O tempo está frio, a vida gélida como nunca, não há caminhos a procurar ou seguir. De manhã cedo, antes ainda de nascer o dia ou a vontade de o viver, pegou em si e na pouca alma que ali lhe restava viver, e partiu em busca de um lugar onde pudesse parar e recomeçar a longínqua infância, também ela arrancada a esforços de sobrevivências ! A guerra, dos homens e da vida, atirava-a em busca de um novo horizonte onde saberia querer reencontrar-se. Ali , naquela nova terra que fazia agora sua, nasceu de novo e viu o fruto de si mesma cair-lhe ao colo, um colo que queria seguro e quente, assim quisessem os homens e gentes em fúria !
O mesmo tempo frio de outrora renovava-se numa teimosia contagiante, gelavam as almas e vontades, partir, fugir de si e dos lugares, era a senha e contrasenha aprendida a duras penas ... não há lugar, tempo ou vontades de se amar com amor, apenas com pressas olhadas, vigiadas por um medo sem fim ! Tanto tempo depois, um tempo que passava sem passar, via agora partir também aquele que fora a sua certeza de que apenas poderia amar dentro do coração. Parte Stanislaw, corre tu também , vai e leva essa tua liberdade que te enlouquece, não te deixes prender e parar, vai e perpetua-te... a ti, a mim... ao caminho que ainda hoje me pergunto porque me foi dado percorrer !
Noutros frios, de neves e graus abaixo, sem cheiro de pólvora ou guerras de tiros, começava a batalha da louca liberdade, os gritos desabafados, choros de criança e homem grande, de quem soubera roubada a sua paz de meninice. Ali, no mais improvável lugar , esbarraria então com rapariga de convicção e passo em frente, trazida por quem senão pelos descaminhos das eternas guerras que queriam vidas ? Ali rumaria a uma velocidade descontrolada em busca de um fim sem rumo, em busca de uma terra e história de ser que nunca pudera ter! Vivesse a gritaria e destempero, sem controles de mente ou físico, povoado apenas de um abuso louco da sensação de voltar a ser ! Ali encontraria o caminho de volta, numa solidão enlouquecida, num barco voltaria para o colo que nunca voltaria a ter, onde nunca iria chegar...
Maria .... um vulcãozinho de misturas improváveis, ficara como o último legado de uma passagem de fugas ! O desvelo cuidado e aprimorado de uma loba mãe devolviam àquele sangue provindo das estepes geladas a primeira terra para se semear. As gentes, que no frio cultivavam não ódios mas respeitos, haveriam de moldar a mistura, sem temores de entender que as gentes geram gente, moldadas e aprendidas em deuses , cores e texturas diferentes !
O mundo girava ainda, entretido em tanto equivoco de vontades e entendimentos, quando Maria sabia chegado o momento de partir também, em busca, em paz e em frente! Colhera os genes e as ideias, absorvera e formara em si as pequenas e grandes forças de fontes várias, tornara-se numa coisa única que queria agora disfrutar ...
Anos depois, numa pacata urbe a sul e ao sol, nascia Francisco, bisneto daquela anciã longínqua no tempo e espaço, que em forçada fuga, tudo conquistara! E com o seu choro de bebé no mundo, soltava para a vida um arrazoado de medos e fugas, encontros e desencontros de vontades buscadas e não encontradas, talvez apenas adiadas .... e dava sentido à força do querer, esse querer de outro alguém que agora recebia em herança !! O caos de vontades e descaminhos ganhavam naquele pássaro dourado um coração e asas para voar, um sorriso de vida conquistada que haveria de saber perpetuar !
E este fosse o mote do romance ou conto que ousara imaginar .... a história lida e desejada, começaria como tantos outros pela gratidão a quem me ajudara a entender um pouco mais de mim mesmo... e assim rezaria por começo :
À bisavó russa, ao Stanislaw desconhecido, à Tila e à Kat .... que descobriram o sulco do caminho para me trazer o Francisco !!
quarta-feira, 4 de abril de 2007
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