E não esqueças homenzinho
Em teu cagar vive o segredo
Como fácil parece o caminho
À fraca vida, dar-lhe degredo
Do alto de teu eu podes cagar
Em gente e coisas de verdade
Porque te escondes num altar
De deuses sem nome ou idade
De alto cagas, em ti e em vida
De baixo suspiras as mentiras
E mente de caca bem provida
Que nem sonharas ou sentiras
Assim teu deus não justo fosse
E tanto cagar visse, castigasse
E da náusea que não te trouxe
Fizesse seu fim e não te amasse
E que sentisses o sangue e dor
Nesse olhar de gente desigual
Soubesses assim pois do valor
De uma vida simples e mortal
Aprende no sol, chuva e vento
Os dias de mundo com pessoas
Vai ao fundo e vive o momento
És filho d'Ele quando assim voas
segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
domingo, 28 de dezembro de 2008
portas!
BANG !!!
- Foda-se ... esqueci-me !
- De quê ?
- Da janela, da p*** da janela aberta .. e de não dizer palavrões. Tenho de me lembrar ..
- De quê ? De fechar as janelas ?
- Não car*******, de não dizer palavrões quando elas batem com estrondo.
- Porquê ? Que te importa isso?
- As janelas abertas?
- Não .. o palavreado !
- Qual palavreado?
- O posterior ao embate janelar ...
- Distraiem-me.
- Os estrondos?
- Não, as janelas que se fecham e se abrem ...
- Como as portas?
- Foda-se .... que portas, de que merda de portas estás a falar?
- Das que se abrem no fechar de janelas .... disseste ' foda-se' ? De novo ?
- De novo como ?
BANG...
- Ai ... outra vez ..... car....amba !!
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
janelas ...
O comboio seguia em seu ritmo cadenciado, num repetir de ' pouca terra, pouca terra ' que o levava por entre vales e pontes, rios e montanhas, numa paisagem mais própria de contos de Natal do que de ligação da cidade à aldeia. Corria a manhã, um sol de Inverno entrava carruagens adentro, dando ao ambiente uma agradável sensação de conforto, as pessoas por ali pareciam ter tudo para ser felizes naquele dia de Ano Novo. E no entanto a quietude e o silêncio carregado nos semblantes fazia crer que da vida nova acabada de chegar pouco de bom se devia esperar.
Manuel, robusto rapagão na casa dos vinte e poucos, seguia mudo e quedo, cego pela raiva de se saber trocado por António nos favores de Maria. Olhava a janela com cara de carneiro mal morto, esmagado pelo peso dos dias que aí vinham e que de bom por certo nada lhe trariam ao coração despedaçado. Três bancos atrás, coisa do destino e de Belzebu, António repetia a cara de parvo pregada aos vidros, cego de paixão pela rapariga que agora se fazia e dizia sua, o seu silêncio era mais de proteger o azar de que tudo não passase de um sonho. Mais atrás ainda, numa coincidência de pedir meças às previsões das ciganas, sentava-se Maria, a trocadora, alheia a tudo e todos, cega de remorsos por um ter abandonado e outro se preparar para desenganar um dia. Espetara as vistas lá para fora, não tossia nem mugia, o estado de espírito a tal a obrigava. A seu lado, tão perto e tão longe, Francisco, jovem de familia com nome na terra, seguia cego em sua ambição de tornar às origens e se ver reconhecido como obra divina, arquitectava carreira no poder, pondo e dispondo de velhos e novos da sua infância, mirava os vales e pontes sem nada ver em seu olhar vazio e parado. No lado oposto, Idalina, seguia cega em sua dor, a visita à cidade para enterrar prima chegada dera-lhe cabo das poucas forças que restavam em seus mais de oitenta e muitos, ao certo nem ela sabia precisar. De nada lhe valia a companhia de sua irmã Julia, cega de ciúmes por menor papel que lhe coubera em enterro de gente da capital, com a cara virada ao acaso para lado nenhum. A chegada do revisor foi pois saudada com a indiferença de tanta ausência naquela carruagem, naquelas vidas também., e no entanto a mesma indiferença com que automáticamente cumpria sua missão o moço, José de sua graça, cego que estava de saudades de Rosilene, mocetona de porte nordestino que o presenteava com nunca imaginados esperneares, de cada vez que tinha a sorte de com ela se cruzar em dia de estada prolongada na cidade. Imaginava-a em seus dias de espera, com seu fervor de cega devoção a Deus recompensador, contando os dias para o ter de volta,. Rosilene, essa coitada, cega sim mas por dinheiro, lá ia andando e alternando por entre mesas e gorgetas, que de comboios nem a cor lhes conhecia, afinal havia chegado de avião e assim tencionava voltar.
À passagem por um prado de um verde sem fim, o aroma da terra húmida, trazida por ventos de sol intruso, inundou aquele comboio entrando por tanta janela ocupada de olhares ausentes. Parada a composição na estação, levantou-se o velho, tacteou com sua bengala de riscas encarnadas e brancas e valeu-se da ajuda do cão guia para encontrar a saída. Parecera-lhe bom aquele cheiro, vindo por certo de sitio com vida, apeou-se, continuando em sua vida nunca por um dia esquecida. Ouviu pouco depois o ' taca-taca ' das rodas que se afastavam, juraria ter sentido o aroma a carvão, acenou um adeus e seguiu seu caminho. Lá de longe, de cada vez mais longe, não houve acenos de volta, as caras continuavam especadas mirando janelas de uma vida sem elas.
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
tectos, cheiros e sentidos !
O tecto era o de sempre, senão o mesmo pelo menos da mesma família de tectos impessoais e recheado de histórias. A companhia, como o tecto, era um enorme espaço em branco, de quem nada queria, de quem nada sabia, cujo sorriso e fala dengosa lhe cobravam, junto com o habitual arquear de coxas e gemidos de juntar água, mais que o combinado, cobravam questões existenciais.
- Tens um olhar triste ... um olhar triste e cheiro a fritos. És sempre assim?
Estranhou a pergunta, afinal sempre por ali aparecera numa estudada e perfeita figura, barbeado e de duche tomado, como quem vai a um teatro ... de sensações negociadas à posição!
O tecto, este novo que o cobria, salvo seja, era o de sempre, com sancas trabalhadas a reboco de artista, limpo e imaculado como o branco da pureza das virgens. À volta do manjar que preparava mais como passar do tempo do que por arte culinária, olhava o borbulhar do óleo e o seu efeito sobre a ementa que preparava. A companhia, como o cozinhado, era um rebuliço efervescente, mal com isto e aquilo, mal com o bem e o mal, de quem nada sabia já, de quem nada recordava, cujo rosto fechado e fala metálica lhe cobravam, junto com a mecânica e fingida sessão de perna arqueada e gemido de falsete, mais que o dia a dia, cobravam questões desistenciais.
- Tens um olhar idiota, um olhar idiota e cheiras a puta. És sempre o mesmo !
Estranhou a afirmação, afinal sempre por ali estava numa repetida figura, limpo de cheiros e pistas, com o mesmo ar cansado de um dia de intenso trabalho.
Pela primeira vez, sem segundas intenções, imaginou-se com uma terceira pessoa ... num quarto sem cheiros, sem quintas dimensões e sextos sentidos.
Apagou a luz e adormeceu!
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
banco de mãos com cores ...
Sentado por ali mesmo ao lado, estranhava Marito a concentração com que o velho mantinha as mãos fechadas. Não que o incomodasse, mas admitia que ao fim de algum tempo a curiosidade lhe aumentara sem fim, estava decidido a desvendar o mistério nem que para tal tivesse de o olhar nos olhos e metralhar a questão. Ao fim da tarde, depois de um desfiar de horas em que a coisa se mantinha e de novas nada, ganhou coragem e sem mais atalhos disparou:
- Que tão bem guardas velho, em mãos fechadas de guardar tesouros?
Com a mesma serenidade com que passara a tarde num silêncio sem respostas, virou-se para o petiz e retorquiu:
- Quererás pequeno, que o segredo das minhas mãos voe para ti?
- Mas, de que se trata afinal?
- São cores ... como te chamas mesmo?
- Mário ... mas podes chamar-me Marito ...
- Pois Marito.. são as cores que aprendi na vida .. em todos os dias que acordei e vivi.
- Como assim ?
Abrindo as mão, deixou o velho escapar um vermelho que de imediato coloriu o ar em volta !
- Este era a companhia de dias de raiva, de timidez, de calores indesejados ... era assim como uma companhia estranha e tantas vezes presente.
- Repete .. por favor ..
Da outra mão agora aberta saiu um verde, explicado por dias de esperança, por dias de fraqueza enjoada, por dias de olhar o mar também.
Marito estava preso naquela magia de cores falantes, de azuis de céu em dias bons, de cinzentos em dias de apetecer coisa alguma, os castanhos alaranjados dos dias de outono, pretos de tristeza, de lutos e contestações, os brancos de pureza e de lividez também, amarelos em dias de chinesices, desfiou o rosário de cores que lembrara ter aprendido, para todos tinha o seu companheiro de banco um momento, um dia e disposição, uma lembrança de coisas sentidas ... Por mais que rebuscasse em seu caleidoscópio de menino que não desiste, lá vinha um dia com memória, de coisa feita e passada, sentida como feita num mundo de mãos com cor.
- Mas ... e que fazias ... que farias ... se ...
- Se .. ?
- Deixa ... nada ... se o dia aparecesse sem cor ... assim como se fosses tu a pintá- lo?
- Isso, querido amigo recente ... isso era nos dias de coração ... de viver dentro de mim, onde se é transparente...
Marito quedou-se mudo em tal resposta, sabia que assim era com ele, que apenas fora de mão e de mãos se encontrava no coração ... sonhava caminhos e percorria desafios.
Levantou o olhar e quis abraçar o velho sábio. Espantado, mudo até ... sentiu o branco de lividez, o âmbar de espanto, vermelho de raiva e algum verde de esperança ... o banco estava agora desocupado ... guardou a esperança que a partida conquista de troca de palavras soubesse andar por ali, para quando um dia cuidasse entender a transparência escrita nas mãos em cores de coração seu. Olhou o banco uma última vez e estranhou-o, de novo lhe pareceu um simples e público banco.
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
gentes de babel !
Sissoko McCourt Walker não se queixava da sorte. Não que a falta dela não fosse coisinha presente em tanta hora de sua vida, mas porque o tempo que tal lhe tomaria era precioso para a arte com que se ocupava nos mais das horas, dos dias, das noites também: sobreviver sendo feliz, chegar ao fim entendendo o princípio e o meio, poder olhar para trás sem olhos de cão caído. Dera provas de qualquer coisa de lutador, ao ver-se pelos dois anos sem peito de mãe, coisa perdida por luzes de fraco e intermitente neón de surreais e nómadas bordéis de ruas de pó, sem rasto de pai, de cujo rosto não se lembrava, mas que acreditava guardar em foto desbotada, com vestimenta de nobre e pingalim, numa moldura em forma de garrafa, com o nome de família escarrapachado à frente de um tal Johnny, que apostava seu primo.
Criado em rua de balas e sangue fresco, bebida a imunidade em poças de água de pouco cristo, soubera Sissoko perceber que por ali não o esperavam ensinamentos de vida tranquila e boa, que julgava merecer, como qualquer bebé branco, cigano, judeu, árabe, anão, amarelado, indio ou mesmo do Cacém. Fugiu do lar das freiras da Irmandade das Recolhedoras, em noite de algazarra e violações a eito, coisa de alcool e espingardaria em barda, olhou ao crucifixo e dele quase teve pena, saiu a correr e não mais parou. Juraria ter corrido dias e semanas sem fim, qual Forrest Gump de produtores remediados, meteu-se num barco com destino a porra de lado nenhum, fez-se ao mar, estava sózinho e com sete anitos já, zarpou à vida, rezou a todos os santos e santas cujos nomes aprendera, nada mais pedia que não a estrela do norte, a polar, a da Amadora... umazinha qualquer que o guiasse a terra por onde gente fosse gente, antes das pinturas de pele, colares divinos ou etnias sacras em terras heréticas.
Era dia de calor, de calor à séria, quando Sissoko McCourt Walker aportou a NY em sua casca de noz, ao meio de vasos da US Coastguard que o tomaram por detritos do oceano, abismando de espanto com aquela senhora que agarrava tochas de liberdade esquecida e embatendo de tal modo forte na amurada de atracação que foi o pobre, em sentido lato, cuspido América adentro. Fazendo uso de medos ausentes, de trabalhos frio ou fome, agarrou biscates, cavou e farejou oportunidades, usou tempos livres, leu e subiu a corda, a pulso e esperteza de gente também, não passaram dois anos que não tivesse vida sem sobressaltos. Orgulhava-se de si e da sua origem, não a discutia nem debatia, com pena muita mas enfim, gostava de olhar-se e ver como a vida estava ali, feita com dias em que pessoas assim ... de tanto e largado azar, ele era a cor, a origem, a miséria como ama de leite, a solidão achada em guerra perdida, sabiam espreitar os insondáveis mistérios da cruz, da luz, do verbo, de todas as coisas sagradas e tantas.
