segunda-feira, 7 de janeiro de 2008
três olhares sobre um dia !
Esta é a simples história de um simples dia na companhia de coisas boas da vida que entendem juntar-se no mesmo tempo e lugar. Um dia de céu limpo, uma cidade chamada Nova Iorque e duas pessoas, Zé e Artur que tive a sorte de ver entrar na minha vida. Tudo se passou, nada se passou e o fim do dia chegou com aquela sensação de que há momentos que valem a pena.
Ferry Street
Cinco da manhã, novaiorquinas bem sei mas cinco da manhã de qualquer modo, o Zé interrompia o seu sono povoado por ressonos justificados e sempre negados, a caminho da eterna visita matinal que se faz à casa de banho quando o sono desaparece. Habituado a despertares de sono ligeiro de pai de criança de quatro anos, vi ali interrompido o meu trajecto do aconchego, sabia terminado o repouso e iniciado o dia que longa caminhada prometia. Entre cerimónias mais de preguiça que de outra coisa, num zapping à procura de novas nas primárias do Ohio que teimava em esbarrar nas ultimas, ou ausência delas, de rapariga perdida na montanha, o som da televisão seria por certo suficiente para acordar a vizinhança de três portas para cada lado do corredor, mas assim entendia necessário o meu parceiro de quarto. Após dois duches e a cerimónia do trajar a roupagem adequada a oito graus negativos, partimos em direcção à mui lusa Ferry Street, onde as torradas, croissants e bolas de Berlim substituem os tão americano-apreciados ovos sunnyside up, mai la catrefada de salsichas e baked beans. Tomado o mata-bicho e por ideia do Zé, tomámos o rumo de uns armazéns que por ali havia , sempre dava para fazer hora até abrir a loja de electrónica dos portugueses onde se pretendia comprar uma camera digital, reposição de stock a fim de esquecer o triste episódio em que o mais velho dos dois, num acesso de alemãozice, houvera deixado no táxi que na véspera fizera a corrida até ao NJ Gardens das compras inevitáveis, de rouparia e não só, marcas finas preços de pobre! Feita a coisa e no trajecto para o hotel e hora marcada com o terceiro compincha, - ‘ espera aí temos de entrar ali se queres mesmo comprar boxers e peúgas ao preço não da água, não da uva mijona, mas da década de 70 ‘. Hesitações e gracejos à parte, lá entrámos, historieta antiga sobre preços daquele local, eis senão quando a coisa se mantém, é um fartar vilanagem, quais trajes interiores qual nada, fomo-nos aos casacos e casacões, blusões anti frio, anti tudo, camisa de ar coçado a condizer com o meu gosto a atirar para o desmazelo, toca a pagar a pechincha, - ‘espera aí levo um cachecol também ... ‘ ah cachecol ainda bem que falas nisso deixei o meu por aí algures’ ... ‘ ai Zé esse alemão anda a dar-te, olha só tenho uma luva eu, que é feito do par? ‘ ... Lá estava, esquecida num molho de roupa entre provas, mau isto chega cedo, aos quarenta e cinco, na farmácia pedimos dose do remédio para os dois!
O resto do dia ...
Agasalhados e juntos os três, percorrido o curto trajecto até ao Path , meio comboio meio metro, nada que saber ... direitos à 34 St ainda que com mudanças de linha, foto para aqui e ali, tudo documentado não fosse a coisa acabar em post. Aterrados em plena Grande Maçã, tira luva, saca e acende cigarro, procura de um Starbucks, rotina que agradava ao par de mais novos, o ajuizado não fumava mas parava também, atravessa-se para o lado de lá e ..
‘ - Vocês sabem de quem é esta estátua?.... Pois é, assim, saiu a primeira conversa em torno de algo de jeito, Artur sabia atentos os amigos, carregou no detalhe da pessoa homenageada, pessoal isto merece foto alvitrei, - ‘ que sim! ‘ - acenaram os dois, tira luva e ajeita o cabelo, quem o tem e é ralinho ainda por cima, escolhido o transeunte que eternizaria o momento, chegada a hora de decidir o rumo.
- ‘ Então, subimos a 5ª até a o Central ?- andamos por lá, de charrete segundo o Artur, de bicicleta propôs o Zé, de patins disse eu, ideias muitas, frio também, ficámo-nos pela caminhada permanentemente interrompida para registo fotográfico. Na esquina com a 36 St. entrámos a fim de comer qualquer coisa mais, num muito agradável W Café, género de tem tudo, comida japonesa incluída. Sentados e quentinhos, mais umas fotos, lá aquecemos o corpo , o estômago e a alma, a onda do sitio era boa, dez dólares a cada um, nada mau, almoço em NY ao preço de lanche em posto da BP.
No Central Park, seguiu-se o arrazoado costumeiro de chapa a contra luz a abraçar lago gelado e arranha-céus, passeio tranquilo por entre uma paisagem que nos entra adentro para ficar e acalmar, são as gentes e as coisas, a natureza e seus habitantes que ali nos envolvem e atiram para para longe da vizinha e esquadrinhada NY no alcatrão.
