Só de imaginar que de tradições nossas iria falar... era coisa para dar arrepio. Na nossa melhor arte de ser Tuga, Luso, da Silva, somos povo de as arranjar ao melhor estilo de imbecilidade refinada, para tudo arranjamos justificação saloia, tudo serve para nos quedarmos felizes e orgulhosos com a nossa peculiaridade de levar a vida não levando, de assistir impávidos a tanta alarvidade e xico espertice de juntar água, comentando ' ai é's ? ' e ' só mesmo cá's !! ' sem no entanto cuidar de algo mudar. Papamos a coisa, indignamo-nos, chateamos meio mundo em bichas de espera ( bicha de fila, não de à má fila !! ) com as nossa conversas de regeneração e ... pegamos na vassourinha, levantamos o tapete e varremos para baixo da vista !
Do alto da sua conjuntura de Doutorados, ergue-se a classe de governantes e gritando ' já basta ' debita meia duzia de soluções à presidente da junta, a turba aplaude, acredita, meneia sim's com um ar circunspecto, lava os dentes, vai-se deitar e agradece a Deus por um dia mais. Igualzinho mas ... um dia mais !
Depois de massacrados com o triste espectáculo dos pedófilos sem culpa, dos autarcas ' bravo duck's ' perdoados e de novo aclamados, dos árbitros barrigudos, bigodudos e putanheiros, de um sem número de javardices que esbarram em qualquer tribunal sem tectos ou computadores, de uma saúde fechada para obras, de viver num paraíso porque o senhor ( sem maiuscula porque apenas divino para si mesmo !! ) diz que é um paraíso ... salta às primeiras páginas a noticia de que a Patricia armou barraco de puxa e empurra a Professora, em busca do telemóvel sacado. No entretanto, um molho, vulgo turma de perfeitos anormais, assistia, aplaudia, grunhia e gravava as imagens. A coisa ganhou vulto, saltou para noticiários e afins, os opinion makers de inteligência suprema e única botaram falação, o povo masturbou-se num bacanal de execução publica. O Sr. Silva, número um do burgo ... antigo fraco leitor de jornais ... ESCANDALIZOU-SE ! Com quê ? Com as imagens do You Tube !!! What ??? O País mudou assim tanto ? O Presidente analisa e toma conhecimento das coisas ... via Google ?? Wow ... Obrigado Senhor ( com maiuscula, este é divino !! )...
Acabou pois a tradição secular tão nossa ... de nada fazer, nada prever, nada pensar ! Não mais fingiremos que o ensino é uma bosta, a saúde outra, a justiça a bosta mor ... não mais esqueceremos que cenas destas começam na puta da deseducação de paizinhos idiotas, de paizinhos sem tempo, de meninos que antes de serem pessoas são desistentes, de exemplos que vêm de cima, de todo o cima, de politicos de mentira que contam histórias da carochinha ao povo das tradições, de gente que vive no meio de velhos que se abandonam, de crianças largadas a sitio de perspectiva alguma, de violências domésticas impunes, de gente que festeja qualquer quadra sacrificando a Deus vinte a trinta cordeiros no asfalto, de tanta mas tanta merda de tão fácil solução se um dia , talvez um dia , quiséssemos querer, pensar, ser ... GENTE ! E isso ... parece que aconteceu ! Contrariando a maré que há anos nos puxa e empurra, nos tranformou em gente de porcos hábitos e merdas atiradas para longe da vista ... desta vez ... o Senhor Silva FICOU CHOCADO ! As coisas vão mudar ... amanhã no Tube ... veremos nosso novo jardim !
Ahhh, parece que a Patricia vai mudar de escola !! F... -se , não dava para mudar o País em vez dela ???? De escola, gentes e mentalidade ?? Quebrando a tradição ???
domingo, 30 de março de 2008
terça-feira, 25 de março de 2008
rei ninguém !