Saíu à rua Sissoko, naquela tarde de sol ... juntou-se à multidão que se apinhava para ver o que julgava uma produção hollywoodesca de um novo Star Wars, um bruá e mar de aplausos admirados mirava a nave espacial nunca dantes vista naquela Avenida, a 5ª ainda por cima. Sairam os homenzinhos verdes, antenas e olhos esbugalhados como prova viva de que vindos do além, pegaram nele, logo nele, Sissoko Walker, meteram-no a bordo e perante o espanto de uma multidão de basbaques voaram céu afora. Sissoko, menino bebé da guerra, vendido barato a barata fome, gente ninguém de pai e mãe .. que fazias por ali ? Por mundo de gente morta ?
Voltou ao seu planeta, na terra caíra por engano, assim juravam e se desculpavam os deuses, pelo nome de homem-homem, pela escapada do pobre agnóstico, obra improvável de um coração abençoado.
- Sissyduz McCrurk Walzcker, se voltas a ir brincar à Terra, deixamos-te lá.
- Mas Captain Pappá, estava só a brincar aos contos de fadas!
- E viste, em tal sítio viste por acaso alguma fada, boa fada?
- Não Paizinho, apenas uma foda, uma boa de uma foda ! De gentes de Babel!
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
fraca oração ...
E a ti deus de letra grande
Entrego meu medo e pequenez
E no alivio da sombra tenho
Certeza de ter e de não ter
A ti, deus de nome estranho
Por quem me ensinam desamor
Diz-me que faça,que desande
Que me esmague essa altivez
A teus céus teu reino venho
Buscar olhos para saber ver
Ou por onde saber o tamanho
De dias todos vazios de côr
E para tanta estupidez
Minha, tua, de ninguém
Com tanto grito calado
Grita deus, em tua vez
Os segredos desse além
Onde está o amor rezado
E por nós, servos assim
Desce de novo Homem bom
Não te chega gente esta
Que entre vidas sem fim
Reza crente, pede o tom
Para deixar de ser besta
Entrego meu medo e pequenez
E no alivio da sombra tenho
Certeza de ter e de não ter
A ti, deus de nome estranho
Por quem me ensinam desamor
Diz-me que faça,que desande
Que me esmague essa altivez
A teus céus teu reino venho
Buscar olhos para saber ver
Ou por onde saber o tamanho
De dias todos vazios de côr
E para tanta estupidez
Minha, tua, de ninguém
Com tanto grito calado
Grita deus, em tua vez
Os segredos desse além
Onde está o amor rezado
E por nós, servos assim
Desce de novo Homem bom
Não te chega gente esta
Que entre vidas sem fim
Reza crente, pede o tom
Para deixar de ser besta
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
conto improvável .. à volta de coisa nenhuma !
De pouco lhe interessava a nobreza do gesto, a grandeza da missão num futuro próximo reconhecida e agradecida. De pouco não, de nada mesmo, o risco era enorme, a claustrofobia muita, o nome arrastado num futuro de epítetos de pouco charme acabavam e arrasavam com qualquer resquício de espírito de entrega. Porquê ele, logo ele, dono e senhor de ruas e liberdades, conquistador renomado de espaços privados e alheios? Não, definitivamente não, era a resposta, mais a mais em tarde como aquela, coisa de Belzebu, tanta era a bátega, a friagem trazida por um vento que parecia não encontrar outro entretém que não o de rebentar com a quietude de um domingo. E no entanto, deu por ele trancafiado em espaço exíguo, juraria até etiquetado com endereços de médico tratador, como fôra possível ele, logo ele Garfield du Banlieue, prestimoso cidadão livre, ufano bichano de esguias investidas devidamente urinadas e assinadas, ser assim agarrado, feito menino travesso de infantis maldades?
Por entre a angústia de um acatitado e castrante espaço feito caixa de cartão, não via como dar desvio às agruras que o destino lhe reservava, lamentava até a volta ao local do crime, tantas que tinham sido, sempre impunes, como havia permitido cair em tão desusada ingenuidade? Apelar à entidade divina, coisa de humanos, pareceu-lhe recurso último que não podia no entanto afastar. Rezou um Padre Nosso, substituiu a parte da posse divina por Deles e atirou-se com um afinco e convicção que em si desconhecia, a pedir favores e empenhar promessas. O ignóbil carcereiro, senhora no caso, parecia impante em sua conquista de dias sem cheiro seu espalhado em tapetes e alcatifas, espalhando sem pudor as novas sobre a situação em espaço que reservara em Coreto Público. Nem a desgraçada intempérie parecia condoê-la, como se não entendesse o apelo celestial de misericórdia em destino de bicho vadio, tantas e tantas vezes feito bravo soldado por ruas de carinho vazias. Liberdade, doce liberdade, repetida em gozo de exaustão por divididas incursões ao espaço alheio, ia-se-lhe a liberdade enfim, deus era pequeno e ausente, dos humanos apenas certamente. O relógio dava-as umas atrás das outras, contara-as já e incluíra as meias, o adiantado nada augurava de bom. A nesga, aquela nesga, de ar, luz e liberdade pareceu-lhe então coisa onírica, maquiavélica, última demonstração da velhacaria e poderio de tão desumana figura. Arrependido, chorado e desculpado um passado de águas vertidas em terrenos conquistados, saiu ao cadafalso, não sem um olhar a suscitar a maior comiseração. Estranhou a rédea larga, deu de barato que para o novo destino estava entregue e pulou. Pulou fora, da caixa, do sitio, da varanda, do bairro, da cidade e arredores.
Manhã cedo acordou sabendo que à promessa não fugiria, desafiar deuses e suas iras era assunto que nem a ele, um verdadeiro du Banlieue , lhe passaria pela cabeça. Por mais que custasse, controlaria com mão de ferro, pata de ferro vá lá, a sua bexiga orientadora de territórios, secá-la-ia a golpes de teimosia. Livrar-se-ia da ignomínia do apodo de Mijão, deixaria para outras calendas a visita à porta do veterinário, qual cesto em porta de igreja, e recomeçaria sua vida em outras artes. Pegou em si, fez-se nuvem e tratou de voar. Em busca de janelas, novas janelas, onde a água batesse e acordasse as pessoas, onde de par em par entraria em vôo picado, feito Garfield Fantôme de conto para crianças. E assim sim, viesse de lá a nobreza do gesto e as vontades de sentir o cheiro da chuva que ele, o velho vadio de fraca bexiga, saberia mostrar-lhes o surreal da coisa !
domingo, 14 de dezembro de 2008
ventania ....
Mais que a preocupação do caminho das nuvens, Maria trazia-se em cuidados com a sorte do vento ele mesmo. O marasmo, repetido e bafejado por calmarias de além mar, mantinha-lhe o acordar diário numa ida e vinda de coisa alguma. Não que tivesse deixado de acreditar nas virtudes que sabia terem-lhe cabido por herança, genética e consequência de longas tardes também, por entre conselhos e sabedorias várias transmitidas em histórias de sua avó, bisavó e demais antecedentes.. Isso nunca! Sabia-se com destino de fim de filme, coisa americana caso disso fosse. A questão era que ... do lado do horizonte nada lhe espreitava que não fosse mais do mesmo, do fado repetido em ladainhas de mães e mais o rosário de outras antigas mulheres. Todos iguais, nenhum que prestasse, e no entanto por entre eles vivera, com alguns aprendera mesmo o doce sabor de se sentir querida e desejada. Em coisas de mãos dadas por fugidos namorados, protecções de irmãos nais velhos, saudades trocadas com austero pai de desajeitados colos e ternuras. A hora, de encontrar caminho seu, sem as agruras de façanhas perdidas por temidas, Maria sabia pois que, cedo ou tarde, a hora chegaria de pôr vista e coração em cima, salvo seja, salvo fosse, de pessoa que lhe descobriria caminhos e risos escondidos, afagos destemidos e divididos numa igualdade de loucuras sonhadas. Naquela tarde, imprevista tarde, trocada em intermináveis e surreais vontades, namoradas em mundo virtual de desconhecidos palpitares de coração, Maria estranhou o vento em sua ausência, atormentou-se com o cheiro da chuva que lhe acenava em tarde de inverno e abriu a janela. Deixou chover , como se a chuva a quisesse por sua e foi ! Há tempos que não olhava parada a chegada de tão inesperada ventania. Abençoou as tardes passadas a escutar histórias de homens iguais e os temores por quietudes e solidões e foi! Em busca de passada ventania !
imprevisto ...
De chuva, pois assim me visto
Em tarde, que assim conquisto
E nela vens cheiro imprevisto
Diz-me, chuva, que faço disto
E porque me choves em segredo
Num meio de público e vestida
Como quem navega,sem medo
Como quem te vê tarde perdida
Porque de longe, ao longe teu
Porque imprevisto assim voara
Aquele guardar, pouco, só meu
Por onde o imprevisto entrara
Em tarde, que assim conquisto
E nela vens cheiro imprevisto
Diz-me, chuva, que faço disto
E porque me choves em segredo
Num meio de público e vestida
Como quem navega,sem medo
Como quem te vê tarde perdida
Porque de longe, ao longe teu
Porque imprevisto assim voara
Aquele guardar, pouco, só meu
Por onde o imprevisto entrara
sábado, 13 de dezembro de 2008
o desembrulhar ...
Chegara o 25, o dia seguinte à visita do querido velho barbudo, e novas dele ' viste-las ', como tantas vezes tinha ouvido da boca da desaparecida avó. Não que a coisa o incomodasse muito ainda, já nem era por mais brinquedo menos brinquedo, aliás há tanto que se afeiçoara à velha bola de trapos, coisa de tantos anos atrás, que até lhe pareceria traição de adulto trocá-la por outro em seu afecto de menino bom. Chegara o 25 pois e, azar, calhava a um domingo. Se a ida à igreja, para a missa dos pavões era assunto práticamente impossível de tornear, calhando no dia do Senhor não havia aritméticas que o ajudassem a escapar. Preparou-se nas suas vestimentas de rapaz bem apessoado, as mesmas velhas calças e camisa de sempre, onde nem os botões levavam sumiço ou substituição, e tratou de arranjar escusa ao velho faltoso, por ele mentia a eito, assim os dois ficavam bem, o velho por justo, ele por não esquecido.
No largo da Sé, que de Sé nem o nome pois que lhe faltava o acento no 'é', assustou-se com o parco número de conterrâneos à porta, apenas os do costume, um velho pedinte em seus trapos de cheiro a vinho, a beata mor controladora de ausências e um ou outro fumador de crenças divididas com seu vicio. Rumou célere claustros adentro, claustros com a benção do Senhor bem se vê,pois que de semelhante espaço nem as arcadas guardavam, e tratou de pensar em encontrar espaço por entre o meio de ataviados amigos e pessoas de boa devoção. Espantou-se ao perceber que de entre o mundo de gente com presença ali costumeira, apenas seu amigo Paulito marcava presença em ajoelhado fervor, agradecendo certamente por aqueles minutos em que se poupava à chuva e frio que lhe substituiam as sopas em casa. Sentou-se, mirou os santos e santas nos pedestais, lançou ao padre um sinal da cruz para entrega no altar e arriscou em sumida voz para o amigo:
- Não vem ninguém? Mas hoje não é 25? E ainda por cima domingo?
- Houve tragédia, lá no largo. Coisa feia ...
- Então?
- O Tomás, sabes, o mais novo dos D' Annunciação? Despencou-se na moto 4, vê lá, novinha de ontem à noite, ainda trazia papel de embrulho agarrado.
- Thomaz ... queres dizer! Mas o cachopo não tem três anitos apenas?
- Sim e depois?
- E o barbudo já lhe faz entregas motorizadas? Que cabrão de filho da puta, ainda me admiro que se perca nas vielas e não se me chegue ao casebre. Ele e mais as cabras das renas, que de santas também nada devem ter. Uma moto 4 ? Seguro Paulito?
- Que queres? A criança andava a massacrar o velho com cartas. Diz-se que as mandava por email, do próprio portátil que lhe caiu na meia há um ano atrás?
- Portátil?
- Sim, portátil sim. Já se entediava com a PS 3. Coisas lá deles, que tens tu com isso?
Marito não era de olhar para os outros, nem para o que comiam, nem para o que vestiam, menos ainda para brinquedos e outras posses. Mas, já era azar, muito azar, azar mesmo a mais, o que o tal de Pai Natal lhe apresentava como atenuante. Ele era o visto negado à saída da América com seu presente brutal para ele, era a rena com um parente adoentado e sem remissão, era o tamanho do embrulho que se inviabilizara perante tão sumida chaminé, e mais a perna que havia perdido no Vietname ... ele vinha de tudo daquela cabeça. Não que ele papasse a conversa, mas gostava de imaginar que era azar apenas. O de ser Marito, filho de pai pouco visto, irmão mais novo de um molho cuja extensão nem conhecia ao certo. Mas aquela história do tal Tomás, que se fodesse o 'h' e o 'z'.. aquilo era demais.
- Como foi ?
- O canalhinha vinha despencado, só se lhe via o sorriso metálico, há quem diga que do diabo, e entrou pelo desgraçado do filho do dentista,sabes, aquele snobzito da pôrra?
- Mas e ele nem se desviou?
- Diz que não viu, que os réban não deixaram..
- Ré quê?
- Ban ..
- Que é isso?
- Uns óculos de sol, coisa do velhinho das barbas como calculas ...
- Óculos de sol? Para esta chuva?
- Pois, mais ainda sem as tais lentes de fundo de garrafa, ou lá o que ele usa..
- E nem um ´água vai ' de aviso?
- Parece que a irmanzada por ali se dividia entre um telecomandado e uma PsP e o resto bulhava à conta de comparações e grandezas na meiinha da chaminé. Só deram pela coisa à chegada dos bombeiros.
