chegou-me daqui ...
' ... A travessa das rabanadas caiu estrondosamente no tapete. No mesmo tapete onde os dois se tinham sentado 20 anos antes. No mesmo tapete onde tinham feito amor, na única vez que estiveram juntos! Naquele tapete, onde os dois viam agora em simultâneo, um passado escrito a açucar e canela! ... '
... O embaraço da situação, um chão cheio de rabanadas ao som de uma travessa que se estatelava desajeitadamente, o olhar atávico e parado de Ambrósio e Miquelina, seus tios de sempre e para sempre a quem nunca soubera explicar um adeus nunca dito, um aperto de coração que se lhe rebentava num mar de lágrimas que nunca chorara e sabia perdido, tudo resultou como um murro no estomago que o arrancou daquele torpor de vida rasgada. Teresa continuava a mesma calma rapariga de sempre, num rápido e quase invisivel movimento tudo repôs em seu sitio, Carlos acordou daquele pesadelo de diálogo interior em que tudo vira de pernas para o ar num malabarismo da imaginação , sentou-se no lugar que durante vinte anos parecera esperá-lo e num silêncio gritado olhou para a mesa onde havia uma cadeira ainda vazia. A ceia de Natal, daquele Natal, de todos os Natais que não se recordava de ter celebrado, contava certamente com uma pessoa mais, não se atreveu a fazer perguntas, vencia apenas as barreiras, os muros e distâncias que tão desesperadamente sabia ter cavado. Sem recriminações nem questões suspensas de todos aqueles que pareciam acabados de acordar naquela longinqua manhã de há vinte anos atrás, a noite e a ceia acolhiam-no num mundo onde sabia pertencer, onde receara desde sempre ficar, numa agonia inexplicável de medos de vida.
Delicada e frágil no seu corpo de decidida mulher juntou-se à mesa aquela misteriosa companhia, olhos de querer numa educação de gestos perfeita . Teresa, soltou então as guardadas palavras no seu coração de Mãe e mulher:
- Inês, nunca te menti acerca do Pai Natal. Hoje, mulher que és podes então entender. Estes são os teus. O teu Natal, o teu Pai !
Carlos reparou então nos olhos acabados e gastos dos seus tios, de onde saiam lágrimas molhadas em esperanças ao nada arrancadas, nos olhos de firmeza feita naquela Teresa que agarrara num lume nunca perdido, olhou para dentro de si e pela primeira vez desde criança de colo voltou a sentir a força de um beijo, um beijo velho de vinte anos, cujo sabor o guiara de volta !
.... segue aqui ...
segunda-feira, 17 de dezembro de 2007
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18 comentários:
Rios de lava interiores...anos em segundos, e de repente estar no lugar mais certo do mundo e tudo apesar de estranho fazer absoluto sentido....
Ah Red! não esperava outra coisa dessa pessoa que se diz escrevinhador apenas, quando escreve e descreve como ninguém!
Beijo de Gata!
Por entre o teu "silêncio gritado", eis-me aqui, lendo o poder do malabarismo das tuas Ideas, as quais agarraram de novo o lume...
Estes são os teus. O teu Natal, o teu Pai !...
Não sei se ria, não sei se pasme pela originalidade... muito bom mesmo!
Gostei!
Obrigada pelo teu tempo!
Beijinho
Em grande, red... Mesmo sendo difícil unir pedaços de histórias inventadas por cada um de nós, a verdade é que conseguiste criar um novo ponto de interesse.
You're a star, dude!!!
Muito bem amigo Red... como sempre não nos deixaste ficar mal - mesmo sem "aquelas meninas" à mistura... hihi!
A tua escrita é intensa... E intenso ficou o teu bocadinho do nosso conto - intenso como tu!
Um big crazy cat kiss...
gata: vindo de ti ... sounds like a gr8 compliment ... indeed !
mó: c'est moi que agradeço !!
CL: inês... o seu a seu dono .... e agora que termine em grande o que em grande começou ... somewhere in a blog our pardon !!
cati: intensa ... quando sai .... ! Vulgar ... qd espremida !
Red... Só espero estar ao teu nível, o que vai ser difícil... sem falsas modéstias, sem falsidades, mas de verdade e do fundo, mesmo.
Era capaz de usar a F...word, agora. Está mesmo bom! =)
Vou tentar ser rápida a postar. Vou tentar...
Olá Sr. Redjan:
Em primeiro, cumpre-me esclarecer que não acho que o cavalheiro escreva mal, aliás se assim fosse eu não viria por aqui à procura das suas palavras.
