Frio, faz frio, a chuva brinca em reflexos de magia, como de costume dizem, por estes dias de cheiros perfumados e passos apressados, cheira a coisas de menino Jesus, dizem, serão estes os teus cheiros depois das palavras em cruz dos romanos, em romaria de dor e amor ? .. sem olhos no chão em tempos aqueles, cheira hoje e agora a filhozes e coscorões, está frio, esta porra de frio que não respeita a desgraça, esta chuva de merda que molha sem graça, Maria Ida porque olhas em frente, olhar parado, também perdido, a memória como teu nome, ida do corpo, que mãos tão feias Maria, nem mãos são, serão acaso coisa de esconder nesta época ? ... que mal cheiras em teu buraco, espaço e respirar, leva teu corpo para junto de tua alma, que gente apressada que corre, tanto corre e apenas isso, que maçada mais à fuga dos olhares culpados, porque te lembrarias de morrer agora, trambolho e escolho? ... não tem remorsos o velho barbudo que nasce em cada des'alma da turba que corre, em meio ao cheiro do amor vendido e espalhado, anunciado, às pressas comprado e negociado, e jesus esquecido em tuas roupas de ninguém, morreu Maria há muito no mundo dos homens, morreu Maria ali encostada, acabada, em tristeza abandonada , e eu .... que faço aqui, este cabrão de cheiro a perfume caro e de puta, este não acabar de jingle béles, um frio de merda e sem dó, que caralho, jesus, se tanto te rezei, ai se rezei, não devia falar-te assim, mas todos falam bem sabes, até o padre a quem tanto rezei, ai se fala... se fala e usa, estou perdida, acabada assim, neste inferno de inverno, estou fodida de tanto frio, olha as minhas mãos jesus, em sangue morto sem a glória dos pregos na cruz.
E caiu Maria, neste momento a imagem desfoca-se numa câmera lenta e o embate da velha no chão molhado é acompanhado de orgásmicas gotas de chuva a brilhar e ressaltar numa orgia de pixéis acusadores...
Acudam, acudam, ai que está morta, o pelotão de zombies açucarados estaca e opina, mas que merda de terra é esta que nem um desfibrilhadorzinho disponibiliza a velhos assim, tsk tsk, desconsideração suprema em terra de magalhães, já não se pode correr e ignorar descansado, acudam que ela está morta, onde está o inem, nunca está quando é preciso, ainda outro dia uma prima da minha comadre precisou deles e nada, quando demos por falta dela, dez dias depois, já a coitada tinha apodrecido, licença, com licença, deixem passar os homens, sossegue pai natal, a gente já vai, é só este extrazinho de vida e glória, a gente já te volta ao colo, e Maria por ali, cuidando que a iriam salvar e afinal nada, oxigénio apenas, vida coisa nenhuma, mãe, mãezinha, que fazes aqui ? .. ai jesus acode-me, não carece minha senhora, já os bombeiros o fizeram, não são bombeiros saloio, é o inéme, porra de saloios que enchem o ar assim, ai mãe mas quem te mandou sair do carro? .. eu disse-te que era um instante .. puta, minha puta, um dia não é um instante, a vida não é um instante, puta não, mãezinha, não me chames isso, puta sim minha filha, não me chames mãe, e desculpa jesus, não devia falar assim, mas faço o quê, tanto que rezei caralho, tanto mesmo, por natais que te celebrassem, não destes que te estralhaçam, perdoa-me este falar meu, que todos sabemos às escondidas mas que é feio, não faz jus a este perfume e a tanto laço dourado, ou será doirado ? ... perdoa-me menino esquecido, isso juro não fazer, esquecer-te na cruz onde choraste os homens, estes homens, ainda que tão limpos, tão lindinhos que dão nojo.
A velha recupera, a filha leva-a, a turba reorganiza o postal e pede neve, neve, pede sinos e louvaminhas para o barbudo mais querido do mundo, que lindo, que encarnado, que igual ao de todos os centros comerciais do mundo, e cheira a chanel, a coscorões, e maria morreu finalmente, cabrona de velha sininho que nós não somos nem peter nem pan!!
O pano desce, faz frio ainda e lá fora a chuva brinca em reflexos de magia. Como de costume. Dizem!
sábado, 26 de dezembro de 2009
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7 comentários:
É isso amigo, o teatro da vida só está mais vazio porque é Natal. Ou será porque está frio?
Nem mais, com todas as letras…a porra do natal, é isso mesmo!
Que bons ventos te levem, ou tragam,amigo…e não só no vinte cinco de Dezembro!
Para Nietzsche, a sociedade é pobre...
...o desencadear de ideias, o atropelo de sentimentos, o enredo de pessoas e a pressa a que se sucedem os acontecimentos é tão grande, que só me apetece dizer asneiras...
(remeto o resto do comment para o meu blogue)
Um excelente 2010 para o Red e para quem mais desejares.
Sim senhor....vai lá vai.
Um FELIZ 2010 que te traga tudo o quanto desejares e que nunca desistas de nos alegrar com a tua escrita,;0) bjos
crisalves
A escrita sai de ti em forma de gente, palavras, cheiros, sensações e emoções...sai de uma forma corrida, por vezes de forma implícita outras explícita, mas sempre em formas e conteúdos que nos fazem imaginar, pensar e meditar sobre as circunstâncias da vida..ou até mesma sobre a própria vida...
Em conversa com uma amiga colombiana (escritora com varios livros publicados em Espanha e Colômbia e artista) de nome Adriana Avendaño (vou te enviar alguns textos dela...)falavamos sobre os teatros da vida (tal como o teu amigo José Ceitil fala) onde nós somos apenas actores...usamos máscaras porque não temos coragem ou nos sentimos mais confortáveis em não mostrar o nosso eu...a nossa verdadeira identidade...
Mas, talvez digo eu, sem os saloios, sem os meninos bem, sem as futilidades ou até as desgraças, o teatro da vida era um teatro vazio...e depois? Haveria de se escrever sobre o quê? Cairia o pano? ou o pano já nao se levantaria?
QUem sabe um dia não poderemos "discutir" sobre as máscaras da sociedade ou sobre o teatro da vida...
Será que algum dia deixaremos cair a máscara?
Bjo grande de quem te admira muito!
Alex...
Amigo jan jan,não pondo em causa a qualidade de todos os que comentam este blogue, penso que devias ter uma coluna de análise desportiva no jornal a “Bola”,para realmente o “escriba do papa”ter alguém à altura para lhe responder às já mais que chafurdaras irracionalidades que aquele cérebro(?)toldado pelo fanatismo do azul berrante ou irritante, defeca cá para fora, ficando um cheiro nauseabundo, que nem já os bácoros aguentam!
Ui...então era para comentar o teu post no "Eterno Benfica",e por razões técnicas aqui veio parar...desculpa o lapso,mas aproveitando o sucedido,não deixo de aconselhar a que passem pelo referido blogue,para verem como se escreve um post sem "papas" na língua...e volto a pedir desculpas Jan,mas este meu pc do século xv,por vezes fica "passado"!
Maria "poisou" aqui...
Como é impossível encontrar o Red noutro lugar ultimamente, que não seja no "RedBenfas" ou "GloriousRed" (baptismo feito por mim, agora), é neste post antiquissimo, do ano passado, que sou obrigada a escrever.Será que tb ele foi no tornado?LOL
Obrigado deR(there), mais uma vez pela palavra de "incentivo"!!!??? LOL
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