Por entre ícones em gigante mármore e o ressoar musical de seus passos em batidas que se perdiam naquele imenso mundo de arcos, claustros e salões, onde se regiam as gentes e se moldavam em decretos vidas de vulgar pessoa, titubeava o pobre menino Rei, preso a medos seus e a uma teia fatal, infalível, de fracos devotos e poderosas cobiças que à sua volta gravitavam, num mundo de divinas luzes, de cleros e austeras leis, de conluios e punhais de morte, num desfiar de dias falhos de luz ou calores maternos, paternos, fraternos até. Aos doze reinava, com punho guiado por nobres e servos de Deus, por entre missas crescia, por entre guerras partia, por entre si e seus passos se afogava em tão cruel destino real, pobre menino sem vida. Rei era seu título, palácio o seu lugar, vida o seu secreto sonho proibido. E assim, dos seus passos escutava o ecoar, como se neles navegasse só, em mares sem fúria ou rancor, como se em desobediência real e divina o pudessem guiar para lá daquelas paredes, daquela prisão onde fermentava a trama, se comprava com velas, temores e queimas de incenso o perdão da traição à Palavra. Reinava pois só, em reino de coisa alguma, onde não havia tão simples e mágico momento em que olhando para dentro de si, viviam as gentes a condição de ser-se alguém ! Ganhou nome e cognome, loas lhe teceram e memória guardaram, a ele, logo a ele, que nem viver experimentara! Por entre tantas vidas de nada ....
sexta-feira, 21 de março de 2008
companhias de um deus triste !
Apenas um dia mais, rua acima sem tempo, rua abaixo sem gente, entre dois sóis de inverno em sua flagrante impotência, por entre passos aprendidos em cidade perdida, falho e esquecido de recordações embaladas em histórias de magia e cor, pés sujos e gastos numa indiferença sem esperança, olhar perdido, fingido, camuflado em esquinas de surpresa nenhuma, em parceiros de desdita, de quimera largada, sonho amarfanhado de filhos de deus, seguia M., seguia pois atrás de coisa alguma, como se verdade pudesse ter havido em distantes bocados de dias e lugares, coisa fugaz de tempos de menino largados em correria por vida fantasma. Há quanto tempo estaria ali, quantas daquelas pessoas seriam suas em seu destino, onde deixara de ser menino, rapaz, homem, gente, filho, alguém ?
Caiu a tarde em sua muda de cores, carregada de chuva, trazendo aquele frio e escuro que dividia com Maria, Maria apenas, sem nome nem rosto ou alma, apenas idosa, velha, trapo abandonado, amante perdida, agarrada, vendida e comprada de barato vinho, ao desbarato largada, com mãos de soldado mendigo, olhos de mulher ninguém, Maria, sua mãe, irmã, avó, amiga desconhecida. Encharcados em seu canto, por entre lágrimas de solidão e vinho, por entre imaginadas idas a passado algum, jantaram o nada que tinham, abençoaram a pobre gente que seguia em corridas de passos sós, rezaram ao seu deus, ao deus que por ali estava também, em seu lugar de sempre na terra. Triste os olhou, triste os perguntou: que fazemos aqui ?
Caiu a tarde em sua muda de cores, carregada de chuva, trazendo aquele frio e escuro que dividia com Maria, Maria apenas, sem nome nem rosto ou alma, apenas idosa, velha, trapo abandonado, amante perdida, agarrada, vendida e comprada de barato vinho, ao desbarato largada, com mãos de soldado mendigo, olhos de mulher ninguém, Maria, sua mãe, irmã, avó, amiga desconhecida. Encharcados em seu canto, por entre lágrimas de solidão e vinho, por entre imaginadas idas a passado algum, jantaram o nada que tinham, abençoaram a pobre gente que seguia em corridas de passos sós, rezaram ao seu deus, ao deus que por ali estava também, em seu lugar de sempre na terra. Triste os olhou, triste os perguntou: que fazemos aqui ?
terça-feira, 18 de março de 2008
vislumbre de um passado não meu !
