sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

carta a Lisboa !

De ruas, muitas ruas
De alamedas e avenidas
E ervas de betão daninho
Sem história em seu lugar
De gentes que foram suas
Esquadria de tantas vidas
Pobre desenho e caminho
Repetido e esquecido pisar

Calada sofres e sentes
Cresces em teu tumor
Como velha abandonada
Foz de rio de fraco leito
Em tuas noites não mentes
Imaginas ruas de amor
Se a vida em ti buscada
Tivesse coração no peito

És grande, viste vidas
Cidade Mãe de pessoas
Orfã de esquecida guerra
Menina, menina esquecida
E de tantas gentes tidas
Com quem sempre e ainda voas
A quem dás a tua terra
A quem dás a tua Vida


Um dia querer-te-ão bem o sabes, esperas digna guardada em teu passado, de coisas a preto e branco e escombros em vitrinas guardadas, terás memórias dos que te amaram, que contigo respiraram a magia de pedaços de vida cantados e bebidos. Por isso cidade, por isso te admiro e peço meu perdão, por isso me lembrei de te escrever para que quando chorares possas lembrar-te que em teu corpo aprendemos a sonhar caminhos que soubemos desejar. E amando-te, esquecemo-nos de to mostrar !

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

ou uma ou ... outra !

Na secura e calor tórrido daquele Alentejo de sufoco, em fim de tarde com trinta e muitos à sombra, Manel passara o fim da manhã e inicio de tarde naquele automatismo de pedir e emborcar taças de três, era branco, carrascão e fresco, que mais poderia pedir-se? O mal foi que tanto grau, de calores naturais e escalas vinícolas, chegou ao cérebro já de si gasto e cansado, ocupou o pouco espaço em funções e tratou de conferir ao andar de regresso a casa um trajecto pouco linear, a ponto de confundir a sombra que o acompanhava. Triste o momento em que Ti Manel optou por atalhar pela via principal, atravessando em curva de pouca visibilidade a olhos atentos, nenhuma a turvos. Num repente que a ninguém ficou gravado na memória, apanhado desprevenido e em desamparo por uma desembestada viatura de duas rodas, que a menos de cento e muitos não lhe pareceu chegar, voou livre e virgem no ar, pensando que ao barril que vazara devia aquela sensação reservada a passaral e aviões. Por milagre, daqueles que a ciência não explica e a religião cativa célere como coisa sua, aterrou junto ao eterno chaparro sem o qual não se faz paisagem daquelas bandas, mirando incrédulo dois pares de olhos, também eles a suscitar explicação celestial para a sobrevivência da pessoa ao meteorito motocíclico.

-Então Manel ... vossemecê aterra assim ? Mas o que foi que lhe deu ?
- Compadre, estava perto do acontecimento e dele fiz parte, mas não lhe posso jurar.. ou era uma Stelvio da Guzzi ou uma 749 Dark da Ducatti ... mas nã lhe posso jurar mesmo sabe ? Foi muita taça dele bem fresquinho e não indo para novo, esta cabeça também já não é o que era !!

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

velha da vila, improvável anciã !

