quarta-feira, 18 de março de 2009
a espera no elefante!
Deixo o Kuka na escola, são nove e poucos, tempo de ir tomar um café e muito provávelmente ler a eterna ' A Bola ', mais por vicio e companhia acho, café e cigarro também, ' noblesse oblige ', quando olho para o lado e vejo o elefante, não o do zé mas o azul, o das lavagens de carro, e a verdade é que o meu já não vê água daquela faz muito, zás à direita e pronto. é sexta-feira, é manhã ainda mais ou menos cedo, deve ser coisa rápida.
Entrado no recinto deparo-me com todas as estações ocupadas e... todas menos uma já com um carro em espera. Enquanto estranho o que faz toda aquela gente por ali, a escolha óbvia atira-me para o buraquinho onde me tornava o próximo também, fico atrás de uma dupla que lava um pequeno Polo. E que dupla! Dava para fazer uma tripla, se não uma quádrupla, tal era o volume carnal das lavadoiras que me precediam. Sem o jornal ainda, sem café à ilharga, restou-me sacar e acender um paivante de modo a amenizar a espera, debruçando-me sobre o esmero com que a baleia de serviço à mangueira à minha frente lavava, escovava, rebuscava, enxotava, expulsava qualquer arremedo de sujidade do seu carro. O espectáculo de ver os cetáceos entrar na viatura findo o duche e SPA que ofereciam à mesma trazia-me na expectativa, fazia-me imaginar o quanto não suava o desgraçado Polo na tarefa de as passear e entendia pois aquele duche eterno que lhe ofereciam. A cada final de período de água e sabão respondia uma das da parelha com uma rápida ida à carteira em busca de mais trocos e moedinhas. Posso jurar que o c.....ão do carro já reluzia mais que as estrelas da fé cristã e outras que tais, o que não demovia a Calamity Jane de mangueira na mão em sua compenetrada fúria de o decapar em seu último vislumbre de pó ou sujeirinha. Deus testava-me a paciência, nada que um segundo e terceiro cigarros não ajudassem a superar. O branquinho Volkswagen já se esparramava em seu torpor orgásmico de quem é massajado como nem na Tailândia e eu temia que o fundo de maneio da baleia financiadora do evento não se esgotasse. Todos os outros companheiros do triste momento de lavar o carrinho se haviam já revezado e trocado, já não tinha por ali conhecidos da hora de chegada, o vaivém nas outras ' boxes ' era o normal em pessoas que consideram que lavar a viatura não é o mesmo que sair para beber um copo e perder horas de enfiada. Aceitando a penitência e desafio divino acendi um quarto Marlboro, troquei olhares vazios com as massas disformes que torturavam a porra do carrinho e ganhei esperança quando giraram a opção para o ' enxaguar ' que normalmente precede os últimos minutos da tarefa, lançei um olhar ao céu e exigi o reconhecimento e recompensa pela minha humilde espera onde me mantive sem trejeitos ou palavras entre dentes. E o céu, em sua grandeza e alguma divindade também, respondeu-me e devolveu-me alguma crença: acabou com os trocos à avantajada financeira no exacto momento em que apenas meio carrinho se vira livre do tsunami de espuma com que o haviam afogado na meia hora precedente. Voilà.... não iria a dupla passar ao penteado e unhas, acabou-se-lhes o guito, acabou-se a cegarrega. Entraram no hiper lavado que não enxaguado, lançaram um último olhar à mangueira e arrancaram, certamente em direcção a uma caixa ATM para levantar mais uns vinte euritos p'ró que restava da lavagem!
Três minutos depois, lavado que estava o meu carrito com uma de sabão e meia de jacto, arranquei e reentrei na Marginal. Chegado à rotunda de Carcavelos ia jurar que o Polo branco que circulava em intermináveis e enjoadas voltinhas naquela geometria rodoviária era ocupado pelo binómio de brancura obssessiva que acabara de partilhar comigo quase meia manhã. Ou não encontravam um MB ou .. se a coisa estava ali havia de ser contornada e usada até à exaustão, que era lá aquilo, não eram parolas de não dar uso às coisas, castigo à rotunda ao jeito do paquiderme. Azul claro!!
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6 comentários:
Bem, Red, que descrição :)
Fartei-me de rir... (e olha que bem precisava! thanks...)
Gostei muito desta tua coisa "morna e deslavada"!
Imaginei-te protagonista da cena...quase a fumegar.
Se há coisa que detesto é lavar o raio do carro (já para não falar em aspirar).
P.S. Cansaste-te de ser anónimo? Ainda bem, prefiro-te Red!
mag: rir... faz bem ;-)
GG: a fumar para não... fumegar! E Red sim... com sofá e tudo exibido num blog de que gosto muito !!;-)
Impagável, John ... se calhar os alvos paquidermes eram das Américas (onde algo como uma rotunda é de facto uma raridade, right?); ou, já pensaste, estavam a dar uso à rotunda antes de se dirigirem a um ATM para fazer incontáveis consultas de saldo e movimentos até se esgotar o rolo de papel da pobre maquineta ... pois se é para usar, use-se!
;)
lol....lol...lol;)
crisombra
:) Boa Malha xaval.
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