Vi-te. De relance primeiro, naquele momento em que entraste à bruta e sem avisar em cabeça minha, parado em silêncio para te escutar depois, quando viajei dali para fora contigo, nas palavras que falavas sózinho, no teu olhar perdido e arrumado num céu que um dia foi nosso, meu, teu, de todos os que te miravam com dó, esse mesmo dó que um dia aprenderão a ter de si, em suas vidas vazias de gentes assim, assim como tu, velho de olhar de gente, balbuciando palavras perdidas e vividas em tempo que foi grande e teu, algures num dia, numa hora cheia, onde coube um coração de homem vivo, com boca de palavras aprendidas em velhos livros de infância, parei ali, nem me viste, parei o carro mais à frente, quis tirar-te uma fotografia, guardar-te e trazer-te para sitio sem frio, teria o direito de fazê-lo, virias ensinar um pouco de vida a menino de cidade ? Guardei-te a silhueta, juro ter ouvido tuas palavras, quero-te no álbum de amigos, são poucos sabes, mas é lá que te guardo, é lá que tens lugar, amigo perdido, por onde andas agora, que caminho te trouxe até mim ? ... com quem divides o bater de coração, quem as mãos te dá em noites de chuva e frio, por onde vagueias quando as estrelas chegam ? Louco, assim te julga a cidade onde passeias passos perdidos, assim pára o lugar e momento de longinquas pessoas, apenas pessoas iguais a ti, em tempos que guardaste num bocado que já não se divide! Vi-te ali .... quis aprender o significado daquele olhar, daquele arrazoado de secretas palavras cujo segredo vive em ti, cruzámos o olhar sem julgamentos, fico feliz ... guarda-me algures AMIGO ! Velho e velho amigo Voltaremos a ver-nos um dia ?
domingo, 16 de março de 2008
desalento !
Vasto
o caminho
Longa
a espera
Único
o desalinho
Certa
a quimera
De pensamentos
E mandamentos
Fugazes
Audazes
Os momentos
E os alentos
Desaparecidos
Esquecidos
Vida
E morte e vida
Querida
A sorte perdida
Tempo
Que tudo apaga
Destino
Ou sina ou saga
De futuro feito passado
Menino, homem rasgado
Coisa moldada em gente
Na fraqueza de ser crente
E vastos eram, assim sei
O sol, o céu e um Deus
E da morte, eterna lei
Que fracos e fortes fez seus
Vasto
o caminho
Curto
o momento
Único
e sózinho
Certo
o desalento
o caminho
Longa
a espera
Único
o desalinho
Certa
a quimera
De pensamentos
E mandamentos
Fugazes
Audazes
Os momentos
E os alentos
Desaparecidos
Esquecidos
Vida
E morte e vida
Querida
A sorte perdida
Tempo
Que tudo apaga
Destino
Ou sina ou saga
De futuro feito passado
Menino, homem rasgado
Coisa moldada em gente
Na fraqueza de ser crente
E vastos eram, assim sei
O sol, o céu e um Deus
E da morte, eterna lei
Que fracos e fortes fez seus
Vasto
o caminho
Curto
o momento
Único
e sózinho
Certo
o desalento
terça-feira, 11 de março de 2008
repescado ... this post !
e a 13 de agosto de 2007, escreveu-se neste canto:
efémero !
E tudo era pois efémero
Cada momento acabado
Cada bocado vivido
De sentir não sentido
Vulgar, apenas vulgar
E vazias as vontades
E na força de um olhar
Misteriosamente sem medos
Respostas em silêncio
Como se pudesse ir mais longe
Vivendo sem temer fins
Renasceu a pessoa sendo lobo
E aprendeu a olhar
Admirou-se ser olhado
Sem o medo dos medos
E nas coisas efémeras
De ontem e amanhã
Descobriu porque parara
efémero !
E tudo era pois efémero
Cada momento acabado
Cada bocado vivido
De sentir não sentido
Vulgar, apenas vulgar
E vazias as vontades
E na força de um olhar
Misteriosamente sem medos
Respostas em silêncio
Como se pudesse ir mais longe
Vivendo sem temer fins
Renasceu a pessoa sendo lobo
E aprendeu a olhar
Admirou-se ser olhado
Sem o medo dos medos
E nas coisas efémeras
De ontem e amanhã
Descobriu porque parara
segunda-feira, 10 de março de 2008
e foi ...
quarta-feira, 5 de março de 2008
domingo, 9 de março, às ...15 horas !!
... na Fábrica Braço de Prata , sala Nietzsche ! A nossa Tertúlia às Voltas , com o RAP himself e ... nós, todos nós, para falar, ouvir e perguntar acerca de como se escreve humor em Portugal, visitando também a ' Boca do Inferno ' ...