Aquele era o dia, não passaria um mais que fosse, fechada em si, abandonada viva em mundo que nunca sonhara, nunca lera ou imaginara, nem nos mais recônditos momentos de alucinações Nostradamusianas que em tempos seu refúgio haviam sido, aquele era o dia e pronto, assim o pensara, assim o escolhera ! Cansada, velha e cansada em corpo de sulcos e rugas, Maria de Jesus há muito que perdera a esperança de seu homónimo lhe valer, tanto terço lhe dedicara em franca e aberta fé, sem nada pedir em retorno que não a pacatez de uma vida sossegada em desistências e papéis de mordomia, tal a sua condição de mulher e mãe em vila de província aconselhavam e arrumavam em tradição secular, milenar talvez. Nunca se ajeitara em belezas e artefactos, nunca nada saboreara para além da recompensa de se sentir encaixada e arrumada em vida de juntar água, conquistada a duras penas de trabalhos e afazeres madrugados, de choros calados e sonhos abortados. Dona Jesus, assim se habituara a ouvir sua existência, olhava o céu e perguntava ao Deus que acreditava por ali, se merecedora era de tanto desprezo e abandono, o marido a trocara pelo vinho e dominós, os filhos a olhavam em prolongamento de fraldas a mudar em idade adulta, nunca um beijo sentira em sua verdade, apenas os resmungos e ingratidão daqueles a quem silenciosa e embevecida entregara a vida que lhe coubera em sorte e que vira gritada numa manhã como as outras em desaparecido ano de desaparecida monarquia, 1910, noventa e oito atrás, portanto .
Apanhada a carreira da Mafrense, percorreu aqueles três quilómetros e qualquer coisa que apenas conhecia de calcorrear a pé, enxugou a secura de uma lágrima a que julgava não ter direito, olhou o mar e nele viu a sua ida e saída de um lugar que lhe haviam ensinado a estranhar. Maria, Maria de Jesus, aproximou-se da pequena falésia e de lá se fez pássaro com vida e asas, entregando à gravidade e sua lei a reposição do equilibrio terreno. Caída no mar com estrondo inaudível naquele dia de fúria marítima, deixou-se arrastar água afora, gozando pela primeira vez a sensação de se ser o abraço de alguém, gozando a impotência perante a avidez das ondas que tanto a queriam. Quis o destino, o seu homónimo quiçá também, que por entre espumas e gotas de fúria levadas ao vento, se enrolasse em destroço de madeira, larga tábua ali perdida, onde por entre golfadas engolidas e esbracejares desatinados se viu enrolada, gozada e brincada, num desamparo que a atirou à correnteza e rebentação, qual Cristo seu parceiro de primeiro nome, agarrada ao pedaço de madeira onde contava despedir-se da aventura terrena. Pois não, aqui se deu a intervenção divina nunca dantes vislumbrada, Maria ergueu-se, soergueu-se, contorceu-se, dropou, gritou, suas negras vestes viu desfraldar num ' aerial ' nunca visto nem em reportagens a preto e branco, reentrou no areal perante o pasmo, a descrença feita coisa viva, a veneração quase divina de uma turba de surfistas, oriundos dos mais longinquos pontos do planeta para domarem as ondas de Ribeira de Ilhas e acolherem em sua percepção de vida a chegada de um ser humano que até ali nunca o fôra.
Maria chegou ao areal enrolada na tábua que a vida lhe devolvera em sua plenitude, debaixo de uma chuva de aplausos e incredulidades, caminhou de volta à paragem da Mafrense, chegando a casa já acabada a novela da noite. Não lhe ocorria nada que justificasse à ausente familia a ausência da sua sombra e traçado naquela tarde, com a agravante das suas vestes pingarem feitas caleira em dia de chuva. Porém, nem tal era necessário, célere era o povo em suas passagens de boca a boca, o espanto pelo espavento da coisa noticiada e bradada pelo povaréu elevara-a à condição de mulher, esposa e mãe, nunca os seus dias se repetiriam em transparências por ali, retrato na sala e colecção de recortes do testemunhado em jornal da região. Na praia, o mito ficara criado, para longe a visão foi transportada, contada e recontada, de um ponto acrescentada. Maria guardou o segredo, o segredo de seu desespero saltado, o segredo de ter vislumbrado a imagem do seu igual em nome empurrá-la para um take-off que nunca pedira em tanto terço rezado ! Adormeceu tarde e em seu velho aposento, na cruz viu a vida e um homem quieto e parado que aprendera a conhecer!

domingo, 24 de fevereiro de 2008

e porque me olhas assim ?

Olho teu olhar parado, vestido de abandono em fim de viagem sem palavras, sinto o cheiro da solidão, de perdidos momentos no tempo largados, de rei ou rainha que foste em colos de cheiro a deus na terra, pergunto-me se me desculpas a fraqueza de te deixar, procuro nos livros a ciência da minha pequenez, imagino que sonhes lugares de onde te vigiam os tesouros que um dia foram teus, foram sem ti, fujo da eternidade que não me larga, sento-me em bocados voados e levados pelos ventos frios e escuros das coisas sós, na sobrevivência dos caminhos temidos em vidas gastas, em guerras inventadas, e pergunto-me: será teu olhar parado um olhar abandonado ? E no entanto, sem cuidar de te responder, sei que nunca viverei, nunca morrerei, sem te levar guardado em mim ...

