O sol ia alto e espraiava a sua luz a meias com um vento tão próprio daquela terra de ninguém. Brincavam entre si e desafiavam outros a compôr a dança. Há muito que assim mandava a tradição, entrava o sol e sua lei, manhã inaugurada, e a partir daí era um fartar vilanagem, valia tudo, mesmo tudo, chuvas e arco-iris, ventanias e vendavais! No momento em que pela lei do homem se definiria por fim da manhã, o pelicano saiu da água e com ele dois grandes peixes pela bôca pendurados !
- Toma, come senão morres ! E se morres não tenho com quem falar!!
- Tu falas? Mas tu és um pelicano!... Tu falas de verdade ?
- Também tu és um humano e nem um peixe soubeste tirar... come e cala-te agora! Ganha forças e começa a pensar como irás daqui sair!!
- Sair daqui? Talvez não, talvez fique, talvez queira entender porque vim aqui parar!
- Não deves querer ficar, não percebeste ainda? És o unico!! Como te chamas ?
- O único??? Como o único? Janas !
- Janas ? O que dizes, perdeste o juizo? Janas o quê?
- Janas, Janas é o meu nome ! E o teu?
- O único que não percebeu ainda, o único por aqui.... que não aprendeu a viver!! Queres ficar ?
- Quero.... ajudas-me ? A ficar? A aprender?
- Vou tentar humano, vou tentar mas não posso prometer! Graudo!!
- Graudo o quê?
- Graudo, é o meu nome ! Agora come e descansa, bem precisas, sonhaste alto a noite inteira, cuidei que ias morrer!
Entre a conversa do pelicano, o sol que ia alto e quente e o peixe que lhe soube pela vida, Janas sentia que aquele era o caminho do não retorno... o caminho com que sonhara em tempos, num tempo ainda tão próximo e no entanto já tão longe. Voltava a casa de mais uma viagem, em mais um daqueles vôos sempre iguais, olhava pela janela como fizera milhares de outras vezes quando pela primeira vez viu as nuvens como elas eram ...
... continua
segunda-feira, 15 de janeiro de 2007
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