Num repente o sol foi-se e em seu lugar deixou reinar a noite que o frio trazia consigo, vestida em chuva selvagem, de rajadas e pingos vazios de esperança, as vidraças das janelas em caos geométrico de brilhos e rastos aguados, a vida escurecida agachava-se encolhida num olhar de súplica, como se o sol fugido e apagado tivesse levado consigo todas as manhãs de sorrisos do tamanho do mundo, o cheiro das flores, o correr das águas do rio e as mãos dadas e sujas em vidas vividas, de amigos no coração, como se a memória tivesse também ela partido para lugar incerto, não houvesse papel amarelecido pelo tempo, nem cheiros da casa nem das pessoas e os olhos vendo não vissem, apenas escutassem o grito pelo sol que se ia, olhar parado, fechado, chorado, amarrado em mãos frágeis com medo do frio. Choveu forte toda a noite, e a noite durou dez dias, contam, cem assim garantem, mil até, tal foi só o caminho, feito em lado algum e com o vento por companhia, em vôo de vida e morte, da querida sorte perdida sem norte.
Manhã cedo, Maria escutou o piar sumido dos pássaros da manhã, saboreou no silêncio o respirar dos deuses da vontade, abriu a janela e espantou-se com a secura das lágrimas tristes da chuva fria já esquecida, tocou de leve em sua memória de traços em pó, percorreu a medo o caminho de volta ao espaço de si e amou a chuva como o sol, o frio como o calor, as cores como a penumbra do anoitecer de todos os invernos do mundo. Ido o sonho, sonhou sonhar de novo, como se os dias pudessem ser seus e os caminhos a convidassem a trazer seus passos. E abriram-se todas as janelas e vieram todos os pássaros, a chuva também e ao seu lado se sentaram e perguntaram:
- Como estás ?
segunda-feira, 25 de maio de 2009
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4 comentários:
Bem!
Tinha saudades da Maria.
Bonitos os teus textos...bonito sonho...
Um beijo
Que texto tão, mas tão belo, Red!
um sonho..... :)
ana GG: a Maria vai aparecendo... sempre... e de vez em quando!
mag: por vezes sai-me assim ... u know the feeling !
teresa: ;-) !!
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