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

repescado ... this post !!

e a 12 de setembro de 2007, escreveu-se neste canto :

amigos .....

Como pudeste tempo ?
Esconder-te sem falar
Porque guardaste para ti ?
Tanto bocado, tanto querer
Tanta gente, tanto sonho
Quando nada te pedi

Sabia que voltarias
Sabias onde me encontrar
Como poderias esquecer ?
O sitio onde te guardavas
Voltaste tempo e trouxeste
Bocados de sonho e vida

Éramos muitos, sabias ?
Os lugares e os olhares
Vividos e eternos
Como quem sabe
O secreto caminho
De um secreto pedaço

De vida
De pessoas
De bocados
Que se vivem
Se sabem
Se dividem

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

blogging around !



... imagem gentilmente sacada a bocadosdetudo.blogspot.com , outro poiso de um tal de redjan !!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

bendita senhora !



A tarde ia alta, o sol teimava em manter quente a sala, trazendo um conforto tão necessário ao heterogéneo grupo de conhecidos por acaso, naquele dia convocados para a maçada da espera e angústia da expectativa. Espalhados pelo mais variado mobiliário que compunha o espaço, por entre sofás e ' chaise longues ', bancos altos, bancos baixos e mais uma parafernália de cómodos destinados à quietude, dividiam a tarde e o ambiente um improvável conjunto de seres humanos que, por incrivel que pudesse parecer, habitavam o mesmo mundo, respiravam o mesmo ar, olhavam o mesmo céu.
Das profundezas dos seus quase noventa anos, Joaquina, transmontana que nos idos de 30 do século anterior viera para a capital trabalhar em casa de uns senhores, mirava com espanto o seu parceiro de assento, rapaz de cores fracas, adereços nas orelhas, lingua, nariz e umbigo que deixava mostrar, camada de gordura em pele que não via água fazia tempo. Mário, arrumador por necessidades de urgências injectoras, devolvia o olhar à anciã , estranhando na coitada um buço que em nada pedia meças ao bigode do oficial de cavalaria que lhe arruinara três meses de juventude, as roupas cuja cor lhe lembravam fundos de tunel, uns óculos com lentes que dariam para reciclar e fazer um conjunto de cristalaria bom de vender! Falar não falavam, mas tranquilizava-os terem por onde ocupar a mente naquela tarde de sobressalto. Ao fundo, Jaime Corthez de Souza, monárquico por descendência e imbecil por opção, argumentava banalidades com Quim, Joaquim Antunes, garagista de mãos hábeis em motores e facturas por emitir. Também eles pouco entendiam do traje e aspecto alheio, longos bigodes cofiados em curvas altivas, unhas carregadas de restos de óleo sintético, dentes de ouro versus amarelados por cigarros sem filtro, a conversa saltava de cavalos puros lusitanos para cavalos em molhos de cento e quarenta .. ' doutor, havia de ver o binário daquilo ' !
Junto à mesa onde havia café, debatiam banalidades um par pouco crível também, Marlene, nordestina de além mar, estudante em Lisboa, mas de posições e anatomias cobradas, gesticulava nervosamente enquanto escutava e seduzia Marco António e sua carteira, rapagão da mãe e da madrinha, nado na provincia, criado em Santo António dos Cavaleiros, formado a custo no ISE de onde saiu doutor, engenheiro, inchado e respeitado.
Ia a coisa desenrolada nestes preparos, um rol de outros acasalados diálogos se desdobrava noutras improbabilidades agudas, quando a porta dos fundos se abre, silêncio sepulcral, de morte dir-se-ia, e ei-la que surge, impante em suas certezas, velha senhora de negro e foice na mão:

- Então, quem vai comigo já hoje ? Algum candidato ?

O cheiro a suor invadiu a sala, a fezes também alguém juraria depois, perante o desafio daquela
que se sabia inevitável mas que os reduzia à expressão mais simples de coisa alguma.