Passaram os minutos e as horas sem que tal constituísse curiosidade ou preocupação, meia volta e descemos até Times Square, o jogo de luzes estava de encomenda, aquele inicio de fim de tarde puxava a cafés, cigarros, fotos e passeio na multidão, fascinante aquela cidade de mundo inteiro, abraça-nos a alma e joga-nos no espaço onde únicos nos tornamos partes de um todo, como se os pensamentos se elevassem e nos arrumassem peças e ideias. Na companhia de dois non-sense parceiros que aguentam provocação permanente e dão troco, passei uma tarde que nem vi correr e arrancámos então em direcção à 3ª com a não sei quantas, em busca do tal de Milon, restaurante de comida do Bangladesh que me reservava surpresa falada desde a véspera. Entrámos e saímos no Subway , divergiam as opiniões entre Subway e Yellow Cab .... divergiam eles digo eu .. por mim estava tudo bem, tanto me dava, sabia lá qual era melhor se nem vislumbrava a lonjura do destino. Decidimos pelos carris, na bicha dos bilhetes estava um sul americano a ser gritado e de lado olhado por uma gorda afroamericana com ar de inteligência de juntar água e arrogância de frequentadora do McDonald’s, chegou a nossa vez e cuidei que marchávamos a gritos também, . - ‘ three, please ‘ disse o Zé, veio um só, ‘ ... mas eu disse three. Mum ...’ – ‘ pass it three times ‘ , she said com o mesmo ar enjoado com que devia conviver desde a nascença ! Lá fomos ao torniquete, passámos o cartão de um lado e outro, e mais um e mais outro, de pernas para o ar, dentes para cima, dentes para baixo e pôrra de movimento nenhum naquele filhinho da puta de bracinho metálico. Atrás e ao lado era um fartar de gente a seguir, todos menos os três da vida airada, eu já me ria com o ar com que olhávamos o bilhete três em um ... até que alguém se lembrou de chamar uma colega da trombuda, veio a contra gosto e a rosnar superioridades, mas Deus não dorme, menos ainda naquela cidade, e a autoridadezinha fardada, tipo meio policia meio merda nenhuma, passou o cartão como quem mostra como se enche um balão e .... f.....-se à grande e à franciú, népia de abrir o ‘ mãe da foca ‘ do gate. Conseguiu à sétima, deu ainda para um esgar de superioridade em tons de amarelo mui fraquito, passaram dois e o terceiro, eu claro, lá marrou de novo com a bosta do guarda mecânico. Passei pela porta para inválidos e bagagens grandes, por onde certamente passariam as funcionárias desajudantes, fosse o caso de irem passear também . Da 42 St a Downtown foi o do costume, cruzar olhares e adivinhar percursos e vidas de gente que veio do mundo, ficou no mundo e do mundo não me parece que vá sair !
Chegados perto do destino, o Zé e o Artur não quiseram deixar de me brindar com a visita a Washington Square e seu Campus universitário, mais ainda uma livraria que segundo o Artur não podia deixar de me mostrar. A praça é de facto bonita e ficou em foto, a livraria levou o Artur em busca de um quarteirão que, sendo por ali mesmo, acabou por não dar a cara, enquanto o cigarro e as fotos do costume, agora em montra de interiores peças de roupa feminina me ocupavam e ao Zé ! Chegados ao restaurante entendi a surpresa da coisa. É como entrar numa árvore de Natal de um lar na Amadora ou Fogueteiro. A profusão de luzes e o papel de parede escolhido transporta-nos para uma sexta dimensão, como se jantássemos num filme dos anos setenta acerca da psicadelia. Comeu-se bem e o do costume, o picante trata de enganar qualquer prazo que desafie a ASAE local, todos bem apertadinhos e aconchegados, aproveitámos para dar ao dia o tom intelecto-social e debatemos questões sindicais e outras que tais. Antes da conta, aterra-me à frente uma bola de gelado com uma vela, toca uma música de carrinhos de choque, alinhei na coisa que pensei tradicional e bati palmas e mais palmas, até perceber que se festejava o meu aniversário, assim disse o Zé ao empregado, assim as pessoas do restaurante me desejaram um dia especialmente feliz, agradeci sem desmentir a efeméride e atribui a coisa não ao alemão mas ao facto de ser bom ter e estar com amigos avariados dos cornos !
Regressámos pelos eternos caminhos de Cab’s e Sub’s, chegámos ao hotel perto das vinte e três horas deles, quatro da matina nossas, fumei um ultimo cigarro e deixei o frio do dia para trás. Enquanto fazia um ultimo e obrigatório zapping pelos canais de noticias e desporto, o sono atacou-me. Fechei as contas do dia e inclui-o no grupo dos que valeu a pena e muito. Como vale também ter amigos assim.