Fez-se a missa assim mesmo, não sem o velho padre adiar para o dia seguinte nova encomenda de agradecimentos ao Senhor, pela quadra, pelo amor terno, fraterno e sempiterno. E que os presentes soubessem que dela não estariam dispensados.
Marito regressou pois a casa, já de menos mal com o tal velho de encarnado vestido, com ele e com as renas, de cujas e de nunca as ter visto, chegava a duvidar a existência. Entrou em casa, deu um giro pela cozinha, surripiou uma mancheia do pouco açucar que restava de meia dúzia de filhozes, deu largo ao que sobrava das espinhas de um tísico bacalhau feito ceia e encarou o pai.
- É verdade paizinho, que o Natal é quando um homem quer?
- Claro, já to disse muitas vezes.
- E tu ... nunca queres que ele seja?
- Que é lá isso? Porventura deixo que te falte alguma coisa?
- Não, claro que não. Mas diz lá ao barbudo que me faça o deste ano lá para o verão do ano que vem. E, em não havendo renas doentes nem parentes delas, não lhe negando Deus condições ao seu trabalho, que me traga um fatinho de banho, usado que seja. Assim como assim, sempre evito o falatório de nadar em pêlo ou cuecas rôtas .. e mal por mal não corro riscos no dia de desembrulhar de esperanças.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
nada de especial ....
... a não ser que vivo ali a parte que me toca de mundo, de povo e gente, de ideias inventadas, de cheiros cruzados, deuses vividos, medos escondidos, passos apressados, voltas trocadas, olhares sonhados. Nada de especial portanto. Gosto de entrar num café, do cheiro dele e do tamanho dos baldes em que o servem, de cruzar passos e olhares sem destino, gosto do trânsito e do eterno buzinar, do modo como atravessamos a estrada num caos organizado, gosto do ' walk vs don't walk ', e do tamanho dos edificios, do frio muito frio e do calor que não se aguenta, e dos cheiros a ' hot dog e kebab ' que nascem em triciclos de yuppies da nova alimentação, gosto dos parques que são parques, com gente que ali é gente, e os esquilos, é verdade, dos esquilos também, de turbantes, de barbas de judeu, de executivos de ténis, de fumadores que se amontoam em tertúlias de vão de porta. Gosto das filas intermináveis de táxis amarelos, de japoneses fotógrafos e de patinadores, das ruas com números e de números com avenidas, de parar na Times Square e embasbacar com a publicidade do mundo, a melhor, a mais cara, a mais luminosa, gosto das sextas feiras à noite, com aquela coisa de se ser de NY, de onde é o mundo todo, de me cruzar na rua com pessoas parecidas com outras pessoas, daquelas que conhecemos e que ali achamos que se cruzam com a nossa sombra também. Gosto de entrar pelo Madison Square Garden, de subir a 5ª, fazer a Broadway todinha, com direito a Little Italy, Village, Soho e Chinatown, gosto que de tanto andar me doam os pés e me encoste à porta de um Starbuck, balde de café numa mão, cigarro na outra, de especar no Ground Zero e reviver o indizível 9/11.. Enfim ... gosto sempre que entro naquela cidade, recomeço no ponto em que a deixei ... Apaixonado. Por dias sem igual ! E começa sempre assim .. por um pequeno almoço que me encanta ... e sem nada de especial . Apenas por ser dali .. talvez também porque acompanha com um Mocha Java e saber que a rua ali me espera. Para NY ser minha e eu dela!
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
está frio !
Está frio, não muito, não daquele de encolher almas e quereres adentro gorros, bolsos e passos apressados, mas está frio. Com o relativo da medição, bem se vê, frio é frio, aqui ou ali, mas do calor se diz o mesmo e não o há unânime. Creiam-me no entanto, a coisa rondava os 7 ou 8º, as roupas indiciavam pois que não era de quenturas a manhã. Saídos de um comboio para o outro, em Journal Square, aguardámos pacientemente, eu e o meu amigo Zé, por entre passos para lado algum e olhares por ali mesmo.
Um afroamericano, espelhado numa inconfundível cor de ébano e no sotaque mastigado dum inglês continental, devotava um interesse genuíno e uma atenção sem segundas intenções a uma quase idosa senhora, que lhe recolhia a simpatia no diálogo carregado de conselhos e informações. Raisa era o nome dela. Warm, Mr. Warm, deveria seu interlocutor chamar-se, por contraponto aos poucos graus Fahrenheit ali presentes.
Chega o comboio e com ele a eterna dúvida onde exacto bocado da plataforma irá ele franquear as portas. Warm, velho de vida e de estações por certo também, faz a sua aposta arrastando num delicado gesto de braço a sua amiga de mundo, de vida, de lado algum mais. Raisa não era afro, americana menos ainda, teria longe no Leste europeu as suas origens certamente. Deixou-se pois guiar, num misto de geografias improváveis e de emoções esquecidas. Abertas as portas, os poucos lugares sentados foram num ápice tranformados em bocados de cobiça. Numa cuidada lentidão, como se o tempo lhe devesse entrega e devoção, Warm conduziu Raisa à conquista de um espaço que dificilmente lhe seria destinado. Ainda que quase idosa, o bom aspecto traía-lhe a legitimidade da reserva incondicional do lugar. Warm, sentada que estava Raisa, disfarçou a sua evidente satisfação, escondeu por artes mágicas o seu ar bem mais avançado em anos de agruras e posseguiu a conversa, fazendo daquele momento o momento de duas pessoas, sós no meio de tanta gente, encontradas e aproveitadas num bocado de América. Durou o que durou aquele bocado, o sorriso de gente que sabe sorrir acompanhou aqueles dois, nos curtos minutos que levam até Harrison. Aí chegados, Raisa levantou-se e abeirou-se da porta, no que foi seguida e acompanhada pelo olhar de Warm, naqueles momentos finais que não acabam como nos filmes. Aberta a porta, de novo o frio entrou, nos fez lembrar que a vida acontecia lá fora, não ali dentro, naqueles momentos que por certo ninguém via mais.
Larguei o disfarce de seguir tudo por entre olhares ao jornal de ocasião e fitei a despedida. Não vi nada que não fosse a ternura de saber viver a vida em bocado tão pequeno quanto aquele, tão improvável, irrepetível. Assim julguei.
- Watch the gap M'um and take care !
Pela primeira vez percebi o sentido de uma despedida, como quem deixa um braço que ajuda sem estar lá mais.
Raisa seguiu pela plataforma. Estava frio! Warm seguiu conosco até Newark, sorrindo e ajudando a compreender porque vale a pena agarrar assim os dias. Soube naquele momento que vos ia apresentá-lo. E agradecer-lhe daqui, de tão longe, como de África às estepes, de Lisboa a NY, ter-me mostrado a sabedoria e amor nos braços de um velho!
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
estranhas mãos ...
Ia o sol em sua altura, mandando brilho e calor, fazendo brincar em sua luz as sombras de quem era seu. Entrava e escorregava num caleidoscópio de reflexos, por entre as águas de um vago lago, por entre os olhos das gentes, por entre o dançar das folhas que ao vento se davam, com o vento brincavam.
Manel atirou as roupas ao chão, deu soltura aos pés, sentindo por si acima aquele frio acolhedor que fazia parte das suas manhãs. Tomou o banho matinal, fez-se peixe e mergulhou, achou tesouros escondidos no meio das pedras do lago, guardou-os dentro de si, jurou segredo guardar, dos amigos e pedaço de mundo que ali encontrara seu. Secou-se, sem pressas de acabar, guardou o quinhão de quentinho sol que lhe cabia, saltou para o velho bote, velho de uma vida, guardador do cheiro e histórias de seu velho avô, que ali o guardara, ali se guardara, em manhãs de vida sem medo de sonhos. Quantas vezes o ouvia ainda, nas palavras trazidas no desenho das nuvens, no barulho do vento, na força da chuva, no trote dos animais, na poeira que levantavam e perto dele assentava. Quantas vezes avô, te sabia ali, sentia tua mão ossuda e pesada, onde aprendera a vontade de amar o vôo livre dos pássaros, a esquecer fomes e frios em nome de um deus apenas nosso. O bote, o lago tantas vezes feito por ti mar, os peixes, senão os mesmos, outros que sabiam a melodia de tua voz de trovão, as aritméticas do sol, como chamavas às danças da sombra, tudo isso deixaste por aqui avôzinho, desculpa o 'inho' sei que fazias cara séria, mas que eras pois senão isso em mim, dentro daqueles nós do coração?
Andou pois por ali Manel já não criança, antes rapaz, homem talvez, traços de um e outro, idade já em tempos de gente graúda. Do bote saltou para sua ilha de então, terra de gente passante que por vezes esquecia de deixar cheiro ou memória de voz, por ali aprendeu a magia do tempo parado que voa sem asas, da liberdade de agarrar os bocados de luz que o sol antigo esquecera de levar nas velhas noites. Parado pois, jurou ver aquela estrela pequena que lhe parecia sorrir, num aceno de frágeis mãos, estrela de olhos de cor de esperança e sorriso perdido, para ela quis fugir em caminho de dia claro e reencontrar o lugar onde se encostava num colo, se aqueciam as mãos e se adormecia com a inocência de quem não tem temores. Amou a estrela e o momento, banhou-se de novo na magia do frio, sentiu o afago de envelhecidas mãos cor de amor e chorou. Porque chorando assim era homem também, embrulhava em segredo de pedra de lago o desenho e o mapa das mãos que sempre soubera desejar, quisera dividir, sonhara guardar, para que nunca se cansassem as asas de um velho passarinho dourado. Porque chorando assim pôde rir, com o lago e os peixes, vendo o bote remado por mãos que sabia serem suas !
mistério não marginal ...
É coisa diária, banalidade repetida em enjoativos relatórios de trânsito, iguais aos de ontem e de amanhã, num alerta idiota escutado por descrentes, destinado a bovinos que perante um problema, não fazem de cegonha enterrando a cabeça, mas olham o palácio como o primo equídeo. A marginal entope por ciclos, tão garantidos como o solar e lunar, nos mesmos sitíos e paisagens, qual rotina de casório. Depois da novidade de há alguns anos, em que o alerta radiofónico e televisivo apontava a esperança de solução e fuga ao marasmo depressivo de um pára-arranca de geração expontânea, ouvir hoje as actualizações de trânsito não é diferente de escutar os idiotas e previsiveis anuncios do BES. Dão apenas vontade de abrir a janela e acender um cigarro ou vomitar.
Por alturas de Santo Amaro, isto para quem vai em direcção a Lisboa, onde senão se trabalha pelo menos parece inevitável entrar pois não há alma ou viatura que ali o focinho não aponte, por alturas de Santo Amaro existe um semáforo que regula as entradas e saídas de uma estradita paralela, coisa de apoio a veraneios. Àquela hora da manhã, ninguém de lá sai, para lá ninguém se dirige. Ao magote de deprimidos que já perderam trinta minutos para ali chegar num solavanco a roçar o erótico em sua cadência, que é dado ver ? Dois garbosos agentes da autoridade, em seus cavalos da era moderna, com sirenes, capacetes, bigodes e óculos escuros. Fazem o quê? Cantam um hino à impavidez. A modorra da condução dos passantes é momentâneamente assaltada pelo frémito quase sexual de que alguém teve um acidente ou foi agarrado numa multa. Mas não. Rápido passa ao exagero da perfeição no manobrar do veículo, não vá a fava tocar-lhe e desempenhar o papel de ' urso do dia ', qual escarrador de inevitáveis ' eu bem dizia ' proferidos pelos, até ao momento, colegas de desdita e desafortunado passear caracoleiro! Pela estradita secundária não entra ninguém, para ela sai ninguém também, a sua utilidade naquela hora é paisagística tão somente. Flui o tráfego ? Tanto quanto o ar impante da autoridade que ali se faz representar com a mesma utilidade de um ministro dos assuntos parlamentares.
Mais à frente, ali a Paço de Arcos, terra de antigos nobres, há um balão extra de asfalto com utilidades várias. Estacionar de noite para namoros à beira-mar, de dia para se alcandorar nos muros e através da pesca à cana esquecer um pouco a loucura do mundo - que ali mesmo ao lado enfuna os condenados em carros de andar que não andam - e ... permite ainda uma inversão de marcha para quem vindo de algures, a algures queira retornar por motivo que seja. Pois bem. A repetida dupla de garbosos, assiste à pescaria, namorados nem vê-los pois faz muito que o sol raiou e ... inversores de marcha por ali, nem os joggers matinais, quiçá um cidadão de Alzheimer afectado possa quebrar a ciência e inverter sim, do nada para o nada, certo porém que não utilizando o asfalto. Uma vez mais o semáforo, ajuda preciosa descoberta pela engenharia rodoviária em década perdida do século passado, uma vez mais o semáforo tem ali o seu pedaço de inutilidade. Que acontece então? A turba de atrasados corre a repetir a cena de quilómetros atrás. Sabe já que não há sangue nem multa, mas o horror de ser apanhado ao telemóvel ou passar o vermelho divino, qual castigo e privação terrena, aconselha a um abrandar até aos três quilómetros por hora. Somando a este arrazoado de inevitabilidades a inteligente poupança de combustível que o portuga inventou, não andando e seguindo mas, ao invés, criando uma recta virtual entre ele e o da frente ao arrancar apenas meio minuto mais tarde, com isso poupando dois cêntimos de gasolina ao fim da semana, ainda que como efeito colateral rebente setenta ou oitenta euros num psiquiatra que o alivie destes males sociais, somando isso, temos que a fila por motivo nenhum na Marginal se estende prazenteira até perto das onze da manhã. Que espere o emprego e a economia, que se aplaquem os nervos indo tomar um café mal se chegue ao local de trabalho.