- Ninguém a bem ? Pois que seja o do costume, seja eu a surpreender e pegar à laia de acaso !

Num repente, fruto de fulminante ataque de arritmias e outras coisas nefastas que tais, cai fulminado um dos presentes e assim apazigua a sede da colectora de fins de ciclos vitais, a tal de ceifeira de escuras vestes retratada.
Saiu a turba em alivio pouco disfarçado, numa algaraviada retornaram a suas casas e vidas fingidas, já fôra o tempo de igualdades em temores e anseios naquela sala repartidos. Iguaizinhos entraram, desiguaizões sairam.
No dia seguinte outros haveriam de ao juizo comparecer, em casa da distinta senhora, bendita senhora que a todos sabia tratar por igual ! Os que se iam, prontos, safos e esquecidos, aquela tarde rápidamente iam esquecer. Tarde de morte, tarde de pouca vida , com medo daquela entraram, com pouco uso desta sairam !

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

assim vestida !

No mais vasto deserto e seu mais puro silêncio, a benção de um sol que se punha e entregava a um imenso céu de estrelas aos milhares o seu lugar de rei ao alto, a brisa de um vento quente e frio que vinha dançando na incerteza da sua força, sentámo-nos os seis com a eterna e sonhada ideia de nos vermos e entender, conhecer cheiros e sabor, de pessoas fortes e fracas, e tristes e sós, dos alguéns com alguém, de nossos olhares compreender, nosso toque sentir como um grito de vida, de vida sim, essa cansada e estafada coisa de poucas letras que nunca se apagara em escuridões de fugas e abandonos. Estaria por ali eu, assim me quero recordar, e eu e o silêncio, a vida, a alma e um seu Deus de nome qualquer ? No mundo mágico de cada um, sabíamos o caminho de falar sem palavras dizer, de escutar numa virgindade de certezas, de sentir nossa a liberdade ganha em lugar julgado impossível, e deus falava a lingua dos mortais que apenas retribuiam num abraçar de coisas entendidas, e naquele deserto as coisas se viam e aconteciam , num manto gigante se davam e escondiam, como se prémio fossem por tão desejadas, procuradas num afã de vida que se julgava única e vivia perdida. O sol ia longe, as estrelas quedas e mudas numa luz espantada de surpresa revelada, como e de onde vinham estranhos e improváveis viajantes, em busca do segredo abandonado, do eterno segredo de se saber, querer e ser, ter e ir, dar sem pensar ? Apagou-se a cor da noite e de novo se desenhou o sol que regressava, em seu eterno e repetido girar, em sua eterna missão de aquecer o frio e seus abraços de solidão e cores frias, vestidos de abandono e olhares que nada alcançam, nada sabem, querem ou ousam desejar, e ainda de guardar uma coisa chamada gente que se quer gente! Levantámo-nos, secámos as lágrimas , demos as mãos , cruzámos olhares vazios de medos inúteis. Voltámos ao nosso caminho e lugar de vidas, éramos sete e nada estranhámos, olhámos e pareceu-nos ser esperança quem connosco voltava também ! E no entanto, connosco caminhava em suas vestes de fantasma !!

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

praxes, tradições e outros atrasos mentais !!!

' ...É o primeiro caso de praxe académica violenta a ser levado a julgamento. Foi em 2003 que uma aluna da Escola Agrária de Santarém se queixou de ter visto todo o seu corpo esfregado com excrementos de animal. Ontem, o juiz António Gaspar, do Tribunal de Santarém, decidiu levar seis dos sete arguidos a julgamento....

... O momento mais grave da praxe sucedeu quando a aluna foi levada numa carrinha da escola, conduzida por um motorista, para a Quinta do Bonito, onde foi coberta com bosta de porco pelos alunos mais velhos. '



FODA-SE ... outra vez ??? Tá visto que não posso ouvir noticiários na Marginal, pelo menos aqueles que referem tradições !! Mas onde bosta de lugar no Universo nos inspiramos para as criar ? Num Ninho de Cucos ? Na Idade Média ? Na Casa dos Imbecis ??????

