Clotilde desce escorreita a ladeira, rotina diária que a separa da vila. Gaiteira e despreocupada acena de volta ao carro que lhe buzina, os olhos já não são o que eram, as pernas sim na força e formas de suscitar lascivias e há que esconder fraquezas oftalmológicas. Dentro do carro que vê mas não vê, acenam-lhe D. Manuela , aparentada de papagaio e cusqueira doméstica, Josélito o Quinteiro e seus convidados da cidade, Carlos Jorge e Manuel João, espantados com a ligeireza da anciã que do alto da sua morena figura os leva a imaginar idos de grandeza no coreto domingueiro. Clotilde fica para trás e no espelho retrovisor desaparece à medida que o grupo retoma a conversa de ocasião. Chegados ao destino, a casa de repasto pertença em sociedade do anfitrião da tarde, segue D. Manuela seu caminho, entram os restantes no acolhedor espaço onde Alina, doce emigrante de olhos que escondem desejos nascidos numa Roménia que para trás vai ficando, os recebe com a surpresa de quem não espera já alguém em hora que passava do fecho.
- Boas Alina, ainda se toma um cafézinho?
Um fugaz brilho no olhar traiu a surpresa da visão inesperada, da visita mensal daqueles amigos do patrão..
- Curtos e escaldados ?
- Normais, em tamanho e temperatura ! Os três, por favor.
Na mesa ao fundo acabavam a refeição o sócio executivo da coisa e familia, lá regressou Alina, retomou a tarde a calmaria do lugar ! De volta ao lugar de Pocariças, deixado em segurança e descanso o amigo destas saídas da rotina esmagadora dos dias da cidade, regressaram pelas vias rápidas Carlos e Manuel aos afazeres que sem piedade lhes esmagavam os ócios há tanto esquecidos. Numa cumplice gargalhada arrancada à lembrança momentânea da juventude perdida de Clotilde, sabiam estar a certeza do acerto na escolha para aquele inicio de tarde passar.
- Repete-se?
- Sem a mais pequena dúvida!
quinta-feira, 29 de novembro de 2007
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6 comentários:
Brilhante!!!
eheheheeheh
Tivesse ela a ousadia de encarar a realidade
Não sei se a vida seria melhor ou com mais verdade
Nua e crua de óculos postos e mais humilde talvez
Mas em vez disso a Clotilde passeia-se impante e bela
Deita-se ao sol na varanda sem roupa ou timidez
Porque ao marido não liga, tampouco à vizinhança
Que se move por inveja e revolve por intriga
Mas fica longe da esperança de ser livre como ela
Volta sempre, amigo
Sim, repete, por favor. Repete, alonga, alonga-te...escreve ....
mais, assim...assim, como quem conversa devagar e agarra a vida e se deixa levar...
Um beijo meu.
Zangado, Red?!
Texto cheio de vida, entrou directamente no Top! Beijinho
Gostei muito, muito vivaço, muito real, muito gaiteiro... mas sempre com aquela classe!
Beijocas!
Bom fim de semana!
again,
ehehehehehehe
abraço,
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