Passado este nível, aguarda-nos o próximo e seus mistérios, num cenário de autoestrada em forma de A5, culminando, para os mais resistentes e hábeis apenas, o teste da Segunda Circular. Certos de que, com tanto engenheiro, alguns rodoviários até, com tanta autoridade, linda de morrer, fraca no fazer, não é na ausência de básicas soluções que reside o resistente espírito da coisa, mas sim neste adorado ' deixa andar, tipo não fazer o amor nem sair de cima ', que desde os primórdios da lusitanidade constitui para outros povos um mistério, para nós uma satisfação: O poder dizer ' que se foda, qué qu'avemos de fazer? ', sabendo de antemão o que seria, de antemão também o que não será !
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
noticias no trânsito ....
Acabadinho de chegar de longe, entro no carro e faço-me à Segunda Circular, coisa do meu coração que não me falha nunca, entupidinha por onde pode, a mais das vezes sem razão alguma, outras por um daqueles ' toquezitos de raspãozinho ' que provocam abrandamento para a masturbação da ordem, a de ver o parceiro entalado e alvo de um ' tsk tsk ' com este nosso ar saloio, até que por entre lentidões e paragens lá vem um mais distraído e não se coíbe de entrar traseira adentro, à séria, espalhando então sangue e pára-lamas na via, até à punheta mental colectiva. Enquanto espero qual dos programas me irá tocar observar, vou dando tempo à RFM. Noticias das 9 ... e por entre mais do mesmo oiço as últimas sobre os protestos dos estudantes ( porque será que neste País apenas se protesta inteligentemente enquanto se estuda, passando na fase mais adulta ao carneirismo redutor e militante, de partidos e igrejas que fazem de cérebro ao qual apenas juntamos água ? )... Debate-se a questão das faltas justificadas, injustificadas, que ao critério dos estabelecimentos de ensino dão direito a um género de teste obrigatório para aquilatar das perdas ( mas o que se perde neste País faltando à escola se nela tão pouco se aprende ? ) verificadas no tempo de ausência. E fico a saber que nalguns casos tanto dá haver justificação como não, se foi para a ganza, para a queca atrás do ginásio ou por morte da avózinha tanto dá ( pobre avó falecida entalada e enlatada na mesma embalagem de marginalidadezinhas de adolescente ), mais, fico a saber também que atletas de alta competição, daqueles que dão o litro e as madrugadas, mais o corpinho e o que tiverem, daqueles que quando ganham têm os senhorzinhos engenheiros de qualquer coisa do governo que dê para mamar viagens, mordomias e alguns votos ( porque não ?? ) ao lado deles a bajulá-los, mas que quando falham levam com o odioso deste povo que só gosta de ver ganhar o palhaço que lhe faz companhia ao espelho enquanto se barbeia ou maquilha, os atletas de alta competição dizia ... levam com a mesma bitola. Se têm de treinar ao vento e chuva, no desprezo de um público que só gosta mesmo é de bola, penalties roubados a esmo e com café com leite à mistura, isso não interessa. Faltaram a três aulas de ciências, estudo acompanhado ou lá o que seja ? Teste de avaliação com eles! Quem arca com este trabalho extra ? Os professores claro, a classe que mais pode incomodar este País a seguir aos camionistas mas que mesmo assim consegue ser tratada abaixo de cão, vadio incluído. Alguém que não deu para perceber, por entre o enjôo do pára arranca e o enjôo de perceber que estamos iguais ao povo que fugiu com o Rei atrás do beija - mão e mordomias de volta e que éramos nós mas vestidos à época, ao povo que funciona na perfeição se tiver à mão a quem sacanear, trapacear, bajular e o cú beijar, alguém dizia eu, pediu esclarecimentos ao Ministério acerca da especificidade ou não na aplicação desta norma de pôrra nenhuma / efeito zero - não esqueçamos que se batalha para a progressão automática até ao 9º ano, como se até lá não se evidenciasse a imbecilidade de uns e preguiça de outros - aos tais atletas inseridos no programa de alta competição. Pedida então alguma luz há quatro meses e até à data, nicles batatóide de resposta, o que é lógico, estão entalados por lá, entre a tanga de fingir que se preocupam e têm ideias e a de agradar ao paizinho engenheiro mor no degrau hierárquico acima. A resposta só deverá aparecer lá para vésperas de 2012, ano das Olimpíadas de Londres e onde fará figura surgir como apostador nas virtudes e esforço de quem nessa altura aparentar algo perto do ' citius, altius, fortius ' que prometa medalha. Nessa altura então, dispensar-se-ão os ditos, aplicar-se-lhes-á uma excepção. Tarde de mais ? Claro que não. Somos povo com gente de valor, como pôrra não seríamos se somos alguns milhões ? Talvez venha até medalha, abraço e sorriso de idiota para a fotografia. O que não virá de certeza, é pensarmos um dia em governar respeitando, planeando, organizando, viver com principios, valorizando quem se destaca por mérito e não bajulando e invejando engenheiros de pacotilha que já conseguiram o seu BMW. Porque, não dormindo Deus ... lhes deu a Segunda Circular para se estreparem e serem gáudio para a maralha!
Cheguei à Marginal, começou o trânsito a fluir, mudei para um CD e ... mereci aquele restinho de viagem, janela aberta, música, paisagem e vento bom a restaurar-me do noticiário. Tão simples, tão banal, tão portuga, tão na mesma. Assim ao jeito de julgamentos de anos a fio, sem culpados que não as vítimas. De serem portuguesas !
Cheguei à Marginal, começou o trânsito a fluir, mudei para um CD e ... mereci aquele restinho de viagem, janela aberta, música, paisagem e vento bom a restaurar-me do noticiário. Tão simples, tão banal, tão portuga, tão na mesma. Assim ao jeito de julgamentos de anos a fio, sem culpados que não as vítimas. De serem portuguesas !
sábado, 8 de novembro de 2008
ilha....
Ia o mar, ia e vinha, por entre o sol e a noite, num mundo de estrelas e ventos fortes, fracos de quando em quando, mas ventos de vida e marés que sabiam encher e vazar, ia o mar, vinha também, como os dias, que sem licença entravam em vez, a sua, num calendário de coisas tantas, momentos seguidos e seguidos em forma de horas e dias ! De novo, pouco via Manel, que não a certeza da correnteza, que arrastava sem fulgor uns, levava mortos outros, mostrava e escondia um ror de quietos alegres, viajantes do acaso, brincalhões de vagas ideias, vagalhões de brincadas teias. De velho, o do costume, a eterna novidade de as não haver, a sabida vontade de escapar ao marasmo de mares que não vão, marés que não enchem, de céus que não escurecem em estrelas secretas na luz do dia. Nadava Manel em vida afora, sem queixume ou arrelia, em lume que querendo ardia, em vida que querer sabia. E um dia, um simples dia, em simples Maria, lindíssima Maria, feita ilha de terra em mar, num verde de alma e olhos parou. Parou o mar e a vida e o momento, parou Manel, de espanto e esperança, num ruído de batidas de coração que lhe matava a descrença. E correu ... sonhou, voou e nadou o caminho, de ilhas de bocados imaginados. E entendeu a cor do mar!
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
meu deus como é bom morar ...
... por ali, naquela cor, naquela gente... que me faz saltar e gritar ... contar, vindo do céu ! Por entre um olhar parado e um olhar que não pára mais!
terça-feira, 21 de outubro de 2008
underware .. ou um post do além !
Tudo corria como Deus queria, aparentemente assim era, de acordo com os trâmites, cânones e outros trejeitos naquele tipo de cerimónia. A manhã apresentava-se até com um quente inesperado para a altura do ano, mês de Outubro que corria. O cenário, de gentes com pouca cor, pretos e brancos eram o que mais se via, apenas se via arriscaria até. Os ciprestes, árvore que pela dificuldade na sua pronúncia fôra atirada para jardins de calma muita e movimento pouco, arrastavam-se em seus equilibrios de coisa alta em vento de choros. As paramentas do orador estavam de acordo com o estipulado, as escritas lidas eram as indicadas para o efeito, partida de pessoa, despedida geral, encomenda da alma ao criador. Chorara a viuva, trocados abraços, beijos sem sabor, memórias e outras histórias, com a chorosa mulher, seus entes mais queridos e chegados também. Nem os cigarros e piadas soltas, por entre desatenções da turba haviam faltado. Tudo corria como Deus queria pois então. Manuel, o ido, preparado, despedido do dia e seguintes, Manuel, o vestido por outrém por incapacidades próprias, em dia de não escolher nem barbear, tampouco jantar ou palpitar, Manuel homenageado pois então, lamentado em seu azar e prematura partida, por mais que para lá de setenta e muitos contasse, Manuel não deixava de sentir um pequeno nada fora do tom, assim como se que descuidada borra em pintura escura, pequeno pequenino nada que nem agora em seus poderes de investido fantasma, servo de Deus em terra dos homens, nem agora conseguia descortinar. Estavam as carpideiras, estavam sim, rezas e choras, gritadas com irrepreensíveis e arrastados ai's, os amigos por ali também, presentes os dignitários que dos e pelos desconhecidos entregavam em representado desinteresse o adeus final da comunidade que o tivera e guardara! Quisera o céu escurecer um pouco até naquele momento de caras a olhar para o lado por entre desassobios da alma, em que à terra o haviam devolvido, como se a terra o pedisse de volta, pois então! Manuel tudo abençoava em seu perfeito desenrolar. Apenas uma brisa, aquela brisa quente e de aromas húmidos, lhe estava dificil de encaixar em cerimónia que não abençoava de pé e que no entanto pedia meças a batizados, crismas, casórios e outras que tais por onde espalhara tardes e horas mortas. Manuel, finda a coisa e despachado de lugares onde opinar lhe dizia respeito, fechou por fim os olhos já fechados, resmungou um último senão ao pormenor que o deixara intrigado e morreu de vez!
Maria, insigne representante de coisa de maior ou menor interesse, deu-se por feliz ao ver acabada a jornada por luto alheio e gozado o regresso a vida sua, casa também. Atirou o vestido ao chão e deu ao corpo o duche pedido. Surpreendeu-se com a imagem de pouca roupa espalhada no chão, e perguntava-se enquanto se ensaboava por que raio não usara roupa interior naquele dia. Mais que desassossegar a alma alheia, deixara a sua em polvorosa. De onde partira, por onde germinara bizzara ideia aquela ? Púdica e respeitadora, tivera dia de tesão mor e oração não escutada. Corada, acabou o duche pensando em Manuel. Bendito fosse! E bendito foi .. Manuel !
Maria, insigne representante de coisa de maior ou menor interesse, deu-se por feliz ao ver acabada a jornada por luto alheio e gozado o regresso a vida sua, casa também. Atirou o vestido ao chão e deu ao corpo o duche pedido. Surpreendeu-se com a imagem de pouca roupa espalhada no chão, e perguntava-se enquanto se ensaboava por que raio não usara roupa interior naquele dia. Mais que desassossegar a alma alheia, deixara a sua em polvorosa. De onde partira, por onde germinara bizzara ideia aquela ? Púdica e respeitadora, tivera dia de tesão mor e oração não escutada. Corada, acabou o duche pensando em Manuel. Bendito fosse! E bendito foi .. Manuel !
domingo, 26 .. às 15,30 na fábrica braço de prata!
À venda em Lisboa nas Livrarias Bulhosa, Apolo 70 e no El Corte Inglês, em Carcavelos na livraria "Portuguesa, em S. Pedro do Estoril na papelaria junto à Estação, em Cascais na Feira do Livro no Stand J. Rodrigues e na Bulhosa do Cascais Vila, em Vila Franca... um pouco por todo o lado, e em todo o país e arredores através do joseceitil@gmail.com
Sejam Felizes
Falando, estando, rindo, ouvindo, perguntando, bebendo café & fumando ( não obrigatório! ).. à volta do Zé Ceitil e seu ensaio ' Sejam Felizes '.
Li, gostei, concordei e não, mas fundamentalmente dispus-me a ler e ouvir um Amigo que tive a sorte de encontrar no meu caminho. Mais velho por acaso, mais sábio por consequência.
Poderemos ser muitos ou poucos. Confesso que tal já me preocupou mais! Serão momentos e uma tarde bons na minha vida. Disso estou certo. Nas vossas também, espero !!
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
fui gente !
Haverá muralha que valha
A esta canalha que malha
A quem calha criar palha
Que doce maralha encalha
Dá dó, apalpar, senti-la
Mole mole de cabeça pouca
Amen à corja, coça a pila
Em porra louca cabeça oca
Como se fosse quem trouxe
Iluminária de juntar água
Deus barato, aconchegou-se
Em caca de vidas sem mágoa
Prá fila, mãos de trabalho
Em dia de frio de agasalho
Na forja sem simples malho
Ninguém mandem para a pila
Porque é feio, não se diz
Talvez por detrás da noite
Porque este dia assim quis
Que quem pense tenha açoite
Mandar-te-ia sim pois então
Dos céus viesse inspiração
Assim escrevesse minha mão
Coisas de querer e pouco não
Na maralha valho
Na canalha malho
Que aqui encalho
Que trabalho ...
Que caralho..