Em Janeiro fiquei a saber que na Festa dos Reis, em Vale Salgueiro, a debilidade mental adulta põe a canalha a fumar, que fumar é bom e de macho ! Agora leio que numa praxe de acesso ao Ensino Superior, uns pequenos animais, pseudo estudantes com cérebro de caca, fazem uma praxe onde dão um banho de bosta de porco, vulgo caca, ou merda, excrementos no caso da pena de jornalista, a uma ' caloira ' cujo único erro foi pelos vistos optar por estudar a outro nível ! Tradição ... dir-me-ão ! TRADIÇÃO ???? Se assim fosse, se se perdoa toda a javardice que grassa e sobrevive neste canto de acobardados mentais, nesse caso porque ainda se pune e castiga aqueles que resolvem a tiros de zagalote qualquer disputa de muros e caminhos, de traçados de água ou partilhas familiares ? Querem mais velha tradição que essa ? E porque penalizar quem espanca em casa mulheres, velhos e crianças ? Não vem a coisa desde D. Afonso Henriques ????

E porque me fode a cabeça a Policia se falo ao telemóvel enquanto conduzo ? A coisa passa-se desde os idos de 90 do século passado .... não pode ser vista à laia de tradição também ?



O caso relatado nas noticias passou-se em ... 2003.! Foda-se.. de novo !! Na melhor Tradição, das que servem apenas para nos tornar ainda mais mediocres, CINCO anos para resolver uma merda destas ???? Sou levado a crer, que os doutos juizes que nos regem e governam, estão ainda apardalados à conta de uma praxe que tenham levado ! E nós ? O povo ?? Na mais bela tradição, na mais Tuga tradição, comentamos nos cafés e ... cagamos no assunto ! Em cuidar que estamos fodidos, assim governados e praxados por gente abaixo da bosta que utilizam nas brincadeiras !!

E que se foda a estudante, o porco e todos nós. As criancinhas que praxem à vontade e que fumem em dia de Reis !



PS: Leio em romance que terminei , que o nosso D. João VI, que bazou às pressas para o Brasil e por lá se queria quedar de vez, tomou um banho completo e pela primeira vez com a bonita idade de cinquenta ( sim, 50 !!! ) em sua estadia naquela terra de calores tropicais. Para além de imaginar a tortura dos sabujos que em tradição iam ao beija mão real, fico a saber que a teimosia resultava de aquele ' pormenor ' não ser costume e tradição no Portugal nobre dos inicios do século 19 !! TRADIÇÃO ??? Vade retro Satanás ! Ou, mais de acordo com este cantinho ... vai de Metro Satanás ?

janela !


Quieta, parada, lá estava ela, simples janela, meta apagada, cheia de pingos de chuva em pó, com vista para coisa nenhuma, mostrava os dias, escondia os anos, que custavam a passar, que custavam a esquecer, proibida de ali sair, como uma sentença de morte ao sonho. Com dez anos mal feitos, ouvi o eco das palavras vindas de algures dentro de mim.... ' olha-a, aprende-a e nunca a abras, traria consigo o vento que leva o sonho das crianças ... '. E como era linda a janela, como me absorvia o olhar e dele fazia caminho de gente !

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

destino ....

Ó vasto e déspota
A que chamam destino
Tão fácil escolher
Não lhe encontrar um caminho
E assim me resigno
Ao manto da multidão

E morre-te a alma
Ignoras a morte
Esquecida e sem calma
Essa gente sem sorte
Já nem te persignas
Em teus dias em vão

Desisto, morto e parado
Busco Deus em redor
Esse Deus imaginado
Em orações que sei de cor
E porque terei envergado
Manto vazio de calor

sábado, 9 de fevereiro de 2008

é amanhã .....




domingo, dia 10 na Fábrica Braço de Prata, Sala Eduardo Prado Coelho .... 15 horas.

Porque esta vida de ganhar a vida aqui e ali nem sempre nos dá o tempo que por vezes tanto queremos, não vou poder estar. Mas sei que farão da nossa Tertúlia uma coisa em grande. E que à volta da Leny e do Zé Pedro tanta história será ... revivida.

HAVE FUN everybody e .. depois contem-me !!

