Frio de morte, chuva fraca e perdida, noite sem estrelas! Lembro a paisagem em que tudo acabou de novo, lembro o cheiro da derrota , o corpo esmagado, a mente afogada, mãos e pés sujos, palavras imperceptiveis num grito de desespero como quem busca uma mão, crente em fantasmas, fantasmas de gente viva de passos apressados, de autómatos em fila de espera.
Aquela noite era de fim, creio que ambos sabíamos, pela ultima vez a mim se encostaria, pela ultima vez do nada faria tudo para lhe amparar babas e ranhos, choros e imprecações, goles sorvidos em frieza de amante garrafa, aquela era despedida entre dois lixos acabados que em si tentavam descobrir significado nos olhares. Partira já o velho companheiro de esganas e pulguedo, fodido o destino na hora da ceifeira chamar, foi de fome e escanzelado, rápido me entendi no seguinte momento de idas, em sintonia me vi com o unico que de mim fizera seu com a paz com que se agarra parte da coisa com nome de vida. Não deu naquele Inverno para chegar aos plásticos balõezinhos de solidariedades merdosas vestidas de luzes e desejos de boas quadras, há muito o sabia eu, as tosses avermelhadas e tremuras continuadas anunciavam tempos de despedida.
Chegaram então os humanos, munidos de competências e distantes certezas, - ' Está morto, nada a fazer ', e lá foi, partiram e levaram , corpo meu a que me abraçava, onde sentido fazia ainda viver.
Em tempos esquecidos já, algo tinha sido também, forte e belo abafo, razão de espaventos e meneios, curta a vida fracas as memórias, gasto, roto e fora de modas ao lixo entregado acabara, até aquele mágico destroço me ter consigo levado e para sempre me fazer seu. Vi em tanta noite de chão chegadas e partidas de gente que ao seu caixote era lançada também, naquela fria noite desisti também e no entanto fiquei, ali abandonado como se nada fosse. Quieto como só velhos casacos sabem ficar, olhei no infinito mundo dos desprezos e soube que por ali passaria o próximo companheiro. Que como todos saberia chorar o caminho de pessoas que apenas o deixaram de ser ! Sem saber ...
sexta-feira, 30 de novembro de 2007
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6 comentários:
Quieto como só velhos casacos sabem ficar, olhei no infinito mundo dos desprezos e soube que por ali passaria o próximo companheiro. Que como todos saberia chorar o caminho de pessoas que apenas o deixaram de ser ! Sem saber ...
Sem sentir, que se acabam am amores liquidos e dedos de cinzas, entre noites geladas de afectos esquecidas, que páram por um momento, suspenso no tempo, de ter vida em vida, que apenas estão a um pequeno e doloroso passo da porta de saída....
e CHEGA O DIA EM QUE A DOR E O SOFRIMENTO NADA QUEREM DIZER. o DIA EM que só nos cai uma lágrima dos olhos em momentos de com paixão ou ternura. De resto... podem aviar-nos à vontade...é normal
ARTUR
Grande verdade artur,é que é mesmo isso...bjocas para os dois.
cris
Isto tá muito intrincado, aprecio mais o outro estilo leve e solto, posso dizer isto? Mas gostei entre o frio e o calor há sempre algo a descobrir.
Bom fim de semana.
Chamaste? Here I am!
Magnificamente escrito, de uma forma que é só tua. Mut«ito tua mesmo. Intrincadado, dificil de interpretar é certo, mas que eu interpreto também como o Artur e que muitos vezes tenho pensado, nunca embora com as palavras que ele usa e que são the most appropriatte ones... CHEGA O DIA EM QUE A DOR E O SOFRIMENTO NADA QUEREM DIZER. E este texto, e este comentário em época natalício ganham toda uma nova profundidade. Red, thanks for caring, thanks for writing about it. Big hug
Triste... muito.
Também é real... certo.
No entanto... alegrem-se os céus e a terra, cantemos com alegria, saudemos-nos, ajudemo-nos uns aos outros... é esse o significado que lhe dou e que lhe quero dar e que lhe vou dar enquanto viver.
Beijo enorme...
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