Assim de repente
Bem a quente
Fui gente
A esta canalha que malha
A quem calha criar palha
Que doce maralha encalha
Dá dó, apalpar, senti-la
Mole mole de cabeça pouca
Amen à corja, coça a pila
Em porra louca cabeça oca
Como se fosse quem trouxe
Iluminária de juntar água
Deus barato, aconchegou-se
Em caca de vidas sem mágoa
Prá fila, mãos de trabalho
Em dia de frio de agasalho
Na forja sem simples malho
Ninguém mandem para a pila
Porque é feio, não se diz
Talvez por detrás da noite
Porque este dia assim quis
Que quem pense tenha açoite
Mandar-te-ia sim pois então
Dos céus viesse inspiração
Assim escrevesse minha mão
Coisas de querer e pouco não
Na maralha valho
Na canalha malho
Que aqui encalho
Que trabalho ...
Que caralho..
Assim de repente
Bem a quente
Fui gente
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
em que palavras...
Em que palavras e vazias mentes
Vos esconderam tristes verdades
Em que lugares ou feridas gentes
Ganharam caminho as crueldades
E em dias de vontades dementes
De irrealizáveis e fracas caridades
Disputadas por todos os crentes
Em altares e deuses de vaidades
Era pois dantes e valia o verbo
E coisas assim de dentro e alma
Onde se era rei sem ser soberbo
Voavam pássaros em vida calma
Eram frias as noites, tal o medo
Das estrelas longinquas com luz
Sabia pois pai homem seu credo
De pústulas idas e vidas em pus
Porque morria assim o deus homem
Porque assim queria o homem deus
E escuros eram os céus sem vento
E repetido o sol em tanta oração
Vãs tais mãos que assim se tomem
Em véus que voam em bocados teus
E na verdade existisse o momento
De falha vida, de caminho sem mão
Vos esconderam tristes verdades
Em que lugares ou feridas gentes
Ganharam caminho as crueldades
E em dias de vontades dementes
De irrealizáveis e fracas caridades
Disputadas por todos os crentes
Em altares e deuses de vaidades
Era pois dantes e valia o verbo
E coisas assim de dentro e alma
Onde se era rei sem ser soberbo
Voavam pássaros em vida calma
Eram frias as noites, tal o medo
Das estrelas longinquas com luz
Sabia pois pai homem seu credo
De pústulas idas e vidas em pus
Porque morria assim o deus homem
Porque assim queria o homem deus
E escuros eram os céus sem vento
E repetido o sol em tanta oração
Vãs tais mãos que assim se tomem
Em véus que voam em bocados teus
E na verdade existisse o momento
De falha vida, de caminho sem mão
terça-feira, 7 de outubro de 2008
de última hora ...
... novas, são novas, como apregoavam os trazedores de novas da guerra ! A Islãndia faliu!! E agora ? Agora, devolve as casinhas verdes e hotéis encarnados que detinha, entrega as notinhas ao banqueiro e retira-se do jogo! Se por lá houver mutantes reais, tipo pessoas ... aí a coisa complica-se. Até porque, e como consta dos manuais de história de psicologia, bem como do Vidasimples Pensamentos Elevados .... são dados a partidas súbitas, rápidas e antes do tempo!
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
de repente ...
De repente parece que roubaram o dinheiro todo do mundo. Quer dizer, ou roubaram ou fugiram com ele. Ou melhor, que se calhar, tanto isto e aquilo, mais que se investe neste e naquele papel, quem diz papel diz fundos, ou acções, diz stocks, de isto e de aquilo, talvez este e aquele plano, qualquer coisa camano, que de milhões faça biliões, triliões, talvez ziliões, tudo que acabe em ' ões ' e para quem tenha colhestículos. Um dia acordaram, e a casa estava que nem em dia de ressaca de selvagem 'rave' ... nada no lugar, pior que nada no lugar, alguém fizera desaparecer os ' zinquiliões ' de tanta cagança abastada. De fininho sairam os convidados anónimos, meteram o BM na garagem e a viola no saco. Os ricos, quer dizer, os ricos de ideias da banha da cobra, aprenderam a assobiar para o ar. A onda, melhor o tsunami, apontou à rocha. O mexilhão, o sempiterno mexilhão, viu arrepanharem-se-lhe os colhões, única coisa que tinha com aquela terminação, e soube que vinha dose de amor, foda em linguagem brejeira! Os pobres, os eternos pobres que ao Estado Constantino, guardador de vacas, sonhos e poupanças entregam suas crenças e haveres, até nem se importam que o ladrão ajude o ladrão roubado. Do todo o dinheiro do mundo que alguém roubou.
Robin dos Bosques coçou a cabeça ... confuso. Coçou também as bolas que acabam em ' ões ' ... zangado! Nós, bem nós amanhã cruzamo-nos com um qualquer engenheiro e reverencialmente damos os ' bons dias Doutor!'. O resto, bem o resto que se traduza em amor feito ... e que quem roubou o dinheiro confesse, já que quem roubou a vontade de se ser gente ... deve ter fugido para longe mesmo!
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
cristo & três post-scriptum !!!
Militar na reserva condenado, com a pena de prisão efectiva suspensa porque a Lei prevê isto e aquilo, depois de ter violado a sobrinha neta, hoje coitada pessoa de destino nenhum, livros escolares esgotados e não distribuídos com quase um mês de escola decorrido, nazizecos com penas de sete anos e mais por posse de arma e incitamento à xenofobia, enquanto canalha que arromba, massacra, numa violência do ' vai tudo em frente ' fica sem preventiva porque a Lei assim o prevê também, ou porque são novos de mais, ou muitos ou isto ou aquilo, um juiz ali ao sitio de Viseu que, mesmo sabendo da tutoria legal de uma mãe belga que viu o marido fugir com as filhas para um País estranho ( dasssss, estranho mesmo !!!) onde as obrigou a mendigar nas ruas, não a deixa voltar a casa com elas sem autorização do pai .... que as raptou, um povo que se entretem num Benfica-Sporting de sobe e desce de gasolinas e que num dia de protesto não protesta porque ... não vale a pena, como se valesse de facto a pena, falar, pensar e respirar, um país que dá audiências a um programa onde por meia dúzia de patacas se abre o jogo às mais sórdidas e idiotas peripécias de zés ninguéns em busca do dinheiro do diabo, masturbando-se em repetições assombrosas de condenação nas mesas de café, num sitio feito país onde andamos há já um bom par de anitos a tentar perceber em que centenário número de sessão de julgamento se perdeu a vergonha de ter vergonha do abandono dos meninos da Casa Pia, onde comentamos e aplaudimos a celeridade dos espanhóis que nessa matéria cortaram a eito e lutam à séria para arrecadar predadores das criancinhas que andam na net, que são as de todos nós aliás ... num País assim ... estou tentado a ceder a dúvidas ecuménicas, pedir a Cristo desculpas por tantas vezes o excluir das minhas crenças e ... qual arrependido sem vergonha meter desde já uma cunha. Quando voltares Jesus, quando voltares, passa por favor por aqui. Não para que escolhas viver em Portugal por cruz tua, não para entregares a vida inteira .. mas para dares uma mãozinha apenas !
PS: Oiço o Telejornal e fico a saber que afinal a mãe pode levar as filhas. Cristo, Jesus meu amigo, não te sabia tão célere!
PS II: O Tribunal que suspendeu a pena do rapazinho que abre este post teve em conta o facto de não haver antecedentes criminais. Bonito, à primeira, mesmo violando uma sobrinha neta, os rapazes juízes dão um desconto. Ahhh ... e vai pagar dez mil euros à vítima ? Dez mil ? Por uma cabeça despedaçada, uma vida de esperança acabada ? Foda-se, acabou o stress da inflacção neste canto de Cucos ... a vida veio para preços de saldo !
PS III: Desculpem os ' foda-se' ... não sendo virgem na antecedência da coisa, sempre é melhor que ' caralho', para onde julguei ser lógico mandar certas coisas !!
PS: Oiço o Telejornal e fico a saber que afinal a mãe pode levar as filhas. Cristo, Jesus meu amigo, não te sabia tão célere!
PS II: O Tribunal que suspendeu a pena do rapazinho que abre este post teve em conta o facto de não haver antecedentes criminais. Bonito, à primeira, mesmo violando uma sobrinha neta, os rapazes juízes dão um desconto. Ahhh ... e vai pagar dez mil euros à vítima ? Dez mil ? Por uma cabeça despedaçada, uma vida de esperança acabada ? Foda-se, acabou o stress da inflacção neste canto de Cucos ... a vida veio para preços de saldo !
PS III: Desculpem os ' foda-se' ... não sendo virgem na antecedência da coisa, sempre é melhor que ' caralho', para onde julguei ser lógico mandar certas coisas !!
domingo, 28 de setembro de 2008
colva em braço de prata ...
... e não só!
Fomos vinte, podíamos ter sido mais, muitos mais. Mas fomos vinte! Que fomos de Colva a um Portugal em Calções, passeámos por entre personagens, reais e surreais, jornais do antigamente e outros do presente e seu futuro, escutámos daqui e dali, perguntas e mais perguntas, com a resposta calma, pausada e autêntica na voz do Afonso que falou como escreve. De frente.
E ligou de longe, muito longe, de Colva segundo soubémos, o Michael do romance. E esteve sentado o José Manuel, o repetido José Manuel da José Manuel Mesquita & Associados. E estivémos todos também.
Sorte a de quem esteve. Entre amigos de ler e escrever, entre amigos do momento. Do mesmo tipo de momentos que fazem parte da receita da vida. Bons ... neste caso.
Obrigado pessoal.
Obrigado Afonso!!
Fomos vinte, podíamos ter sido mais, muitos mais. Mas fomos vinte! Que fomos de Colva a um Portugal em Calções, passeámos por entre personagens, reais e surreais, jornais do antigamente e outros do presente e seu futuro, escutámos daqui e dali, perguntas e mais perguntas, com a resposta calma, pausada e autêntica na voz do Afonso que falou como escreve. De frente.
E ligou de longe, muito longe, de Colva segundo soubémos, o Michael do romance. E esteve sentado o José Manuel, o repetido José Manuel da José Manuel Mesquita & Associados. E estivémos todos também.
Sorte a de quem esteve. Entre amigos de ler e escrever, entre amigos do momento. Do mesmo tipo de momentos que fazem parte da receita da vida. Bons ... neste caso.
Obrigado pessoal.
Obrigado Afonso!!
sábado, 27 de setembro de 2008
distracções, parvoíces mesmo e doces dedos no cú!
É intrínseco, está-nos na massa do sangue, é coisa anterior à génese da portucalidade em tempos do Sr. Henriques, Afonso de primeiro nome, já dizam os romanos .. ' não se governam nem se deixam governar '.. numa antevisão ao nosso actual .. ' não fodemos nem saímos de cima ! '. O pessoal ' tasse a cagar ', desde que possa debitar reclamos à mesa da refeição, na bicha para um qualquer balcão, em sitio qualquer onde haja uma alminha a ouvir-nos e a assentir em idiotas meneios de cabeça, sim's de manada, chamemos-lhes assim. Trinta e quatro anos depois da revolução, e por muito relativa que seja a noção de muito ou pouco tempo, trinta e quatro anos já são qualquer coisinha, neste tempo todo não ganhámos um pingo que fosse de dignidade enquanto povo inteiro, a malta não quer saber, não se enxerga desde que possa alardear alarvidades, intelectuais claro, em sitios todos, com um imbecil por plateia pelo menos.
Somos contra o aborto ( desde que o possamos fazer de surra e em segurança ) porque ... a Igreja assim o diz, somos a favor do aborto ( num género de fartar vilanagem ) porque ... a esquerda e suas liberdades assim o recomendam. Pensamos a sério na coisa, suas raízes e/ou soluções? Nahhhh! Mantemos esta eterna entrega ao Benfica-Sporting da política, por entre duas forças partidárias que souberam ocupar o sofá e ir empurrando a razão das ideias para lado nenhum. Alternativas ? Uns que repetem a mesma lenga lenga de há anos e anos e anos atrás, como se não tivessem caído muros da vergonha, como se ainda brincássemos ao salto à corda e sem Playstations. Outros que defendem tudo o que mexe e cheira a minoria, por medíocre que seja essa minoria, por idiota que seja o argumento. É-se contra os de direita, contra os de esquerda, quando 90% da populaça teria de andar com uma pedra na mão para distinguir qual é qual. Não me lembro da última vez que esta nossa gente se indignou contra a total indiferença com que é tratada. Por tudo e todos, gente do governo, da oposição, dos sindicatos, maçonarias e obras de deus. Curiosamente sempre os mesmos, apenas com mudança de cadeira prévia e alegremente combinada. Por gananciosos também . Por preguiçosos ainda! E nós ? Nós ... pois !
Casa Pia? Melancia? Felgueiras e Isaltino? Futebol de putaria? Assaltos, assaltos e companhia? Partos em ambulâncias e urgências fechadas porque o Doutor está doente? As notinhas de Matemática que sobem na medida da Tabuada perguntada que desce, alguma coisa indigna esta gente ? Nãozinho mesmo.
Todos somos contra o lixo, que se incinere ou co-incinere, ou anti-incinere se tal existir. Ao pé de nós? Vai de metro Satanás. Somos contra ... mas a favor lá longe! Reciclar? Sim, quem sabe, talvez. Lixo apenas, no entanto, nunca ideias, nunca mentalidades, nunca partidozinho a votar, nunca nada pelo amor de deus, nada que nos faça pensar quem somos ou o que queremos.
