Entro na estação de serviço do costume, dirijo-me aos jornais onde pego n ' A Bola ' enquanto lhe agarro as ' gordas ' da 1ª página, peço um café ao balcão ao mesmo tempo que preparo isqueiro e cigarro. Um sol quente e anormal para quadra natalicia a pedir cenários de neve e pistas de trenós para renas de autómatos Santa's , crucificados em varandas e fachadas onde patéticamente trepam para chaminés em forma de ventiladores, um sol quente dizia, dá ao ambiente um toque inesperado de acolhedor sitio para o ritual diário da tríade BB&M, bola, bica e marlboro ! Duas baforadas, um gole a medo sorvido e algumas noticias com nada de novo mas em obrigatório tom encarnado, são invadidas por frases entrecortadas em vizinha chamada de telemóvel. Mais que desconcentrarem-me, obrigam-me a um olhar inevitável , como se necessidade sentisse de dar rosto àquelas palavras escutadas por inerência geográfica. Uma mulher de terceira idade, seja lá que idade possa essa ser, ensaia desajeitado diálogo de frases soltas em torno de tudo e nada, do tempo estranho que nos aquece ao desfiar do que fez ontem e fará de seguida. Por mais que queira voltar às desportivas actualidades, sinto-me levado naquele timido namoro, imagino as respostas possiveis vindas do outro lado da linha, a minha companheira de pastelaria de estação de serviço conduz o momento para um momento mais que os seus olhos indicam desejar. Percebo que não está fácil, não se vislumbram os imediatismos de quem vive a correr, mistura-se-lhe o brilho de esperança e o cansaço de imaginar solidões, esqueço a actualidade não lida, arrefece-me a bica e queima-se o cigarro, invade-me também pequena agonia que possa resultar de tudo terminar por ali. Apetece-me pegar no aparelho, fazer uso de práticas sedutoras e em nome da já minha amiga, tal é a ternura que sinto naquele olhar de vida que não morre, levar o interlocutor a dizer que sim ... que iria passear em paredão de sol junto ao mar, dar as mãos que voltaram a acordar sós, trocar beijos do mesmo velho amor , com aquele coração que batia por companhia. Dir-lhe-ia mesmo, que bonita é a tua namorada meu velho.... que beleza de mãos gastas , de olhos que brilham quando não choram nem desistem , que linda é esta mulher !
O facto é que a vida me queria noutros lados, já nem cumpri o ritual com a cadenciada devoção, saí de volta ao carro não sem antes lançar um ultimo olhar em busca de um sorriso que em sua certeza me apaziguasse. Reentrei na Marginal e fui ao cantinho dentro de mim onde Lhe peço que interfira ! Deus queira pois que passeiem por esta hora !
quarta-feira, 26 de dezembro de 2007
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2 comentários:
e se não disse que sim, que se f...!!! não merecia "tamanha" interlocutora.
e se disse, então que aproveite o que esta vida tem de bom...
Vinha trazer café quente e cigarros inteiros, para repor tal hecatombe na rotina já viciada de uma sociedade que a tal nos obriga.
E já agora um abraço, pode?
wolf ? Thanks pal .... !
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