domingo, 29 de março de 2009

concluindo.... !




Marcel cruzava e descruzava as pernas, num passar de tempo despreocupado em mais uma tarde de calor, típica em Ouagadougou. Ainda não entendera porque aceitara aquele prémio ganho numa inofensiva rifa dos escuteiros parisienses, antes o plasma ou o cruzeiro virtual pelo Amazonas, mas quisera a sorte, sorte como quem diz, que a ele saísse uma semana com tudo pago na capital do antigo Alto Volta, hoje Fasso, Burkina Fasso, apresentação à boa maneira bondiana, ou bondensse como queiram. Marcel, decorrida que estava a ensolarada tarde, cruzava e descruzava as pernas numa tímida tentativa de espantar incómoda comichão por partes baixas, mesmo em África não ficava mal ser-se discreto no alívio de incomodidades púbicas e púdicas.


Na mesa ao lado, na mesmíssima e única esplanada onde se podia disfrutar de algum recato e cerveja fresca por aquelas bandas, Gregory, doutor Greg para os amigos, House para os milhões de seguidores em sua saga pel Fox, olhava o franzino francês e diagnosticava-o através do modo como cruzando e descruzando os membros inferiores continuava o repetido movimento de erguer um dos superiores, membro claro, numa ânsia pouco escondida de refrescar a goela. Mais, sendo fumador, conclusão óbvia do médico pela presença de dois maços de Marlboro, e fanático do Manchester United, dica que resultava da t-shirt do Cristiano Ronaldo que envergava, não por uma questão homossexual de idolatria ao macho em si, mas por devoção ao futebol bonito dos ' devils ' personificado no madeirense, sendo franciú e estando no Burkina, era práticamente certo que sofresse o desgraçado de Fibrodisplasia Ossificante Progressiva, nem mais nem menos, viesse de lá quem viesse contrariá-lo, a Cameron, o Chase ou o Foreman, trouxessem a Cuddy ou o Wilson se quisessem, aquele cruza/descruza em fim de tarde Fassense era coisa de FOP e ' mainada '... ouviram?

Na mesa ao lado da mesa ao lado, ou seja, duas mesas ao lado da mesa onde começa esta saga, Holmes, Sherlock de graça própria, ali aparecido não por artes de rifas mas depois de uma espectacular escapadela de um dos romances onde do nada descobre crime e meio e mais um par de botas, salvo seja, Holmes dizia, fazia ombrear o frio de sua expressão com o das imperiais que aterravam em catadupa de modo a fazer esquecer algum mistério mal resolvido ou a falta de uma escapadela por vícios nunca a nu trazidos, apenas entendidos por utensílios por ele meneados e que nada tinham a ver com lupas, cachimbos ou chapéus à ' raistaparta '.. Olhando o francês Marcel e seu consecutivo cruzar de perna, rápido o detective concluíu tratar-se o elemento do principal suspeito de todos os crimes resolvidos e por resolver na última semana de Ouaga ( abreviatura doravante utilizada para o local deste fim de tarde !! ). Ainda que não lhe tendo sido pedida qualquer opinião, em três penadas ficaram resolvidos meia dúzia de mistérios que se não tinham ainda assolado as redondezas se preparavam para o fazer. Assassino e ... siga a marinha, viesse de lá mais um ' fino ' ....

Marcel, o desgraçado Marcel, francesinho de gema mas longe da aura de um Proust ou Duchamp, seus homónimos de graça primeira, continuava absorto em sua dúvida acerca das ironias do destino, que de um nobre gesto solidário para com a ' escuteirada ' dos Champs Élysées o atirara para o bafo de uma tarde africana e uma comichão que o atazanava e lhe impedia um pingo mínimo de felicidade em pôr-do-sol numa esplanada de celebridades. Coçar ou não coçar... era a questão e Marcel haveria de resolvê-la.
Como Greg o fizera fibrodisplasiando o moço, como Holmes fizera apodando de canalha um desgraçado rifeiro originário do banlieue e metido a fino. E se eram moços de confiar, ai se eram, dupla de respeito, da Fox e da Velha Albion e sua Londres mundana.
Marcel, num rasgo de liberdade, levantou-se, acabou com sua tormenta de cruza, faz que não cruza e sim, coçou os testículos, vulgo bolas, vulgo tomates.
Gregory e Sherlock, saíram de fininho, apanharam um avião, aterraram na Cidade Maravilhosa, entraram num táxi e foram directos à Rocinha.

Ouaga... essa nunca mais foi a mesma, em suas tardes faltariam para sempre três mesas a abarrotar de ' cervejame ' , comichões, conclusões e outras coisas coçadas acabadas em ' ões ' !!...


Um comentário:

Ana GG disse...

Que grandes enredos, confusões, comichões...ou qualquer outra coisa a jeito terminada em ões.

Passei para te deixar um beijinho, ou para me babar como diria o nosso ilustre anónimo.

Ora então cá fica o dito beijo...
Beijo

P.S. A baba não deixo porque não me parece bem.