Coisinha a não perder !!
terça-feira, 4 de março de 2008
não é um post ....
... apenas um ' até um dia ' .... Paulo ! Guarda um espaço, por aqui na Vida o mesmo te farei !
segunda-feira, 3 de março de 2008
magia....
Por onde, diz-me dia
Esquecido de ti e em ti
Onde guardas aquele lugar
Que sem limites havia
Em tuas horas esqueci
Os sitios por onde voar
Peço-te apenas dia
Lembra-me o que sentia
Nunca te pediria, não fosse
Caminho onde se vivia
Onde era menina que sorria
Ao ver e guardar-te a magia
Diz-me dia que és feliz, diz-me apenas que guardaste em ti bocados daqueles momentos, pega em mim e voa sem fim, até ao lugar de onde me trouxeste, em vôos teus de magia !
Esquecido de ti e em ti
Onde guardas aquele lugar
Que sem limites havia
Em tuas horas esqueci
Os sitios por onde voar
Peço-te apenas dia
Lembra-me o que sentia
Nunca te pediria, não fosse
Caminho onde se vivia
Onde era menina que sorria
Ao ver e guardar-te a magia
Diz-me dia que és feliz, diz-me apenas que guardaste em ti bocados daqueles momentos, pega em mim e voa sem fim, até ao lugar de onde me trouxeste, em vôos teus de magia !
domingo, 2 de março de 2008
Raul, filho de Idalina !
A noite chegara finalmente ao fim, pouco faltava para de novo a luz do sol encher as ruas e as pessoas em novo dia, Raul, sentado em sua velha cama de rapaz pequeno, olhou o pedaço de papel, releu-o, amarrotou-o e praguejou alto e para si apenas. -
' Vão vocês, para a guerra e para a puta que vos pariu ! '.
Nunca fora de medos ou cobardias, quantas vezes o irmão mais velho defendera em disputas de gente graúda, o seu pai ajudara em amanhos de terra selvagem em dias de neve sem fim, quantas vezes sua mãe consolara pela perda do marido e temores de vida só, quantas vezes percorrera aquele bosque, o velho bosque de lobos e outros bichos que o avô tratara de lhe retratar em quadros de antigas bravuras, em busca do alimento que Deus não mandava. Raul nunca temera os relâmpagos nem as agruras, a pobreza e trabalho de mão e homem, pedia meças a qualquer um em bravatas de vida, arruaças de aldeia, iras de Deuses e outros quejandos mais terrenos. Não temia as balas nem os fuzis, tantos experimentara e usara em caça de recurso ultimo vividas em jornadas sem fim nem gente, quando a terra tudo negava a gente que nela fazia sua existência, sua batalha ! Para a guerra não iria, não por fraqueza ou teimosia, mas por uma alma velha e esquecida, mãe de toda uma vida, que sem ele morreria viva e renegaria Deuses tantas vezes oferendados de parcos haveres, em terços, rosários e velas com chamas de esperança.
Manhã cedo entrou na cozinha, sua velha mãe aquecia o leite de papas de receita caseira, coisa de sobrevivências em pouca abastança, com jeito para a não assustar lhe deu um beijo na nuca e sussurou . - Mãe, morreu teu filho, regressou teu pai, do mundo dos mortos por doença do esquecimento - .
Idalina retrocedeu, confusa mirou aquele homem tão parecido com seu pai, de espanto cruzou os dedos, elevou as mãos, pediu clareza de mente ao seu eterno Jesus.
- Mas, não és tu Raul ? Não és tu meu filho ?
- Não querida filha, sou Abilio teu pai ido e desaparecido, procurado e nunca encontrado.
- Jura meu filho, és meu pai ?
- Sou, voltei por artes de um telegrama, teu filho partiu para a guerra, quis-me aqui para te guardar em viver de gente!
Ao fim da manhã, vieram os homens da Guarda em procura do faltoso, o velho encontraram em seu olhar distante, cigarro apagado ao canto dos dedos, naco de pão à faca cortado, copo de vinho, eterna companhia em terra aquela.