Obrigado Zé dos Elevados, obrigado Artur do Todo !!
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15 comentários:
Que três! Deve ter sido mesmo em grande!
=)
Beijos grandes!
...o esquecimento aos 45...
...olha com algumas meias dúzias menos...
...I think I was forgotten somewere on born...
...Bring three, please, from the store...
Gr8 day and story, from the place where coffe stucks!
Um dia para guardarmos do lado esquerdo do peito.
ARTUR
Porra, gostava de ter ido também... Deve ter sido uma festa. Inveja....
Ainda nem li e já estou com uma inveja descomunal!!! Aiii...
Vou ler tudo tudinho muito bem lidinho.
Beijos aos três - Artur, Zé e para o meu querido Red...
PS - Para a próxima levem-me na mala...
Só passei para desejar um BOM ANO!! Que 2008 seja ainda mais fantástico que 2007!!
Beijokas!! =D
F*** fica-se sem fôlego a ler isto! Mas curti demais tudo e tudo, as fotos do menino do ar maroto, mais do menino do olhar perspicaz, mais do menino bonito que não aprece nada ter 45 outonos em cima!
Mas eu ri tanto com a ideia do aniversário, que figurinha lol!!
E fumaste?
Então o Sigñor nãos abe que é proíbido fumar que nem cigarro pode apagar? e assim cantava o outro!!
Beijos :)
P.S. - Além de pipocas há agora tb uma inovação: algodão doce, pode ser q volte mais vezes!
De VITOR PERU,aquele a quem marcaste uns golitos em tempos remotos numa especie de jogo de futsal.Pergunta ao ZE Ceitil que ele lembra-te.Isto a proposito de te admirar pelos escritos,que de vez em quando leio,mas tambem por seres um grande amigo duma pessoa pela qual nutro uma amizade muito especial,O MEU GRANDE AMIGO ZE.Essa do Alemao esta espetacular.Um Abraco
Adorava conhecer Nova York!
Sou toda virada para as cidades, para as marcas que estas deixam nas suas gentes, para as suas marcas por nós deixadas.
Amo calcorrear ruas, avenidas, olhar para prédios cheios de gente, plenos de vida!
Nova York... espera por mim que um diria aí irei!
Beijos Red para ti!
Thank u for this moment!
I said stucks?? f..k!
double dose, from the store...
I mean...
..from the place where coffe sucks!!!
Obrigada pela visita!! E claro que deu para perceber que era o Redjan talkin'!! ;)
Estou na preparação do catálogo e de uma página web em condições, assim que tiver tudo prontinho mando-te para o mail! ok?
Obrigada!! =D
Beijokas!!
danielle: foi em grande indeed !
wolf: coffee what ? ... ;-)
artur: guardado aí ficou !
CL: vens na ' next ' ??
cati: mala pronta então .... will u join us ?
ki: bonito e que não aparenta 45 ? ;-) AMIGA !!
vitor: achas que preciso de perguntar ao zé ... pelos golos ? Um foi de ... meio campo ! E obrigado por teres entrado neste espaço !!
red: eu é que agradeço a visita e tal... e NY está sempre por lá... à espera de quem lhe apareça.. ;-)
gazela: fico à espera...
wolf: I know you like the coffee n the place .. mas caso assim seja... até uma nespresso se arranja aqui para o canto !!
Brilhante post!
Acredita que gostei mesmo e também vou ao Zé e ao Artur, dizer o mesmo.
Muito bom!
Forte Abraço,
Bi
Cada vez estou mais entalado e sem margem de manobra... Coisa que até nem é dificil para mim!
Acho que depois da João ler o teu post, o do Zé e o do Artur, estou definitivamente "agarrado" para ir a NY.
O Zé até que me deu umas ideias malucas, tal como tu já tinhas feito...
Hablamos depois y Grande Abráçio para Ustéde!
Bi
Obrigado, meu querido.
Fecho os olhos e faço o percurso que, embora com algumas variantes, tantas vezes fiz. Vou parando aqui e ali, detenho-me nos locais, nas pessoas, nos sons, nos cheiros. Ouço as piadas, os impropérios quando em grupos mais ou menos reduzidos, íamos satisfazendo as nossas necessidades pessoais, as encomendas, e as prendinhas com que iríamos satisfazer a miudagem no regresso a casa. Havia que saber gerir o tempo para que nem só das futilidades vivêssemos. As livrarias. os filmes que tanto tempo demoravam a chegar ao rectângulo, o MOMA, os musicais na Broadway... tanto, tanto entre dois voos e se por vezes tudo parecia repetido era porque não estávamos atentos pois nada se repete em Nova Iorque. O vosso dia, não se repetirá, primeiro por razões dolorosas e depois porque a história não se repete e o vosso dia é história tão bem contada por ti e pelo Artur... Olivais and Campo d'Ourique meeting on neutral ground... Manhattan!
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