Tentava calcular há quanto tempo estaria por ali. Alma alguma para perguntar, ninguém e nada tão pouco pareciam existir por ali, nem barulhos nem cheiros a não ser os do mar e areia, apenas as ondas e a sua dança, rotina de vai e volta e o vento também, esse vento que como ele não sabia se ir ou voltar, se estar ou partir. Mais do que fome, sede, frio ou cansaço, sentia o corpo a traí-lo, que vontade de o sentir e voltar a ter como antes , sem aquela estranha sensação de ter desaparecido, como se de si tivesse saído... Adormeceu, finalmente e uma vez mais, cada bocado de tempo que passava entre o sol, as estrelas e marés que iam e vinham, tornara-se a sua vida, uma vida que queria apenas compreender e para a qual não tinha sequer a sua própria companhia, queria apenas saber quem era, de onde viera ou para onde iria, mas ali teimava em não haver alma, nem barulho ou rasto deles. Exausto sonhou então, um sonho com água da chuva, tanta chuva com o seu barulho, cheiro e côr, sonho povoado de sitios e lugares estranhos onde lhe parecera haver algo de tão familiar, onde juraria ter existido em tempos....
Manhã cedo a borrasca partira, do sonho e daquele lugar, deixara uma luz de côres diferentes, uma textura impossivel impregnada no ar! Sabia agora que não interessava há quanto tempo estava ali, desaparecera a ânsia de respostas e sentia algo voltar. Voltara para dentro de si e pela primeira vez em tanto tempo, fosse lá o que tanto durasse, entrou no mar e viveu, viveu o frio e o sal, sentiu o corpo a explodir no seu regresso à vida. Nadou o quanto pôde, uma, duas, três horas, ou dias ou minutos .. ? Nadou e da água saiu reparando então no detalhe da paisagem em que já não acreditava ainda crer..... no seu sitio, no seu lugar na terra debaixo de um novo céu, havia afinal lugar para outro ser ...
-Bom dia pelicano, que raio fazes aqui ? cumprimentou perguntando .
Assim passou as seguintes horas ou espaços de tempo que não sabia já definir, assim por ali, tentando que a visão pós-natatória se lhe apresentasse como um caminho de saída, de volta, de partida, queria lá saber.... um caminho que pelo menos pudesse percorrer sem se ter por única companhia!
-Fala pelicano, fala como souberes, mas fala, diz-me o que traz por cá, queres companhia para o jantar, podíamos, sei lá, rachar uns momentos, dividir umas memórias, vá pelicano, sais desse marasmo ou és parte desta paisagem do silêncio?
Pela primeira vez depois do sonho, sentiu que o corpo lhe falava, tinha fome era evidente, não por salivar com culinários cheiros, mas porque tinha fome apenas! Alguma coisa tinha de mudar, ia mudar, longe dum inútil que se lhe fugia na memória, olhava para si imaginando que disfrutar da vida passava também por vivê-la nos seus momentos..... Naquele, momento claro, tinha fome e nada à frente! Ergueu-se sem pressas, voltou ao mar não para novo banho de vida, voltou ao mar para de lá tirar a sobrevivència, o seu jantar, pela primeira vez seria parte do jogo de se viver a si mesmo!
Não foi preciso passar tempo que se visse, braçadas para cá e lá, mergulha e sobe, ganha ar e volta, a pesca não era como lhe ensinaram noutras vidas, para que lhe servia ali ser humano, se de humano pouco tempo lhe restava se não descobrisse breve como alimentar a própria vida.
Voltou à areia e seu cantinho, com frio, medo, sede e fome, adormeceu pensando por onde andaria o colo da sua mãe, por onde andaria aquele cantinho quente e seguro a quem em tempos confiara o seu coração, por onde andarias tu chuva da minha infância ??
domingo, 7 de janeiro de 2007
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