Tudo isto porquê? Por nada. Passei por acaso num posto da BP a caminho de casa. Logo hoje, dia em que a DECO, a tal associação que tanto faz e para nada serve... logo hoje que ela nos alertara e incitara para uma reacção popular. Ainda que de efeitos práticos pouco fatais para o monstrozinho das gananciosas petrolíferas e seu aliado Estado arrebatador de impostos por ali ... ainda assim valia a pena tentar alertar essa canalha que o Povo já começa a estar farto e seria capaz de reagir. De trocar a lengalenga que abre e fecha telejornais há meses, numa conversa fiada de que o barril sobe e a gasolina também , o barril desce e ela não ... e mais isto e mais aquilo, sem se dar conta de que entre mortos e feridos, já mamou o polvo umas toneladas boas para a sua engorda, que dê para chulos e todos os quejandos. No entretanto os do costume engordam, sempre os mesmos, Estado incluído, o mexilhão, o eterno fodido quando o mar bate na rocha, cansado da mesma conversa de merda em bichas e balcões, desesperado porque já ninguém liga à sua douta teoria de como tudo resolver, o cidadão tinha ali oportunidade de, sem grande trabalho, dar um ar da sua graça, dedo no ar, sinónimo de existência. Passei no posto da BP, dizia e que vi eu? As seis bombas, SEIS, todas ocupadinhas a abastecer. Tirando o caso improvável de um deles estar a fazê-lo porque a avózinha, recuperada do coma, vira rebentar-lhe as águas e ia parir, tirando esse caso ... todos os outros se esqueceram ou não tomaram conhecimento de que era dia de se ser, de se dizer qualquer coisa ' àqueles cabrões ', como sói dizer-se e ouvir-se na vox populi. Calhando estavam distraídos, calhando eram parvos mesmo, quiçá já não os incomoda o doce dedo no cú que politiqueiros e patos bravos lhes metem diáriamente por entre palavras de entretém.
Mais logo há Benfica - Sporting e isso é que conta. Tá bem que é fodida a hora, é à noitinha, não dá para levar os putos, nem gente de familia que aquilo deve dar porrada e mais isto e aquilo, até isso nos tiraram, mas fazer o quê? Os Oliveirinhas assim querem, há que meter audiências e publicidades, vender sopas e sabão no intervalo televisivo. Vamos reclamar ? Não ... e para quê, assim há mais espaço ... num jogo que dantes metia 100 000 se necessário fosse, hoje menos de metade e já gozamos, fica em privado, que nas horas das coisas mandam eles. Nas horas e em tudo.
Nós.... bem seguimos distraídos, na melhor das hipóteses. Ou então somos parvos, ou gostamnos mesmo é de apêndices no cú. Doces claro. Como as palavras que nos embalam!
Somos contra o aborto ( desde que o possamos fazer de surra e em segurança ) porque ... a Igreja assim o diz, somos a favor do aborto ( num género de fartar vilanagem ) porque ... a esquerda e suas liberdades assim o recomendam. Pensamos a sério na coisa, suas raízes e/ou soluções? Nahhhh! Mantemos esta eterna entrega ao Benfica-Sporting da política, por entre duas forças partidárias que souberam ocupar o sofá e ir empurrando a razão das ideias para lado nenhum. Alternativas ? Uns que repetem a mesma lenga lenga de há anos e anos e anos atrás, como se não tivessem caído muros da vergonha, como se ainda brincássemos ao salto à corda e sem Playstations. Outros que defendem tudo o que mexe e cheira a minoria, por medíocre que seja essa minoria, por idiota que seja o argumento. É-se contra os de direita, contra os de esquerda, quando 90% da populaça teria de andar com uma pedra na mão para distinguir qual é qual. Não me lembro da última vez que esta nossa gente se indignou contra a total indiferença com que é tratada. Por tudo e todos, gente do governo, da oposição, dos sindicatos, maçonarias e obras de deus. Curiosamente sempre os mesmos, apenas com mudança de cadeira prévia e alegremente combinada. Por gananciosos também . Por preguiçosos ainda! E nós ? Nós ... pois !
Casa Pia? Melancia? Felgueiras e Isaltino? Futebol de putaria? Assaltos, assaltos e companhia? Partos em ambulâncias e urgências fechadas porque o Doutor está doente? As notinhas de Matemática que sobem na medida da Tabuada perguntada que desce, alguma coisa indigna esta gente ? Nãozinho mesmo.
Todos somos contra o lixo, que se incinere ou co-incinere, ou anti-incinere se tal existir. Ao pé de nós? Vai de metro Satanás. Somos contra ... mas a favor lá longe! Reciclar? Sim, quem sabe, talvez. Lixo apenas, no entanto, nunca ideias, nunca mentalidades, nunca partidozinho a votar, nunca nada pelo amor de deus, nada que nos faça pensar quem somos ou o que queremos.
Tudo isto porquê? Por nada. Passei por acaso num posto da BP a caminho de casa. Logo hoje, dia em que a DECO, a tal associação que tanto faz e para nada serve... logo hoje que ela nos alertara e incitara para uma reacção popular. Ainda que de efeitos práticos pouco fatais para o monstrozinho das gananciosas petrolíferas e seu aliado Estado arrebatador de impostos por ali ... ainda assim valia a pena tentar alertar essa canalha que o Povo já começa a estar farto e seria capaz de reagir. De trocar a lengalenga que abre e fecha telejornais há meses, numa conversa fiada de que o barril sobe e a gasolina também , o barril desce e ela não ... e mais isto e mais aquilo, sem se dar conta de que entre mortos e feridos, já mamou o polvo umas toneladas boas para a sua engorda, que dê para chulos e todos os quejandos. No entretanto os do costume engordam, sempre os mesmos, Estado incluído, o mexilhão, o eterno fodido quando o mar bate na rocha, cansado da mesma conversa de merda em bichas e balcões, desesperado porque já ninguém liga à sua douta teoria de como tudo resolver, o cidadão tinha ali oportunidade de, sem grande trabalho, dar um ar da sua graça, dedo no ar, sinónimo de existência. Passei no posto da BP, dizia e que vi eu? As seis bombas, SEIS, todas ocupadinhas a abastecer. Tirando o caso improvável de um deles estar a fazê-lo porque a avózinha, recuperada do coma, vira rebentar-lhe as águas e ia parir, tirando esse caso ... todos os outros se esqueceram ou não tomaram conhecimento de que era dia de se ser, de se dizer qualquer coisa ' àqueles cabrões ', como sói dizer-se e ouvir-se na vox populi. Calhando estavam distraídos, calhando eram parvos mesmo, quiçá já não os incomoda o doce dedo no cú que politiqueiros e patos bravos lhes metem diáriamente por entre palavras de entretém.
Mais logo há Benfica - Sporting e isso é que conta. Tá bem que é fodida a hora, é à noitinha, não dá para levar os putos, nem gente de familia que aquilo deve dar porrada e mais isto e aquilo, até isso nos tiraram, mas fazer o quê? Os Oliveirinhas assim querem, há que meter audiências e publicidades, vender sopas e sabão no intervalo televisivo. Vamos reclamar ? Não ... e para quê, assim há mais espaço ... num jogo que dantes metia 100 000 se necessário fosse, hoje menos de metade e já gozamos, fica em privado, que nas horas das coisas mandam eles. Nas horas e em tudo.
Nós.... bem seguimos distraídos, na melhor das hipóteses. Ou então somos parvos, ou gostamnos mesmo é de apêndices no cú. Doces claro. Como as palavras que nos embalam!
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
surdezes e bigodes alarves!
Cai o vermelho e páro no semáforo. Na ocupação da espera olho em frente para o trânsito que iria fluir na minha perpendicular. Iria .. digo bem. Um velho Renault Super 5, velho de vinte anos ou mais, queda-se imóvel no primeirinho lugar da fila que deveria arrancar, ao volante faz-lhe jus em antiguidade ultrapassada a condutora, senhora de setentas e muitos ou mais, palpitando por baixo para não errar por largo. Por detrás dos seus óculos debate-se certamente sobre a cor que emana do poste iluminado e seu significado, hesita por entre lembrar-se como mover o veículo ou talvez quem era e o que fazia ela por ali. Atrás, bem atrás de si, Mercedes creme, modelo de finais do século passado, condutor, ou melhor motorista, de bigode, ar impaciente e incrédulo, buzina na mão, mão na buzina, esquecendo por certo o quanto agride a natureza e irrita o mundo pelo simples facto de existir com aquele arzinho e feitio de idiota encartado. A senhora, a idosa personagem que naquele momento barra o avanço e impede o progresso do mundinho do cavalheiro de unha avantajada, permanece e evolui na continuidade das suas dúvidas, sobre o que fará ela por ali, responsável pelo fluir do trânsito e no entanto sem a colaboração do veículo que a não compreende. A surdez e total alheamento permitem-lhe passar ao lado dos cada vez mais ajavardados e gesticulados modos do 'homem de neanderthal' que a buzinadelas pretende despoletar a física do movimento alheio. Debalde!
Cai o verde e tenho de arrancar, nunca tanto desejei o prolongamento de um sinal encarnado, ' arranca pai ' grita-me o Kuka, arranco pois, não sem pena de deixar para trás aquele momento de Fellini, de surdas antiguidades e ruidosas alarvidades de bigode e marquise em casa certamente. Passo rente ao cenário, envio beijo fantasma à querida surda, vomito mentalmente no banco traseiro do taxista e sigo ao destino, esqueço a parelha.
Amanhã passo por lá de novo, com um pouquinho de sorte ainda estarão por lá ...
Cai o verde e tenho de arrancar, nunca tanto desejei o prolongamento de um sinal encarnado, ' arranca pai ' grita-me o Kuka, arranco pois, não sem pena de deixar para trás aquele momento de Fellini, de surdas antiguidades e ruidosas alarvidades de bigode e marquise em casa certamente. Passo rente ao cenário, envio beijo fantasma à querida surda, vomito mentalmente no banco traseiro do taxista e sigo ao destino, esqueço a parelha.
Amanhã passo por lá de novo, com um pouquinho de sorte ainda estarão por lá ...
monólogo ...
- Assim como um vento sem força, entendes?
- Não ...
- Como .. como ... se não existisse, não ventasse, sem rumo, vês?
- Pois, quer dizer, talvez sim . Um vento de ninguém ?
- Não, não estás a ver, um vento de toda a gente, assim .. parado, suspenso .. sei lá, um vento que não vai ...
- Um vento de gente parada?
- Ou de gente sem vento se calhar... que não dança ... é isso, gente que não dança.. entendes ?
- Talvez, acho que sim. Deveria não é ?
- Não ...
- Como .. como ... se não existisse, não ventasse, sem rumo, vês?
- Pois, quer dizer, talvez sim . Um vento de ninguém ?
- Não, não estás a ver, um vento de toda a gente, assim .. parado, suspenso .. sei lá, um vento que não vai ...
- Um vento de gente parada?
- Ou de gente sem vento se calhar... que não dança ... é isso, gente que não dança.. entendes ?
- Talvez, acho que sim. Deveria não é ?
sábado, 13 de setembro de 2008
arguida maria ...
Três semanas, malditos vinte e tal dias de tanto calcorrear, tanta berma de inferno, campos de ninguém, sitios de dormir e necessidades outras que o corpo, gasto e velho de rugas sem fim, não prescindia de se aliviar, raio de corpo dum cabrão, nem mal alimentado, fracamente servido, se coibia de a obrigar a cócoras que, mais que vergonhas de merda, a atormentavam na hora do retorno à posição de gente vertical, vertical sim, em idos de infância e postura também, fôra ela Maria mulher de bem, de honra e sagrados principios e para quê? .. não houvera um dia, unzinho sequer, em que o Senhor, louvado, rezado e oferendado, se lhe mostrasse, se já não em sóis de inverno e de parar dilúvios, ao menos em comida na mesa e gente que bem lhe quisesse. Pés encurralados numa gastura e dor que à alma se lhe comparava, chegara a Lisboa, essa tal tão vista em interferidos pretos e brancos de televisor de solteira, nunca houvera dinheiro para a troca, ele havia o vinho, quiçá as putas do marido também, Manel de nome que outro poderia ser? .. homem triste de tão igual que era à trampa que se lhe seguira, filho vadio que as côdeas lhe disputava, pois que em parques de estacionar carros não há restauração estúpida mãe ! ... Três semanas pois, chegada à grande luz e sonho de aldeias que vira partir, puxou do bolso o mapa rabiscado por insigne membro da junta de freguesia lá da terra, se alguém sabia de politica era o homem, comunista e sabedor desde os tempos da primeira dentição, vá por aqui ti Maria, vai lá dar, às cadeiras do poder, mas veja lá mulher, olhe que nem a ouvem. Ai iriam ouvir sim, tão logo entendesse emaranhado de tanto poste com luzes às cores, e os carros, tantos dum cabrão, seria velório ou dia de bola, mas de onde brotaria tanto emaranhado de olhar chanfrado, mãos na buzina, pressa de morrer? ... Assim lá na terra, nem em dia de procissão e louvaminhas ao padroeiro das mulheres castas, porra que achava que nem no estrangeiro, vislumbrado em antena de televisão espanhola, espectáculo destes havia visto ela Maria.