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

sombra ... minha sombra !

Saí correndo, dia de chuva e tormentos vários, de pessoas paradas, pessoas choradas, caminho de saltos por cima de coisa alguma, varria o vento os momentos guardados, nos bolsos guardava a velha fotografia que me prendia aos caminhos, doce momento a preto e branco num silêncio de melodias várias, e corria e corria, ânsia de não perder, lugar e momento, a vida que corria a acabar, as trocas e voltas de um labirinto feito relógio de vinte e quatro horas, por onde irias tempo se fosses mar? ... E os passos que tropeçavam em almas de nada e rostos de tristes sorrisos, e cansado que não podia estar, não sem antes chegar, não sem antes parar e te gritar a pessoa que sabia seres, uma amiga das que não se perdem sem se ter, disse-to tantas vezes à minha bruta maneira, naquele dia corri e esbaforido te pedi. Não saias pois daí ... fazes falta em vida minha, sabias ?

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

aqueles dias ...

Aqueles eram os dias
Simplesmente os dias
Em que a chuva sabia cair
O vento sabia dançar
E com o Sol
O eterno Sol
Passeavam meus passos
Deixando pegadas na vida

Eram pois os dias
Assim em si sabidos
De si para si vividos
Dias em que ninguém
Fosse quem fosse ninguém
Esquecia a cor das coisas
Ou desviava o olhar
Da alma e da solidão

Por isso te vi partir
Sem sequer me despedir
Porque num repente perdi
Em momento que já não senti
O sentido dos dias
Daqueles dias
Em que a chuva sabia cair
E havia vento e Sol

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

priprrripi's e tactoc's !!


Acabado de chegar do Rio, o de Janeiro, por esta altura que culmina um periodo de cinquenta e uma semanas onde tudo converge para o estrondo da noite do desfile no Sambódromo, onde toda a loucura de cor e movimento, de ginga unica em seu torpor sensual, coisa de calor e divina tropicalidade em sua mistura de crioulos e mulatos, negros e brancos, habitantes numa turba possuida pelo espirito do Rei Momo em versão adocicada pelo mel, sorriso e quentura de um povo que dança a alegria de se saber viver, acabado de chegar dizia eu, sinto o cérebro e nele abraço o silêncio de viver sem batuques e prrrri-prrrrrri's, tactoc's e pernas de aranha em danças de ventre, o caos organizado de corpos transidos ! É grande a loucura, inimitável o movimento e cor, fantásticos os cheiros e sabores. Entra e qual fantasma, qual ruido devastador de exaustor disfarçado, aloja-se em canto na cabeça e açambarca a coisa, comemos, bebemos, dormimos e acordamos com o ritmo alojado, ele é a nossa companhia, vida secreta, leva-nos, traz-nos, toma conta de nós. Regressei pois e .... reganhei-me, reencontrei o espaço onde era eu !
Concretamente, trata-se da exaustão com que se pega num momento definitivamente bom de viver e ........ repassá-lo até à exaustão. Ou seja, imagine-se a linda imagem de ver um golo do Glorioso, pegue-se nele e veja-se dez, cem, mil vezes, dez mil vezes, cem mil vezes. Eu sei que não é demais mas ..... a certa altura temos o cérebro em bloqueio. Lógico que ver a rede a dançar, a bunda a sambar, braços encarnados ao alto, mundo de cores em baixo, é espectáculo de receber e viver. O caso é que se o Glorioso doseia a coisa, demais aliás, o Brasil pega no seu entrudo e dá-lhe uma tareia non-stop ao género de Muhammad Ali nos seus tempos áureos. E a coisa, espampanante em seu barulho, aloja-se num vicio de pernas a dar a dar, a malta não se apercebe, o nosso software faz o download e quando damos por nós, é tarde para perceber que já pensamos em apitos, abanamos a bunda e mexemos os pés tipo coração a fibrilhar.
Voltei então para casa. Por cá os Carnavais são os mesmos de sempre. De gentes que pouco gritam às alarvidades, com chuva os que metem tristes reis e rainhas em desfiles normalmente chuvosos. Deus não dorme. Nós sim, quando voltamos do Rio !!