- Por onde anda o homem da casa ? Esperam-no as tropas que hoje partem ..
- Partiu ontem, só e às pressas, tal era o desejo de a Pátria defender, disse-lhe que aguardasse .. ' que não, que não podia, urgia as batalhas vencer '... partiu em correria de coragens e bravuras de soldado.
- Seja, louco apressado, no caminho o apanharemos !
Raul viveu então sua nova guerra, fardado em trapos de velho e tiques de esquecimento, cuidou de sua mãe e tia por anos mais que em graça se mantiveram, seis ou sete ainda foram, noticias lhe chegavam dos mortos da terra, por eles chorou, pela sua vida naquela terra se quedou. Anos mais tarde, muitos segundo consta, as tardes passava em seu sitio deserto de vida, um papel amarrotado as mãos lhe aquecia, sua oração diária murmurava... ' vão vocês, para a guerra e para a puta que vos pariu !' .
' Vão vocês, para a guerra e para a puta que vos pariu ! '.
Nunca fora de medos ou cobardias, quantas vezes o irmão mais velho defendera em disputas de gente graúda, o seu pai ajudara em amanhos de terra selvagem em dias de neve sem fim, quantas vezes sua mãe consolara pela perda do marido e temores de vida só, quantas vezes percorrera aquele bosque, o velho bosque de lobos e outros bichos que o avô tratara de lhe retratar em quadros de antigas bravuras, em busca do alimento que Deus não mandava. Raul nunca temera os relâmpagos nem as agruras, a pobreza e trabalho de mão e homem, pedia meças a qualquer um em bravatas de vida, arruaças de aldeia, iras de Deuses e outros quejandos mais terrenos. Não temia as balas nem os fuzis, tantos experimentara e usara em caça de recurso ultimo vividas em jornadas sem fim nem gente, quando a terra tudo negava a gente que nela fazia sua existência, sua batalha ! Para a guerra não iria, não por fraqueza ou teimosia, mas por uma alma velha e esquecida, mãe de toda uma vida, que sem ele morreria viva e renegaria Deuses tantas vezes oferendados de parcos haveres, em terços, rosários e velas com chamas de esperança.
Manhã cedo entrou na cozinha, sua velha mãe aquecia o leite de papas de receita caseira, coisa de sobrevivências em pouca abastança, com jeito para a não assustar lhe deu um beijo na nuca e sussurou . - Mãe, morreu teu filho, regressou teu pai, do mundo dos mortos por doença do esquecimento - .
Idalina retrocedeu, confusa mirou aquele homem tão parecido com seu pai, de espanto cruzou os dedos, elevou as mãos, pediu clareza de mente ao seu eterno Jesus.
- Mas, não és tu Raul ? Não és tu meu filho ?
- Não querida filha, sou Abilio teu pai ido e desaparecido, procurado e nunca encontrado.
- Jura meu filho, és meu pai ?
- Sou, voltei por artes de um telegrama, teu filho partiu para a guerra, quis-me aqui para te guardar em viver de gente!
Ao fim da manhã, vieram os homens da Guarda em procura do faltoso, o velho encontraram em seu olhar distante, cigarro apagado ao canto dos dedos, naco de pão à faca cortado, copo de vinho, eterna companhia em terra aquela.
- Por onde anda o homem da casa ? Esperam-no as tropas que hoje partem ..
- Partiu ontem, só e às pressas, tal era o desejo de a Pátria defender, disse-lhe que aguardasse .. ' que não, que não podia, urgia as batalhas vencer '... partiu em correria de coragens e bravuras de soldado.
- Seja, louco apressado, no caminho o apanharemos !
Raul viveu então sua nova guerra, fardado em trapos de velho e tiques de esquecimento, cuidou de sua mãe e tia por anos mais que em graça se mantiveram, seis ou sete ainda foram, noticias lhe chegavam dos mortos da terra, por eles chorou, pela sua vida naquela terra se quedou. Anos mais tarde, muitos segundo consta, as tardes passava em seu sitio deserto de vida, um papel amarrotado as mãos lhe aquecia, sua oração diária murmurava... ' vão vocês, para a guerra e para a puta que vos pariu !' .
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