Em segundo lugar, 'possas' não era preciso gritar-me aquele "MAL"!!Que ainda tenho o tímpano esquerdo a zunir, quer-me cá aprecer que era do vento que vinha daí do seu lado, bem enublado por sinal, deve ser dos cigarros e tal...
Em terceiro lugar, impõe-se-me dizer-lhe caro Senhor Redjan,que aprecio este seu espaço, e se o meu humorzinho inglês do sul de França alguma vez foi tomado como inconveniente, queira desculpar esta sua ( mui pouco)humilde leitora que acha a sua escrita de uma originalidade brilhante ( e não me venha falar em espírito natalício, que se Vossa Excelência se dignasse a já ter aparecido presencialmente no meu Circo, saberia, por certo, que gosto tanto do Natal como o Ghandi gostava de cozido à portguesa...)e criatividade imensa.
Quarto, o Senhor Redjan esteve muito bem nesta sua participação, surpreendeu bastante e teve umas frases muito do cool. Faltaram os lenços de papel, talvez tivessem usado os guardanapos natalícios que ao debotarem tingiram a imaculada toalha de natal, deixando para todo o sempre um estigma nas consoadas vindouras.
Quinto, um beijo em si sem dó ahahahah...porque me apetece, e como ainda tenho o meu tímpano a zunir nems e atreva a refilar que isto de refilices é no Catacumbas... Onde? Ora, francamente!! Descubra!
Até já, volto para um chocolate quente!
danielle: wanna bet u can do it ?
señorita ki: aquele ' MAL ' não era gritado, apenas pobre realçado ;-)
Aprecio o seu ' chap's place ' sim , fisica e sentadamente, embora por lá seja fraco comentador, fruto apenas de sossegadas interiorizações. Quanto ao seu humor, será sempre benvindo por aqui, aconselhado e suplicado até ! Gostei que tivesse gostado deste pedacito em acrescento no ' Conto de Todos Nós ' .. recebo o beijo desapiedado de carinha aberta e sorriso rasgado ... volte sempre, das Catacumbas ou de outros lugares seus
Deste que a estima
Red
Redjan, gostei desta continuação á minha humilde reviravolta natalicia. Deixaste aqui um novo suspense na história. O que mais irá acontecer ao pobre do homem?
Abraço
Senhor Red
Eu sabia que você era bom ( bom de letras, atente-se) mas hoje você excedeu-se e foi bombástico. Gostei do jogo de cintura.
(Excelente chocolate quente. Tks 4!)
Quando for ao Chapiteau terá pipocas à sua espera comentando ou interiorizando...whatever...
Mais um beijo.
Sempre quero ver que mais voltas levará esta história.
Amei a tua parte...
Um beijo viajante...
para um red que escreve com palavras tocadas, baralhadas, mas nunca menos sabidas, numa maneira que sempre as soube suas.
fiquei eu, sem palavras minhas!
Amigo, espero que este Natal te traga a confiança que te falta na capacidade de escritra criativa. Quem escreve assim não precisa de acreditar no Pai Natal. Basta acreditar nele próprio. Abraço
tuga: deixo à Meia Danielle e aos que ainda faltam, a tarefa de encontrar as voltas que preencham e acabem aquela manhã perdida e reencontrada. Por ti, por mim, por todos nós.. ;-)
viajante: sempre bem vinda por aqui, que nunca me deixe que lhe falte nada no sofá...
wolf: sem palavras tuas e no entanto sempre lá ... onde também gosto de te ouvir .. uivar!
Zé: acreditar... quero pelo menos ! Até lá vou ... lendo os amigos que me mostram o caminho. De Pensamentos, de Histórias e Pôres-de-Sol, de Conselhos de Gozares de Vidas ... De outros blogs que afortunadamente descubro, também !! ;-)
Muito, muito bom!
Vim retribuir a visita e o comentário extremamente inteligente, e deparo-me com um blog com muita qualidade!
Obrigada por teres cruzado os caminhos da red Light... voltarei!
Cousin Red Light...
Chave debaixo da porta, sofá abastecido .... volta sempre que te apetecer!!
Olá Red,
Hoje dói-me a garganta. Tens por aqui um carioca de limão quentinho?
Bem, a Daniela já postou a vitamina C e deu um ar `meio ácido lá para o final da sua escrita doce...
Está ficar lindo isto, está eheheh
Beijinhos roucos
"Carlos reparou então nos olhos acabados e gastos dos seus tios, de onde saiam lágrimas molhadas em esperanças ao nada arrancadas"... tenho os cabelos da nuca completamente eriçados - não é preciso dizer mais nada. Emocionante!
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