quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Manel e Maria ...

Havia anos, muitos mesmo dir-se-ia, que Maria e Manel guardavam entre si e para si um segredo, não por cobiças ou vergonhas vãs, apenas porque a incompreensão de suas compreensões assim aconselhava. Mais do que ao céus bradar banalidades, mais do que cartilhas sexistas subscrever e suportar, a dupla encontrara e trilhava, não sem espanto, um caminho que desbravava rumo a almejado destino. Assim posta e caída em sua vida receita de cozinhado caseiro, seguiram M. & M. o inusitado propósito de viver simples em seus corpos e cabeças. Alheados de imposições do ' diz que disse e ouviu dizer ', com naturalidade e interior desejo se lançaram com seu sonho guardado em longo percurso de monotonias consagradas, aqui e ali salpicadas e avivadas com temperos de sentida paixão e desejo. No desfilar contínuo de sóis e luares, deram e receberam almas e intimidades que ousavam sonhar dividir, cuidando os obstáculos de tornear em lugar de os criar. Por opção libertos de cânones e comparações redutoras, deram-se em liberdade e à liberdade de partilhar cheiros e formas, tiques e trejeitos, num espaço que encontraram como seu, de camas, sofás, lavabos e mesas postas. Deste modo, singelo e ingénuo, enfrentaram o enjoativo repetir de despertares resmungados, premiados com cara feliz na eterna e frustrada caminhada junto do rebanho humano onde o Criador os fizera gente. Os anos passavam, a vida também, fraquezas e tropeções enxameavam as existências do par, à medida que rugas e surdezes se apresentavam como novas companheiras. Amarelecidas as paredes e suas fotografias, dentaduras e outros artefactos, branca teimava em restar a esperança de suas mãos saberem entrelaçar. Quantas vezes assim os encontrou o hino nacional das boas noites televisivas, tantas quantas assim os encontrou o raiar de novo dia . Manel e Maria não caminhavam para novos .

Naquela tarde, sentados a receber os últimos raios de sol de um Outono vestido de folhas amareladas e caídas, no velho banco que apadrinhara o momento mágico em que cruzaram , tantos anos idos, seus olhares, tremores, desejos e taquicardias de amor, Manel e Maria agarravam as mãos, mais do que as davam, num calado fim que adivinhavam esperá-los. Doenças de velho haviam levado a mente de um, prantos calados e beijos de coração agarrado o outro. Ao fim daquela tarde , inicio de fria noite, partida avisada do destino levou o coração de Manel num fulminante e derradeiro bater, o de Maria num solitário e solidário desistir.

Na praça, no antigo coreto, mais tarde banca de jornais, nos dias de então um moderno ciberspaço, um aglomerado de bloggers, designação que nunca chegaram a entender, suspirava por fim:

Nós não vos dizíamos que eles acabavam por se separar?

9 comentários:

Wolf disse...

ehehehe, gr11 finale!
Alguém tem horas? é que deixei o relógio, para os lados do post...

Sei lá... disse...

Novo espacinho da Gazela iniciado hoje... desta mais pessoal!! Vamos lá ver se me ajeito com a coisa!!

Espero pela visita!!

Kiss

José Ceitil disse...

Algures no manuscrito que ainda não leste, está escrito:"
Quando nos apaixonamos, não o fazemos a prazo mas sim para toda a vida. A vida, depois, pode impedir que isso aconteça mas esse já é um facto que nos transcende porque não depende só de nós. Viver a dois não é fácil mas é óptimo quando se consegue. Sorte têm aqueles que aprenderam a desbravar o mato que se mete pelo meio e atrapalha os sentimentos e descobriram o caminho de vida comum que os conduziu ao segredo do entendimento que os mantém juntos como casal ao fim de dezenas de anos em harmonia e, para inveja dos infelizes, com o amor que se percebe no que fazem, nos carinhos, nos olhares e nos sorrisos. Sorte, talvez, mas também uma imensa sabedoria com que passam pelo tempo, mesmo nos dias ocupados de dificuldades, aceitando-o e vivendo com a leveza dos gestos simples de ternura com que se confortam e ajudam e amam como quem se quer bem. Felizes."

Sei lá... disse...

Ops... forgot...

www.pedacinhosdagazela.blogspot.com

Anônimo disse...

Comentário Standard:

- Desafio porque me apetece -

Escolher uma das suas canções preferidas e falar sobre ela seja em poesia ou prosa ou mesmo numa breve apreciação do que essa música lhe transmite, pois até pode ser do século passado porque há que prantar a letra no post.

Como eu até nem costumo lançar desafios, nem sou apologista de… porque cortam a liberdade ao autor do blog, impondo-lhe uma ideia, já sabe pode sempre não estar nem aí e marimbar-se, literalmente, para isto que com certeza o céu não lhe vai cair na cabeça… já algum objecto…nunca se sabe!! Ah pois… e também não ganha nenhum prémio… azarito!

Cumps.

Anônimo disse...

Hum...Humm... ( a comer m&m's...) Hum! Ah então separaram-se? Cá pra mim caminharam juntos, arrastandos os pés ( mais um m&m azul...) e de repente entraram no ciberespaço ( agora um m&m amarelo...) e sentaram-se pedindo um café e deixando Manel a vontade de uma cachimbada, lá fora ( m&m laranja...)Maria mais afoita disse:

- ó jovem diga-me lá como se faz essa coisa de ter um bog. Como é?

- Oh minha senhora não é bog, é blog mesmo. Quer ver como é?

( intervalo para m&m castanho)

......
.........
...........

- Ó jovem então eu posso ter uma coisa dessas?

( Manel interrompe para ir lá fora cachimbar e falar com os fumantes.)

- Claro que pode e como lhe quer chamar?

( m&m verde...os meus preferidos depois dos azuis)

- Pode ser... Horas Perdidas.

(e foi assim que Maria fez um blog, já sem conseguir escrever à mão, mas as teclas eram tão mais fáceis...)

[(M&M red)]

__________________________________AAh hoje gostei mais muito mais, imprevisivel e deliciosamente escrito.

Toma lá pontos de exclamação !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Não foi nos saldos, mas numa loja de outlet.

Besitos <:)

Anônimo disse...

Viver a dois não é fácil...sorte têm aqueles que o conseguem...mantenrem-se juntos como casal ao fim de dezenas de anos...mas,tambem uma imensa sabedoria...e,ajudam e amam como quem se quer bem.É isso tudo Zé,e já lá vão três dezenas de anos,sou um homem com sorte.
Jan Jan e olha que ELA não é uma SANTA:eu tinha dito que te dizia o segredo da longevidade,mas o Zé já disse tudo com sabedoria.Parabens Jan e Zé pois sem o quererem lembraram-me que já lá vão trinta anos em comum.
P.S.para os curiosos,apenas tenho 48 anitos.

Maria Manuela disse...

Acabei de ler o teu último post e não consigo deixar de sorrir...

bjo

Sofia G. disse...

Lindíssimo...Comovente....Dramático...Apaixonante...Aterrador...