Suada de ponta a eito, por entre peitos idos e descaidos, partes de vergonha e perna abaixo também, com cheiro que nem sabia de gente, chegou mais velha do que alguma vez se soubera, indagou à autoridade se confirmava ser ali, ali a casa dos doutores, engenheiros senhores em quem tanto ano acreditara, assentira em olhares e trejeitos de cabeça, tanta promesa escutara, beijos recebera, até à agonia final daquele ano, casa esventrada por drogaditos sem pudor, três vezes, sempre os mesmos, já nem para roubar senão espancar e violar, mais as garantidas sovas do marido, que à Guarda em queixas sussurava .. ' pois ti Maria, a gente nada pode ' ... do filho nem queria saber, antes a jorna em tempos de sol quente e fascismo, aos oitenta e três anos queria ainda acreditar, já tentara todas as Nossas Senhoras que sabia, amigos bom seria se houvessem, e afinal por onde andava a gente de Deus que lhe diziam ela ser, ladainha eterna do Padre da terra e do Papa também, diziam, Maria, afinal pessoa de vida de cão e trabalho?
Chegada à escadaria dos insignes, como lêra que se chamava a gente aquela, de verdades faladas, certamente no cú metidas, ali chegada Maria, sacou do testamento de promessas ouvidas, de votos entregues, naquele bocadinho de seres humanos que metera um dia na cabeça ser gente de acreditar, tragou guardado naco de pão, duro que nem cornos mas seu, cozido em forno de herança e mãos de mulher honrada, antes e depois do casório de infortúnio com Manel, bêbedo, velhaco e dançarino, contrariador de ditados enganadores, às entranhas de saia de cigana sacou navalha comprada em rifas de feira, alçou o braço gritando um sentido ' filhos da puta ' e tratou de se esventrar numa entrega de corpo a quem a alma lhe roubara.
Não era dia de sol, de justiça menos ainda, gorada a tentativa por célere agente da autoridade que o caminho zelava por manter longe de reboliços e falatórios, mais ambulância do INEM que por aqueles lados marcava o ponto a horas e prontidão, a S. José foi levada, porra um santo mais, nem os cabrões me largam, salva da morte, melhor da vida, talvez! Ergueu-se o mundo dos cidadãos, alertados por uma parafernália de TV´s ali tão despachadas, que não, espectáculos daqueles ali não ... julgada foi velha Maria, por atentado, dois no caso até, contra a Vida, fosse lá que merda isso fosse, e pela imprecação contra os doutos.
No recobro e sem visitas, acordada de dia que jurava não ter passado, cagou em paz e pela primeira vez Maria. Aliviava-se, repetia benzeduras, jurava não votar de novo, guardava timido e corado agradecimento aos insignes: nunca assim em sossego pudera cagar!!
terça-feira, 9 de setembro de 2008
ali, nos degraus da solidão!
Eram tempos diferentes aqueles, de paz e acalmia, dias sem a angústia do entardecer, de passeio por entre as árvores que abraçavam o horizonte, nos acenavam em suaves vénias, eram dias de seguida vontade, onde tantos minutos contavam, todos os minutos mexiam e sabiam ter significado, os nomes pertenciam-nos, a praia ali quieta, tão quieta, como se se rendesse ao Inverno e suas cores de aconchegada gente que se embrulhava em mantos de sonhos com e sem chuva, lembras-te Avô? Aqueles eram tempos sem cheiro a pólvora e morte, sem rasto de mãos sujas e pobres, de fome arrastada em filas de ninguém mais, como era boa a luz que a janela deixava entrar, os pingos que martelavam parapeitos e desenhavam arabescos fugazes, o cheiro a madeira húmida, pão quente e batata doce. Não havia nada que para trás tivesse deixado, correra como correm os loucos atrás daquela meninice em que sabia serem seus os tempos, e não chegara, perto sequer, daqueles amanheceres de dias com cor. Não havia ninguém mais, haviam partido, na viagem louca do medo, no arrasto surreal da escura melodia da guerra, troavam os sons, mortas as batidas das gotas de água. Olhavam-se o velho e a criança, sabiam-se no fim, não há espaço para os fracos quando o homem se acobarda em seus silêncios, vazios de quereres ou palavras. Morreram quietos, abraçados talvez, ali nos degraus da solidão, sem frio nem sonhos mais. Assim os encontraram os regressados ao passado, deixado e abandonado. A guerra acabara, de vez para quem nunca a vira sua ou em seu ser quisera.
sábado, 6 de setembro de 2008
a tertúlia ... está de volta !
... dia 28 de Setembro, Fábrica Braço de Prata, sala Nietzsche, 15 horas, como de costume !
E o convidado é ....
Afonso Joaquim Sampaio e Paiva de Melo é um jornalista e escritor português.
Nasceu em Águeda a 18 de janeiro de 1964. Cursou Direito, mas enveredou pelo jornalismo. Colaborou desde muito cedo na «Soberania do Povo», esteve no «Semanário», passou fugazmente pel’ «O Liberal».
Foi redactor de «O Século»; colaborador eventual de «O Jornal»; colaborador e, mais tarde, redactor de «A Bola», cumprindo as funções de editor da secção internacional e sendo responsável pela concepção e edição de um suplemento chamado «A Bola de Domingo».
Ainda em «A Bola» foi coordenador de «A Bola Magazine». Foi Editor de Redacção de «O Jogo»; colaborador de «O Comércio do Porto» e de «A Capital»; comentador de futebol internacional da «Sport TV» e colunista da revista «Record Dez». Escreveu na revista «Fócus». foi correspondente em Portugal do jornal espanhol «As» e do jornal polaco «Reczespospolita», bem como colaborador das revistas japonesas «Soccer Hiyo» e «Sportiva2». Durante o Campeonato do Mundo de Futebol de 2002, foi colunista do jornal en:Aajkaal, de Calcutá.
Publicou reportagens e artigos de viagens na revista «Vida Mundial», no «Jornal de Letras», no suplemento «Fugas» do jornal «Público» e na revista «Atlântica». Escreveu muitos dos textos da «Grande Enciclopédia dos Europeus de Futebol», do «Diário de Notícias», tendo também contribuído para o «Anuário 2005», do mesmo «Diário de Notícias».
Foi durante muitos anos fornecedor de matérias para a «Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira». É correspondente em Portugal da revista francesa «France Football» desde 1995. Fez parte do Gabinete de Imprensa do Euro 2004, como Media Relations Manager, e foi Assessor de Imprensa para a Selecção A de futebol desde Janeiro de 2004 a Julho de 2006, tento estado presente no Euro 2004 e no Campeonato do Mundo de 2006.
Foi membro da Comissão de Honra e da Comissão Política da Candidatura de Manuel Alegre à Presidência da República, sendo um dos responsáveis pelas áreas de Comunicação e Marketing.
Colaborou com a Fundação Luís Figo na área de comunicação.
É Grande Oficial da Ordem do Mérito, Medalha de Ouro da Federação Portuguesa de Futebol, membro honorário da Ordem da Nossa Srª da Conceição de Vila Viçosa e Judeu de Ouro da ANATA, Associação dos Naturais de Águeda. Traduziu livros para diversas editoras.
autor entre outras coisas de :
Portugal em calções : diário de um jornalista no Mundial 2002 (crónicas, Oficina do Livro) 2002
A Lenda de Jorge Bum!, com Ponto de Exclamação (contos, Prime Books) 2003
Guia dos resultados da Selecção Nacional de Futebol 2004
Doping – A Triste Vida do Super-Homem (reportagem, em parceria com Rogério Azevedo, D. Quixote) 2004
Cinco Escudos Azuis – A história da selecção nacional de futebol de 1921 aos nossos dias (D. Quixote, com uma primeira edição de 2004 e reedição actualizada em 2006)
Uma sombra laranja-tigre : em forma de panchatantra (romance) 2005
poema sem maiúsculas na colectânea de poemas inéditos Tantas Mãos, a Mesma Primavera (Oficina do Livro) 2005
Viagem em Redor do Planeta Eusébio (Prime Books) 2005
A Princesa-Que-Tinha-Uma-Luz-Por-Dentro (conto, Oficina do Livro) 2005
Factos, Números e Nomes da Selecção Nacional de Futebol (D. Quixote) 2005
Não Morrerei em Buenos Aires (poemas, D. Quixote) 2006
Todos Tenemos Una Buena História de Futbol (a propósito do Mundial 2006, Cafediario, Barcelona) 2006
A Pátria Fomos Nós (crónicas, Prime Books) 2006
Um Ano na Vida de Luís Figo (foi o responsável pelos textos do livro do fotógrafo Hamish Brown, editado pela Fundação Luís Figo) 2007
Cem anos de Benfica Sporting, Sporting Benfica 2007
Tantas Vezes Tu (romance, Editora Erasmos)
Manuel Quarenta e Maria Quarentena – Dois Personagens à Espera de um Romance (conto na colectânea de contos 40 (D. Quixote)
A Monótona Vida de Uóchinton Maria a Quem Chamavam o Homem-Porco (colectânea de contos portugueses inéditos, Histórias em Língua Portuguesa, Editora Ambar, organizada por Francisco Guedes)
A Morte Tem Sempre Música de Fundo (numa colectânea de textos feitos sobre ilustrações de Pedro Zamith Oficina do Livro)
El Corazón Negro de Portugal
... porque aprendi a conhecer o Afonso através do que escreve e do que ... diz, sei que irão ser duas horas e tal de pura conversa do melhor.....
E o convidado é ....
Afonso Joaquim Sampaio e Paiva de Melo é um jornalista e escritor português.
Nasceu em Águeda a 18 de janeiro de 1964. Cursou Direito, mas enveredou pelo jornalismo. Colaborou desde muito cedo na «Soberania do Povo», esteve no «Semanário», passou fugazmente pel’ «O Liberal».
Foi redactor de «O Século»; colaborador eventual de «O Jornal»; colaborador e, mais tarde, redactor de «A Bola», cumprindo as funções de editor da secção internacional e sendo responsável pela concepção e edição de um suplemento chamado «A Bola de Domingo».
Ainda em «A Bola» foi coordenador de «A Bola Magazine». Foi Editor de Redacção de «O Jogo»; colaborador de «O Comércio do Porto» e de «A Capital»; comentador de futebol internacional da «Sport TV» e colunista da revista «Record Dez». Escreveu na revista «Fócus». foi correspondente em Portugal do jornal espanhol «As» e do jornal polaco «Reczespospolita», bem como colaborador das revistas japonesas «Soccer Hiyo» e «Sportiva2». Durante o Campeonato do Mundo de Futebol de 2002, foi colunista do jornal en:Aajkaal, de Calcutá.
Publicou reportagens e artigos de viagens na revista «Vida Mundial», no «Jornal de Letras», no suplemento «Fugas» do jornal «Público» e na revista «Atlântica». Escreveu muitos dos textos da «Grande Enciclopédia dos Europeus de Futebol», do «Diário de Notícias», tendo também contribuído para o «Anuário 2005», do mesmo «Diário de Notícias».
Foi durante muitos anos fornecedor de matérias para a «Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira». É correspondente em Portugal da revista francesa «France Football» desde 1995. Fez parte do Gabinete de Imprensa do Euro 2004, como Media Relations Manager, e foi Assessor de Imprensa para a Selecção A de futebol desde Janeiro de 2004 a Julho de 2006, tento estado presente no Euro 2004 e no Campeonato do Mundo de 2006.
Foi membro da Comissão de Honra e da Comissão Política da Candidatura de Manuel Alegre à Presidência da República, sendo um dos responsáveis pelas áreas de Comunicação e Marketing.
Colaborou com a Fundação Luís Figo na área de comunicação.
É Grande Oficial da Ordem do Mérito, Medalha de Ouro da Federação Portuguesa de Futebol, membro honorário da Ordem da Nossa Srª da Conceição de Vila Viçosa e Judeu de Ouro da ANATA, Associação dos Naturais de Águeda. Traduziu livros para diversas editoras.
autor entre outras coisas de :
Portugal em calções : diário de um jornalista no Mundial 2002 (crónicas, Oficina do Livro) 2002
A Lenda de Jorge Bum!, com Ponto de Exclamação (contos, Prime Books) 2003
Guia dos resultados da Selecção Nacional de Futebol 2004
Doping – A Triste Vida do Super-Homem (reportagem, em parceria com Rogério Azevedo, D. Quixote) 2004
Cinco Escudos Azuis – A história da selecção nacional de futebol de 1921 aos nossos dias (D. Quixote, com uma primeira edição de 2004 e reedição actualizada em 2006)
Uma sombra laranja-tigre : em forma de panchatantra (romance) 2005
poema sem maiúsculas na colectânea de poemas inéditos Tantas Mãos, a Mesma Primavera (Oficina do Livro) 2005
Viagem em Redor do Planeta Eusébio (Prime Books) 2005
A Princesa-Que-Tinha-Uma-Luz-Por-Dentro (conto, Oficina do Livro) 2005
Factos, Números e Nomes da Selecção Nacional de Futebol (D. Quixote) 2005
Não Morrerei em Buenos Aires (poemas, D. Quixote) 2006
Todos Tenemos Una Buena História de Futbol (a propósito do Mundial 2006, Cafediario, Barcelona) 2006
A Pátria Fomos Nós (crónicas, Prime Books) 2006
Um Ano na Vida de Luís Figo (foi o responsável pelos textos do livro do fotógrafo Hamish Brown, editado pela Fundação Luís Figo) 2007
Cem anos de Benfica Sporting, Sporting Benfica 2007
Tantas Vezes Tu (romance, Editora Erasmos)
Manuel Quarenta e Maria Quarentena – Dois Personagens à Espera de um Romance (conto na colectânea de contos 40 (D. Quixote)
A Monótona Vida de Uóchinton Maria a Quem Chamavam o Homem-Porco (colectânea de contos portugueses inéditos, Histórias em Língua Portuguesa, Editora Ambar, organizada por Francisco Guedes)
A Morte Tem Sempre Música de Fundo (numa colectânea de textos feitos sobre ilustrações de Pedro Zamith Oficina do Livro)
El Corazón Negro de Portugal
... porque aprendi a conhecer o Afonso através do que escreve e do que ... diz, sei que irão ser duas horas e tal de pura conversa do melhor.....
