sempre senti o incómodo e a incompreenção do distanciamento que sentia haver entre eles, tudo isto era incompatível com uma religião que fala tanto de amor.
Isto cresceu comigo, e ficou guardado bem no fundo do meu entendimento e do meu coração. Naquele dia quando li o teu texto tive uma estranha sensação de prazer. Por isso, o li e reli. Por fim compreendi o porquê; aquele incómodo que guardei comigo ao longo dos anos, libertou-se de mim, porque ali na tua história a minha religião é coerente e aquele Deus tão distante tão frio, «desceu pelos braços do mesmo filho que fizera crucificar e aprendeu o Amor que o queriam fazer esquecer...»

Anônimo disse...

Li e reli esta "história", quando chegava ao último parágrafo,ficava deliciada com a densidade do seu conteúdo, a sua mensagem, á sua surpresa, com a sua fluidez, com a sua grandeza...
Em criança e adolescente, ouvi falar tanto de Deus e do seu filho, e sempre senti o incómodo e a incompreenção do distanciamento que sentia haver entre eles, tudo isto era incompatível com uma religião que fala tanto de amor.
Isto cresceu comigo, e ficou guardado bem no fundo do meu entendimento e do meu coração. Naquele dia quando li o teu texto tive uma estranha sensação de prazer. Por isso, o li e reli. Por fim compreendi o porquê; aquele incómodo que guardei comigo ao longo dos anos, libertou-se de mim, porque ali na tua história a minha religião é coerente e aquele Deus tão distante tão frio, «desceu pelos braços do mesmo filho que fizera crucificar e aprendeu o Amor que o queriam fazer esquecer...»