quarta-feira, 24 de junho de 2009

esquina de pôr do sol !

O sol caía rápido, fugindo ao mundo confuso da cidade, olhado em sua cor de retirada, suspirado na partida, abençoado em sua viagem que o levava às montanhas da solidão, onde se escondia em mistérios de vida sem gente, onde trocava com a poesia das estrelas a grandeza simples das coisa de deus. O sol partia pois sem dizer adeus, porque se sabia de volta cedo e sempre, como se acreditasse nas mãos e nos olhos do bicho não animal, a quem aquecia e inspirava em pôres e nasceres, a quem mostrava o tamanho pequeno dos gigantes feitos de nada, em mistérios de vida nascida em morte negada, o tamanho gigante de corpos pequenos e almas sem fim.
Na esquina de sempre onde conheciam os começos da noite, abalados por uma jornada mais em explorados corpos e trabalhos, Mamadu voava no sol até à árida terra que era sua e de gente anciã, Javier atravessava os oceanos de saudade e voltava a dançar na berraria das cores quentes de um bairro pobre e de pó, Dimitri abria as janelas de neve e frio carregadas de liberdade em olhos de crianças livres em estepes sem fim e sem liberdades amarradas, Ziang reencontrava o vento dançado em artes milenares de mundos de homem e artes de guerra em gestos esculpida.
Na esquina de todos os dias, de todos os mundos, olhares e palavras aprendidas e repetidas prometiam encontro para o amanhã que o sol traria.
No dia seguinte o sol não nasceu e deixou as vidas viverem-se, foi testemunha em todos os lugares que um dia aquela esquina existiu. E os homens não se esqueceram de o voltar a ser...

4 comentários:

Vitor disse...

Gentes daqui e além-mar, e de outros lugares que tais…retratados a pinceladas de sol, na esquina de todos e de ninguém que um dia desapareceu por obra de alguém… e os homens…esses!

Mag disse...

Este rapaz passa temporadas sem escrever... mas quando o faz, abre as janelas do Sol até em dias cinzentos (como o de hoje)! ;)

Parabéns, Red.

XR disse...

...
O sol adormecido, a esquina desvanecida presente nas memórias criaram espaço nas vidas que o sonho se apressou a preencher.
Mamadu sentiu o vento milenar assobiando como espadas no deserto árido, Javier viu crianças das estepes vestidas de mil cores e dançando sobre o pó, Dimitri ouviu o quebrar das estalactites de gelo e viu a neve derreter-se ao sol, esgueirando-se em liberdade para o regato próximo, Ziang viu gentes anciãs de longas vestes e turbantes coloridos bailando solenemente entre estátuas de pedra.
Calada, a lua observava os homens emprestando-lhes aos quadros sonhados o tom prateado da fantasia; sussurrou-lhes levemente, tão levemente que pareceu um suspiro de uma nuvem, que outras esquinas haveria, que bastaria que os homens o quisessem ...
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É verdade, John ... quando voltas trazes novas cores na paleta, novos pincéis de luz que trazem até nós uma esquina desconhecida onde as vidas se cruzam.
E há tantas esquinas no mundo ;)

forteifeio disse...

Complexa paleta, de pedaços de vida e de espaços geográficos.