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
sexta-feira, 15 de agosto de 2008
manel, gente ninguém ...
Baloiçava a velha cadeira, o mesmo ranger de sempre e seu som, coisa dos dois, segredo de longe, como se os anos não significassem uma velhice e suas coisas idas, voavam as folhas e suas memórias a preto e branco, de antigos penteados e óculos de grossos aros, coisas do antigamente com cara de gente, desajeitados momentos de aprendizagem em robustos e pesados triciclos, abraços de tanto irmão, risos de esquecidos amigos, bailes e festas com danças de idos e tidos amores, partidas de coisas que acabam, novos caminhos e seus medos, por onde andaria gente aquela e tanta, momentos aqueles de paixão e segurança e crenças em deus menino, rangia a cadeira em seu eterno vaivém, o mesmo lugar, a mesma luz em casa sua, ali sentia o perfume único daquele bocado que tornara seu, como em trama onde não cabia ninguém mais, e agora pedia-lhe a memória viagem aos tempos da lentidão, de palavras que se trocavam, cartas que em angústia se esperavam, velha caixa de correio que tanto desejara, porta de rua e seus caminhos de liberdade gritada, de mundos de pequeno sem guerras que não de abraços, choros de menino a caminho de gente grande, velha e puta memória que o atraiçoava e passeava sem do baloiçar de uma cadeira sair, e as janelas iguais de sempre em pó escondidas de paisagem de vida, e a porta outrora grande agora apenas distante, baloiçava velho, gasto de pele e nome, Manel lembrava e sabia chamar-se, amigos adivinhava para sempre idos e perdidos em sua vida foragidos, e o vento, amado vento de fins de tarde e correrias, feito cumplice em torturas de folhear, chorava Manel velho suas lágrimas secando em ossudas formas de fim de vida, recordava seu primeiro tombo em cadeira aquela, o susto de reprimenda de mãe que não de nódoas negras de fácil esquecimento, lembrava as tardes de calor e sesta, de minutos de lenta vida que adiavam a liberdade anunciada, de um caminho de silêncio e sonhos sós que aprendera a desenhar em harmonia de ninguém mais, chorava ouvindo aquele ranger único, momento de volta de uma vida ao contrário, chorava como criança em memória, colo e cheiro nunca esquecidos.
Começara a chover, sentia pois o momento de voltas e regressos, despedidas e reencontros, levantou-se num desconhecido movimento como se a vida ali se deixasse, naquele ranger mágico que a vida lhe guardara, abriu a porta e saiu, para a intempérie de uma viagem sem volta, atravessou o abandonado quintal sem jogos nem gritarias de tempo pelo tempo, sentou-se no muro, eterno muro de companhia certa, quedo apanhou a chuva e nela se embalou, recordou tarde de loucura e primeiras liberdades na afronta à natureza selvagem do mundo que o esperava, fechou os olhos e morreu. Ali .. onde sempre viveu, morreu Manel, velho e criança de mundo seu !
Na sala, inventada sala de lugar que não existia já, baloiçava perdida Maria, pequena Maria neta de ninguém, embalada por um ranger de melodia, nostálgica de afagos e carinhos de um velho que não queria esquecer.
domingo, 10 de agosto de 2008
vade retro ( ou será vai de metro ?? ) ..cidadania !!
Em 1997, ali à beirinha da Expo, a rede do Metropolitano de Lisboa chegou ao Campo Grande, à mãozinha de semear do aeroporto por onde entrariam algumas dezenas de milhares de passageiros para o evento que mudou Lisboa e orgulhou o País, com este no seu melhor, vertente ajavardada de ultrapassagens e derrapagens de custos e prazos incluída! Mas ... estação do comboio subterrâneo no aeroporto ... tá quieto ó mau ! Entretanto, passados que foram perto de dez anitos, depois de amadurecida decisão de transferir a coisa dos aviões para outro lado, coisinha pensada, repensada, avaliada, estudada bem à Tuga, num vai para aqui ou vem dali, com insignificantes diferençazinhas de apenas alguns milhões largos de euros a serem sacados ao burro e costumeiro cidadão pagante de impostos mas que apenas discute penalties - que nunca chegou a entender ou saber contornos de coisa alguma, mas que interessa lá isso compadre ? - passados que foram esses anos dizia, o Metropolitano chega finalmente ao tal de aeroporto da Portela. Pergunto-me se se esqueceram de enviar fax ou mail aos rapazes, avisando da partida da estrutura para terras de Alcochete. Podiam ter mandado um paquete, de táxi bem se vê, afinal por ali há-os aos milhares, aos trilhares mesmo, coisinha poderosa do tio !!! O aeroporto no entretanto, a avaliar pelas obras ininterruptas lá por dentro, por onde andam e voam baixo os aviões, ou está a fazer as malas para ser encaixotado e transferido aos bocadinhos em contentores e camiões, ou vai expandir-se à rico e à pacóvio, com obra feita em dia de partida, quando em tantos anos e anos passados nadica de muito útil se fez por ali a não ser coser remendo atrás de remendo ...
A malta continua por aqui ... por entre táxis, metros, conversa de penalties e marcha atrás.
Reclamar, sem bençãozinhas de partidos mas à séria é que não ...
A malta continua por aqui ... por entre táxis, metros, conversa de penalties e marcha atrás.
Reclamar, sem bençãozinhas de partidos mas à séria é que não ...
quinta-feira, 7 de agosto de 2008
... à volta do nada !
... para nada ! Há coisas que não chegam a sê-las. Pessoas também. O que não é obrigatóriamente mau, podemos ser nada num momento e lugar e essa condição tornar-nos satisfeitos, pode ser fantástico saber viver sem a eterna preocupação de para tudo termos uma posição, ideia ou ponto de vista alternativo. Essa é aliás uma coisa que quando entendida, não só nos retira grande parte do ' stress ', esta doença dos nossos dias, que acumulamos muitas vezes de um modo evidentemente desnecessário, como nos proporciona momentos de liberdade intelectual, emocional, que poderemos investir em pensamentos à volta de coisas interessantes como ir um pouco dentro de nós, de outros lugares em nós. Normalmente aprendemos isto à medida que avança a idade e pensamos ver reduzido o tempo que nos resta. Sensato. Menos tempo à vista, melhor tempo à mão ! Será?
Vem tudo isto a propósito do blogar, escrever, ler, conhecer ou mostrar um pouco de nós. E, por entre um mundo de conhecidos, temos a sorte de ver entrar outros também, nunca vistos e no entanto há muito esperados. Como em qualquer actividade, a diversidade de coisas novas pode ser do mais saudável, uma autêntica mais valia. Se no somatório de ideias deixadas e reconquistadas algumas provêm de anónima gente, abre-se um desafiante campo de ideias para cá e lá, por entre gente que parou também e ousou pensar. Impossível seria no entanto não encontrar na safra o eterno joio que dá sentido à vida ela mesmo, que faz entender a diferença entre valer a pena ou pedir arremesso para o caixote. Pobres anónimos anónimos que se escondem com nada, em nada, para nada !! Por norma e sorte, arremesso certeiro para longe sem sequer lhe guardar cheiro ou rancor !!
Vem tudo isto a propósito do blogar, escrever, ler, conhecer ou mostrar um pouco de nós. E, por entre um mundo de conhecidos, temos a sorte de ver entrar outros também, nunca vistos e no entanto há muito esperados. Como em qualquer actividade, a diversidade de coisas novas pode ser do mais saudável, uma autêntica mais valia. Se no somatório de ideias deixadas e reconquistadas algumas provêm de anónima gente, abre-se um desafiante campo de ideias para cá e lá, por entre gente que parou também e ousou pensar. Impossível seria no entanto não encontrar na safra o eterno joio que dá sentido à vida ela mesmo, que faz entender a diferença entre valer a pena ou pedir arremesso para o caixote. Pobres anónimos anónimos que se escondem com nada, em nada, para nada !! Por norma e sorte, arremesso certeiro para longe sem sequer lhe guardar cheiro ou rancor !!
quinta-feira, 31 de julho de 2008
manhã de pássaro ....
Manuel, franzino ser e menino, vagueava na costumada manhã, a mesma caminhada de sempre por entre coisas e pessoas que aprendera a tomar como suas, mais chegadas, menos chegadas, sem qualquer chegada até, em vazio sentido ou fraco abraço. A vida não lhe era madrasta, não se sorria porém em momentos muitos, era coisa de não aprofundar, como se tal lhe facultasse disponibilidade para se entreter num crescimento de anatomias simples,fossem fisicas ou se quisessem emocionais. A última vez que se perguntara pelo significado de algo, dera-se mal, a resposta viera repentina em imagens de vazio, aturdindo-o em qualquer vontade de questionar outros porquês. Assim, limitava-se a seu papel de circunstância, fazendo parte do horário de vida de alguns outros, sem sequer cuidar que sentimento lhes atribuir ou dedicar. Naquela manhã no entanto, reservara-lhe o destino, coisa cujo significado se lhe resumia ao dia por ainda vir, a peripécia de lidar com cheiro desconhecido, coisa terrena e ao mesmo tempo do além, tal era de vazios composto o seu mundo de franzino e despercebido menino. Chegado à praia, à de sempre, sua e de mais ninguém em manhãs de chuva de inverno, sentou-se descalço e fechou os olhos, sentindo nas frias e pesadas gotas o abraço da fúria de mundo que o não ignorava, antes lhe entrava pela alma e lhe sacudia seu fundo bem fundo, onde acreditava poder um dia ressuscitar. Saído da letargia de paisagem de solidão onde pertencia, abriu os olhos e tremeu perante a imagem de passarinho ali perdido e deslocado, destemido que até sua mão voou, amigo único que suas lágrimas sentiu, seu coração virgem invadiu sem medos ou cerimónias:
- Ficas comigo ?
Que sim, respondeu, que ficava, com ele e aquele bocado com cheiro de coisa desconhecida, poder mágico de fazer correr água e apertar um pouco de vida que de franzina se tornara em pedaço ao Homem inalcançável, assim vôo levantaram, o pássaro seu amigo e a esperança, de que pássaro se fizesse, tudo em si daria, a vida trocaria por aquele bocado apenas, nem sonhado ou a medo desejado, de ser livre sendo ninguém !
- Ficas comigo ?
Que sim, respondeu, que ficava, com ele e aquele bocado com cheiro de coisa desconhecida, poder mágico de fazer correr água e apertar um pouco de vida que de franzina se tornara em pedaço ao Homem inalcançável, assim vôo levantaram, o pássaro seu amigo e a esperança, de que pássaro se fizesse, tudo em si daria, a vida trocaria por aquele bocado apenas, nem sonhado ou a medo desejado, de ser livre sendo ninguém !
sábado, 19 de julho de 2008
Deusa Mãe
Deusa Mãe e coisa nada
Mulher de altar nenhum
Deusa Mãe, vida parada
Destino de homem algum
Olhas vida, calor e fome
E gente com fome e calor
Vida que a ganância come
Deusa Mãe sem teres amor
Olhar velho numa criança
Velhas rugas sem mudança
Alma fraca e corpos vãos
Juntos sem rezas de mãos
Naquele deserto de vidas
De medos por um Deus Pai
De coisas assim perdidas
Em caminhos por onde vai
Esse pobre e triste homem
Escondido de ti Deusa Mãe
Levado em vidas que somem
Ganância com nome ninguém
Mulher de altar nenhum
Deusa Mãe, vida parada
Destino de homem algum
Olhas vida, calor e fome
E gente com fome e calor
Vida que a ganância come
Deusa Mãe sem teres amor
Olhar velho numa criança
Velhas rugas sem mudança
Alma fraca e corpos vãos
Juntos sem rezas de mãos
Naquele deserto de vidas
De medos por um Deus Pai
De coisas assim perdidas
Em caminhos por onde vai
Esse pobre e triste homem
Escondido de ti Deusa Mãe
Levado em vidas que somem
Ganância com nome ninguém
quarta-feira, 16 de julho de 2008
vida de vento !
vento
de som que dança
em vida e liberdade
tento
olhar a esperança
de ser livre sem idade
e voando no vento
sei pois que tento
olhar-te momento
e na vida me sento
com ventos de alento
em dias de tormento
venta vida, venta dia
a vós guardo mordomia
como quem ama vazia
vida sem gente vadia
de vento sem cobardia
de voar sem nostalgia
sabias vento que quando passas e nada deixas, em ti guardo e vôo por meus dias por ti trazidos ?
de som que dança
em vida e liberdade
tento
olhar a esperança
de ser livre sem idade
e voando no vento
sei pois que tento
olhar-te momento
e na vida me sento
com ventos de alento
em dias de tormento
venta vida, venta dia
a vós guardo mordomia
como quem ama vazia
vida sem gente vadia
de vento sem cobardia
de voar sem nostalgia
sabias vento que quando passas e nada deixas, em ti guardo e vôo por meus dias por ti trazidos ?
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